No curta-metragem “O Vô Tá On” (2024, 25 min.), do cineasta mineiro Clério Dornell, o ator Luciano Luppi faz o papel de Ernesto, um homem de 70 anos que não se sente apto a usar aplicativos de relacionamento.
Mas, por insistência do neto, o personagem acaba mudando de ideia e a vida e o coração vão se abrindo a novas possibilidades, como a sorridente e charmosa Conceição, interpretada com graça pela atriz Nanci Alves.
O que se passa na ficção do filme de Dornell não está muito distante da realidade. O acesso à internet entre os brasileiros com 60 anos ou mais nunca esteve tão alto. E, com esse aumento, crescem também os desafios. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019, 44,8% dos idosos haviam usado a internet durante o ano.
Em 2024, esse porcentual chegou a 69,4%, o que significa 11 milhões de novos usuários nesse grupo em um intervalo de apenas cinco anos. Ao todo, 168 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais acessaram a rede no último ano, o equivalente a 89,1% da população. Entre os idosos, o celular se tornou o principal meio de conexão, sendo utilizado por 78% deles.
PRÓS E CONTRAS
O crescimento revela uma mudança de hábitos e aponta novas possibilidades de autonomia, socialização e acesso a serviços como compras, telemedicina e transações bancárias. No entanto, com as oportunidades vêm também os riscos. Graduada em Sistemas de Informação e especializada em Softwares e Soluções
Tecnológicas, a professora Enilda Cáceres alerta que esse público é alvo frequente de criminosos virtuais.
“Os idosos estão mais vulneráveis a golpes porque muitas vezes confiam em mensagens e links suspeitos. É essencial investir em educação digital, mostrando de forma simples como identificar fraudes, proteger senhas e não compartilhar informações pessoais”, destaca Enilda, que coordena o curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas do Centro Universitário Estácio em Campo Grande.
Apesar das ameaças, a inclusão digital também traz benefícios importantes. Enilda observa que a conexão aumenta a independência e a autoestima de quem aprende a lidar com as ferramentas digitais.
“Hoje, muitos idosos conseguem marcar consultas, fazer compras, pagar contas e acessar serviços sem depender de terceiros. Isso amplia o sentimento de autonomia e de pertencimento ao mundo digital”, afirma a especialista, que também atua no Senac Hub Academy da Capital.
Outro ponto sensível é a solidão, considerada um dos grandes problemas da terceira idade. Nesse aspecto, a internet tem atuado como aliada, mas também pode gerar armadilhas, se não for usada de maneira crítica.
“Chamadas de vídeo, aplicativos e redes sociais ajudam a manter contato com filhos, netos e amigos, reduzindo o isolamento social. Mas é preciso lembrar que esse contato virtual deve ser equilibrado, complementando, e não substituindo, as interações presenciais, que são fundamentais para o bem-estar dos idosos”, ressalta a professora.
EVITANDO OS GOLPES
Para reduzir os riscos de golpes virtuais, a especialista elaborou, com o Núcleo de Inclusão Digital da Estácio Campo Grande, um guia prático com orientações acessíveis a todos os públicos, não apenas aos idosos. Entre as dicas estão cuidados simples que podem ser aplicados no dia a dia. Confira a seguir.
MENSAGENS
Desconfie de mensagens pedindo dinheiro ou dados pessoais. Antes de agir, ligue para a pessoa ou a instituição e confirme se o pedido é verdadeiro.
LINKS
Não clique em links estranhos. Se chegar por WhatsApp, SMS ou e-mail uma mensagem prometendo prêmios ou pedindo para atualizar cadastros, o melhor mesmo é ignorar.
SMS
Nunca passe senhas ou códigos enviados por SMS. Nem mesmo para alguém que se passe por banco ou familiar.
SENHAS
Evite senhas óbvias. Datas de aniversário e nomes de familiares são fáceis de descobrir. Combine letras e números para mais segurança.
ATUALIZAÇÃO
Mantenha o celular atualizado. Sempre que o aparelho pedir atualização, aceite. Isso ajuda a bloquear brechas usadas por golpistas.
O material completo do guia prático pode ser acessado gratuitamente no site Tecnologia para Todos (https://estaciocg.github.io/tecnologiaparatodos/), no qual a Estácio reúne orientações sobre navegação segura na internet. O salto no número de idosos conectados mostra que a inclusão digital já é uma realidade no Brasil, mas o desafio agora é garantir que ela ocorra de forma segura e consciente.
O alerta dos especialistas é claro: a tecnologia pode ser uma grande aliada na vida dos idosos, mas, sem orientação adequada, também pode abrir caminho para riscos que afetam justamente a população mais vulnerável.


