A produtora de moda Karla Velasco, que produz a área de moda de vários festivais em Mato Grosso do Sul desde 2022 e participou do Brasil Eco Fashion Week em 2023, afirma que, quando a moda se une ao Carnaval, traz todas as narrativas afetivas de brilhos, cores e fantasias.
“Fantasias que foram se transformando durante o passar dos anos e que sempre trazem uma forte história de brasilidade, celebrando, assim, cultura e arte. A moda tem o importante papel de dar a cara e a imagem do Carnaval. Tudo que é visual dentro dessa grande festa tem a participação da moda. Durante essa época, os estilistas de moda autoral de MS têm a missão de vestir com originalidade os foliões interessados em arrasar nos bloquinhos. São peças exclusivas e feitas uma a uma”, diz Karla.
“O trabalho é intenso. Desde a produção dos looks à venda das roupas. Todos estão na produção de editoriais nas redes para chamar atenção. Fazem contatos e alguns trabalham diretamente com as escolas de samba, produzindo toda a vestimenta depois de pesquisar, desenhar, modelar e criar toda a imagem que vai acompanhar o enredo da escola”, afirma a produtora.
SUSTENTÁVEL
A Why Not by Gugliatto, criada e desenvolvida por Luis Carlos Gugliatto, estilista e produtor de moda há mais de 30 anos no mercado sul-mato-grossense, é uma marca que utiliza um método sustentável a fim de reduzir o desperdício de materiais já existentes.
O reúso do jeans e de outros materiais é fundamental para transformar o produto usado em uma peça nova, assim criando um conceito único com relevância para a marca.
Luiz Gugliatto está produzindo peças para o Carnaval baseado no “básico mesmo”, no que está se usando, “que são as hot pants, os tops, os croppeds, os corselets, e tudo feito com retalhos, só que inteiriços. Comprei retalhos laminados, malhas de brilhos e estou fazendo shortinhos para meninos, estou fazendo a campanha do governo [do Estado], que eu gravo na próxima quinta e [para a qual] estou produzindo todo o figurino”.
RENDA EXTRA
Para o estilista, o Carnaval é um movimento que ajuda muito na moda criativa no Brasil inteiro.
“É a época em que as pessoas ganham um certo dinheiro extra e tanto é fato que até as grandes lojas de departamento começaram a fazer fantasias. Fantasias básicas você encontra em lojas de departamento. Até muito pouco tempo isso era feito em ateliês mesmo”, diz Gugliatto. “Então, a moda dá um giro muito grande na economia”.
O Ateliê Nair Gavilan foi inaugurado em maio de 2015, em Campo Grande, com a proposta de ser um espaço acolhedor e intimista que aproxima consumidoras de peças sustentáveis com a produção artesanal de roupas femininas.
Desde que foi aberto, o ateliê já produziu três importantes coleções, todas elaboradas no formato slow fashion, ou seja, peças únicas, exclusivas e em pouca quantidade, de forma sustentável e tendo como prioridade máxima o menor impacto possível ao meio ambiente.
Nair Gavilan é pesquisadora de moda sustentável, formada em design de moda, atua no mercado de moda há 10 anos e começou a criar e costurar suas roupas desde criança. É mãe de duas meninas, trabalha com corte e costura há 13 anos e faz moda feminina o ano todo.
“Eu tenho uma marca de moda praia e todas as peças que eu crio no ateliê são a partir de sobras de resíduos têxteis, com retalhos”, afirma.
“Para mim, é importante trabalhar com isso no Carnaval porque é uma forma de gerar renda em uma época que é bastante parada para o comércio. É uma forma de mostrar o meu trabalho, a minha arte nas ruas, de vestir vários tipos de corpos. E também é importante porque o Carnaval é uma festa folclórica, popular e está muito ligada à arte. Vestir as pessoas para o Carnaval é muito legal”, conta a designer de moda.
AFINIDADE
“Fizemos uma produção de Carnaval, um ensaio temático em um barzinho. Com peças feitas por dois estilistas, eu e o Luiz Gugliatto. O meu trabalho coincide muito com o trabalho do Gugliatto porque ele trabalha com reúso de jeans, com reúso de tecidos que já foram peças, que já fizeram peças do vestuário”, prossegue Nair.
“E aí ele fez uma coleção com retalhos de figurinos. Ele é figurinista, sobrou muito tecido pequeno de figurinos antigos e ele fez várias peças para o Carnaval também. Então nós juntamos nossas duas produções de Carnaval para fazer o ensaio, nós convidamos duas modelos para fazer este ensaio de fotos em um barzinho da cidade”.
Para Nair, a moda é extremamente importante durante o Carnaval. “A moda é muito cíclica, ela está envolvida direta e indiretamente em todas as estações”, observa.
“E no Carnaval mais ainda, porque é por meio da vestimenta que as tribos expressam suas vontades, suas regalias, suas alegrias, e a moda está praticamente 100% inserida no hábito do folião de Carnaval. Não só na vestimenta, como nos acessórios, nos figurinos, nos estandartes dos blocos, nos abadás e tudo o mais”, afirma Nair.
CARMEN MIRANDA
FM é a marca do designer Fabio Mauricio desde 2004. São roupas exclusivas e únicas, que seguem o conceito upcycling, a maioria feminina, com inspiração em décadas passadas, como os anos 1970 e 1980, e na cultura popular brasileira.
As roupas são feitas com tecidos vintage garimpados em brechós de diferentes lugares do Brasil e do mundo.
Cada roupa é desenhada e confeccionada pelo designer, que também tem como identidade da marca os bordados rebuscados feitos com mix de materiais: lantejoulas, miçangas, pérolas, sementes, rendas, entre outros materiais.
Nas últimas duas décadas, Fabio Mauricio participou, desde 2004, de diferentes feiras, eventos, desfiles e editais de moda e cultura em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Pernambuco e Rondônia.
Mauricio está produzindo looks específicos, como tiaras de Carnaval e roupas direcionadas para a folia, a exemplo de saias de bailarina e itens inspirados em Carmen Miranda (1909-1955).
São roupas do dia a dia que se transformam em fantasias, bem ao gosto da reapropriação que marca os criadores da atual geração de estilistas de MS. “A importância da moda é a democracia, ela é democrática neste período de Carnaval”, afirma.
“As pessoas podem se vestir como elas querem, e, pelo fato de o País ser muito quente, tropical, e o Carnaval cair bem no verão, o Brasil já tem esta identidade de poucas roupas. Então, é lógico que as pessoas vão usar poucas roupas, é nesta época que elas vão ousar mais, usar decotes, mostrar mais o corpo, usar hot pants. E tem o lance das fantasias, o resgate de usar fantasias. E já aqui, em Mato Grosso do Sul, a cultura da fantasia não é muito forte”, avalia Mauricio.
“Então as pessoas passam a usar roupas com mais cores e mais curtas, que mostram mais o corpo”, afirma.
“A moda do Carnaval é importante porque ela dita o que vai se usar no decorrer do ano. Por exemplo, os cabelos platinados, que as pessoas dizem neve, que é moda entre os meninos, foi criado durante o Carnaval de dois anos atrás, logo após a pandemia. O Carnaval também dita moda”.



As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação

Patricia Maiolino e Isa Maiolino
Ana Paula Carneiro, Luciana Junqueira, Beto Silva e Cynthia Cosini


