Paulista, natural de Itu, Jean Marcel Gatti está, pela primeira vez, na tela da TV Globo. Ele interpreta o perito criminal Henrique Braga na novela "Família é Tudo", no ar no horário das sete da emissora carioca. Contracenando com Juliana Paiva, Jayme Matarazzo, Raphael Logam e Rafa Kelimann, o personagem sairá de cena da telenovela em breve, mas Jean já estreia um novo trabalho no mês de julho, na plataforma Start+.
Trata-se de 5ª temporada da série "Impuros", dirigida por René Sampaio e Tomas Portella, na qual o ator interpreta o personagem Coisa Ruim, braço direito do líder do CCP (facção criminosa inspirada no PCC). O ator conta que seu personagem entrou na série durante o último episódio da temporada anterior, exibida em 2023.
"Ele já chegou movimentando a história, participando da invasão ao Morro do Dendê, comandado e organizado minuciosamente por ele. Na 5° temporada, o Coisa Ruim terá grande importância, pois ele se torna um problema para o protagonista Evandro do Dendê, interpretado pelo Raphael Logam. Meu personagem vai fazer alianças com a família do próprio Evandro, o que vai gerar muita briga e desconfiança", explica.
No final do mês de maio, Jean Marcel estreou um espetáculo no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília. Depois de uma temporada no CCBB do Rio de Janeiro, a sátira musical "Os Bruzundangas, dirigida por Dani Ornellas e Renato Carrera (com quem o ator trabalhou recentemente em "O Balcão", de Jean Genet), é a primeira adaptação da obra homônima de Lima Barreto. A peça segue em temporada na capital federal até 23 de junho.
Samba, sertanejo, piseiro, melodias musicais tipicamente brasileiras, compõem a trilha do musical. "Me desdobro em sete personagens, sendo um deles um deputado e um sertanejo. O espetáculo revela impressões sobre um país de cem anos atrás, mas que é muito parecido com o Brasil atual", detalha. A peça segue depois para o CCBB Belo Horizonte, e inicia a temporada em 26 de julho.Já no cinema, Jean Marcel pode ser visto, desde abril deste ano, no filme "Vidro Fumê", um drama policial dJean, sua trajetória artística
o diretor português Pedro Varella. O longa, protagonizado pela atriz britânica Ellie Bamber (de "Animais Noturnos", de Tom Ford), é baseado no caso real da violência sofrida por Mary, turista norte-americana estuprada dentro de uma van na cidade do Rio de Janeiro no ano de 2013.
Nos cinemas, Jean ainda foi protagonista do filme "Não dá pra viver só de amor", seu primeiro grande projeto no audiovisual, pelo qual foi premiado no Festival Internacional de Cinema de Caeté (FICCA), em Cabo Verde e Portugal. Também atuou no média-metragem "Esta Noite Seremos Felizes", ao lado de Othon Bastos e Bete Mendes, no curta-metragem "EL BANO", premiado no Festival El Grito de Los Sir Voz, na Espanha; foi vencedor do prêmio de melhor ator no Festival RibaCine, de Rio Bonito (RJ), e indicado e melhor ator coadjuvante pelo filme "Juízo menino" nos festivais OffCine e CineMAZ, de Varginha (MG). Como diretor, conquistou o prêmio Corvo de Gesso, do Prêmio Cineclube Jacareí (SP), pelo filme "Inanição".
Veja a entrevista exclusiva do Correio B+ com o ator...

CE - Jean, sua trajetória artística envolve, música, palhaçaria, teatro, Tv e audiovisual.
Como foi esse início?
JM - Tudo começou quando eu tinha 12 anos de idade e meu pai me deu um cavaquinho de presente, aprendi a tocar através de revistinhas de músicas que existiam naquela época, daí em diante nunca mais parei e foi a música que me leva pro Rio de Janeiro, quando chego no Rio, ela (a música) me abandona e o Teatro me acolhe.
Palhaçaria vem junto com o teatro, sou da escola do Teatro de Anônimo que fica na Fundição Progresso no Rio de Janeiro, foi ali que descobri o que é ser palhaço, a fazer teatro de rua, abrir roda na praça, rir, ganhar e perder no picadeiro. Palhaço é a sua extrema verdade, com todos os seus defeitos, é dizer ao público, eu sou assim, vocês me amam mesmo assim?
Se não fosse a Palhaçaria na minha vida eu não seria o ator que sou hoje, por isso que muitos atores fogem do picadeiro, de estudar Palhaçaria, o palhaço é um desnudamento é a destruição da vaidade e nós atores somos muito vaidosos, por isso que muitos tem medo e é bom que se tenha mesmo, rsrs.
Já a tv e o audiovisual eu penso que foi a consequência desses trabalhos e estudos teatrais e de palhaçaria que fiz e ainda faço. E digo que foi por isso que cheguei na tv e no cinema com esse lugar de respeito, de cuidado e de valorização do meu trabalho, o nome disso é solidificação de carreira.
CE - O mercado de atuação exige cada vez mais de um ator. Como você se define?
JM - Eu sou um ator que se alimenta de desafios, busco sempre um mergulho consciente dentro do personagem, gosto de encontrar o conflito de cada um que interpreto e através disso vou construindo camadas pra deixar-lo cada vez mais humano.
CE - Seus personagens são muito diferentes uns dos outros. Isso é desafiador?
JM - Cara, muito diferentes, e isso é um presente, geralmente a maioria dos atores acabam entrando numa caixa onde sempre acabam interpretando os mesmos tipos de personagens e ser ator não isso, eu tinha muito medo de cair nisso, mas o teatro me ajudou muito a ter essa versatilidade de interpretar vários tipos de personagens, que é o verdadeiro desafio do ator, o trabalho do ator, o meu trabalho como palhaço me ajudou nisso, eu já interpretei personagens cômicos, dramáticos, violentos. Essa diversidade é desafiadora e me alimenta.

CE - Na série "Impuros", agora na sua quinta temporada pela Star +, (estreia em julho)dirigida por René Sampaio e Tomas Portella, você interpreta o personagem "Coisa Ruim", braço direito do líder do CCP (facção criminosa inspirada no PCC. Como foi essa preparação? Você fez algum laboratório?
JM - O "Coisa Ruim" foi o divisor de águas na minha carreira como ator. Ele tem uma complexidade incrível, quando o Felipe Ventura (produtor de elenco) me deu essa oportunidade o personagem só tinha 3 cenas, quando eu li o roteiro vi que ele tinha um potencial absurdo na série, então eu me desdobrei pra que ele se transformasse nessa grandiosidade que ele se tornou, busquei referências em entrevistas de vários líderes, assisti um documentário incrível chamado "PCC - O poder supremo" que me ajudou muito nas escolhas de como me colocar em cena.
A maior referência pra construir o "Coisa Ruim" pra mim foi o "Fuminho" braço direito do "Marcola" e na 5ªT ele chega ainda mais forte, mostrando realmente como ele é, estrategista, frio e muito inteligente. O mais maneiro disso tudo é contracenar com Raphael Logam que da vida ao "Evandro do Dendê" somos inimigos na série, mas na vida real ele é meu irmão, minha referência, aprendo muito com ele. E agora já posso revelar em primeira mão pra vocês a 5ª temporada estreia dia 24 de Julho.
CE - Recentemente você também estreou na novela das 19h, "Família é tudo" (Tv Globo), onde você interpretou um perito criminal. Foi a sua primeira participação ao lado de protagonistas como Jayme Matarazzo, Juliana Paiva e Rafa Kalimann. Como foi essa experiência?
JM - Minha primeira novela, "Henrique Braga" esse perito que veio bagunçar a vida da "Electra" interpretada pela Ju Paiva. Quando o Gui Gobbi (produtor de elenco) me ligou convidando pra fazer a novela fiquei muito feliz, de início preocupado porque eu estava em temporada com um espetáculo de quinta a domingo no ccbbrj, mas depois que conversamos conseguimos organizar as datas e super rolou.
Trabalhar com Rafa, Jayme e Ju foi incrível, me acolheram, parecia que já nos conhecíamos a bastante tempo... e ainda contraceno com Raphael Logam também, foi nosso terceiro trabalho juntos, aí fica fácil, né? O ambiente da novela é uma delícia, encontrar amigos de outras novelas, resenhas... espero que o "Henrique Braga" volte pra desmascarar o Hans e a Jessica.
CE - "Bruzundangas" é um espetáculo de teatro que está rodando algumas capitais brasileiras em que você atua. Do que se trata essa peça?
JM - Eu gosto de definir essa peça como "um deboche" Lima Barreto é um ser indescritível, de um poder de escrita absurdo, é obrigatório conhecer Lima Barreto, ler Lima Barreto, falar sobre Lima Barreto. A peça trata de uma temática social brasileira sob um viés político, com diversos problemas sociais e econômicos.
A gente bebe muito do teatro de revista, apresentando a vida brasileira nos primeiros anos da primeira república. Bruzundanga é um país no qual é muito semelhante ao nosso Brasil. Vem assistir, você vai rir muito, mas também vai refletir a beça sobre o assunto.
CE - No audiovisual tem muita história, né? Como o filme " Esta noite seremos felizes" com Othon Bastos e Bete Mendes. Que mais o público pode esperar?
JM - Muitas, e a história desse filme é de se emocionar. Digo que meu maior presente foi esse filme, contraceno com duas grandiosidades do cinema brasileiro, interpreto o personagem "Hugo" que é o melhor amigo de "Seu Carlos" interpretado pelo o Othon Bastos que virou meu amigo, meu parceiro, meu avôzão na vida real... a arte imita a vida? No nosso caso foi ao contrário, a vida imitou a arte. Novidades posso te dizer que ano que vem chega uma nova série chamada "Matches" pela HBOMax na qual faço parte do elenco, uma série bem divertida.
CE - Vamos falar um pouco de como a música entrou na sua vida?
JM - Digo que ela foi meu primeiro amor, aí a gente nunca esquece, né? Foi quando eu tinha 12 anos e meu pai me deu um cavaquinho. Fui vocalista de um grupo de pagode chamado Atração durante 7 anos.
Foi ela quem me trouxe pro Río de Janeiro, depois de uma temporada de shows em São Paulo, viemos pro rio pra gravar um dvd, não deu muito certo e isso acabou me frustrando, aí durante 10 anos eu fiquei sem fazer show e sinto muita falta, hoje minha profissão é ator, mas confesso que sinto muita saudade de cantar, de fazer show igual fazia. Quem sabe ano que vem eu volte, agora com mais maturidade.
CE - Para um paulista de Itú, buscar um grande centro como o Rio de Janeiro é o caminho para o sucesso?
JM - Acho que não existe um caminho pro sucesso, existe disciplina, constância e fé. Esse ano fazem 10 anos que estou morando no Rio de Janeiro e só agora que eu estou vendo a cor do dinheiro, foi muito difícil, tem que querer muito, nossa profissão é muito transitória, as vezes você tá lá em cima, do nada tá esquecido.
Tem que ter constância e muita dedicação, abri mão de muitas coisas, principalmente de ficar longe da minha família, mas tá valendo a pena. Amo frases e tem uma do Vinny Santa Fé que é assim "quem tenta incessantemente alcança, foi no balanço das andanças que aprendi a sobreviver" é assim posso dizer: mãe, estou conseguindo.
CE - E como você define o "sucesso"?
JM - Sucesso é a solidificação da sua carreira, é pé no chão, é estar presente, consciente do caminho que você está seguindo. E como saber se está no caminho certo? Meu irmão Raphael Logam me disse uma frase que levo pra minha vida: "quando na sua caminhada você encontra seus ídolos, é que o caminho tá certo."