O QUE DEU CERTO
Destacaria, nesses três anos de funcionamento da estação, a diversidade de ações culturais. É um espaço que aporta muito bem a música. Desde que Antônio Porto fez o primeiro show dele [5 de abril de 2023], muitos músicos, quase 50 artistas da música, fizeram da estação seu palco.
Um público feliz de ter a oportunidade de contemplar, de sentar para ouvir a canção e ver seu compositor preferido ou conhecer mais das composições desse artista. A estação também aportou muito bem as artes visuais. Frequentemente tivemos exposições coletivas e individuais.
O cinema afigurou de maneira muito importante no espaço. A gente colocou um bom telão, um bom som, uma sala climatizada e, então, virou uma alternativa e ainda vai ser mais ainda no ano que vem. E o teatro e a dança, claro.
Quando digo dança, abro aqui para a dança do ventre, pole dance, dança contemporânea, experiências a partir da expressão corporal, dança urbana, como o [grupo] Funk-se e outras companhias que fizeram parte desse momento.
E o teatro também, muito embora a gente não tenha tido muitas peças de teatro. Talvez com a inconstância das produções locais, a gente tem poucas peças para ficar em cartaz. E as companhias que produzem têm seus espaços.
Tivemos companhias de São Paulo, um Boca de Cena nesses três anos, Campão Cultural, espetáculos de fora de MS num projeto capitaneado pelo [grupo] Fulano di Tal. Muitas coisas aconteceram, fora os nossos espetáculos da Cia. Teatro do Mundo.
A gente inaugura com um solo [“Como Nascem as Estrelas”, com a atriz Laura Santoro], faz algumas leituras dramatizadas, fizemos a “Valsa Nº 6” [com a atriz Tauane Gazoso] e agora estamos começando a construir um novo espetáculo, que vai se chamar “Edifício 67”.
CONDOMÍNIO
O espaço também é um condomínio. Hoje tem uma butique e o café. A gente fez também um espaço que, de alguma maneira, ajuda na economia criativa. Fizemos nove edições das feiras e pretendemos mais pequenas feiras com artesãos selecionados em 2026.
A gente vai aportando artistas iniciantes e já experientes. Vira um espaço de convivência onde o público se encontra e também encontra os artistas. A gente tem espetáculos de capoeira e de danças variadas. Uma diversidade cultural muito rica.
Isso é uma qualidade do espaço. Cito, dentro desse escopo, a literatura. Não só os lançamentos de livros, que foram inúmeros, mas também os encontros de clubes literários.
O INÍCIO
O início começou quando ninguém ainda sabia que a estação era possível. Quando eu entrei ali, por volta de 2021, naquele prédio abandonado, já com muita vontade de fazer uma estação cultural, mas impedido pela pandemia, com medo, etc.
O prédio pedia para ser um espaço cultural, não só pela beleza, mas pelas próprias condições do edifício. O que sinto quando olho para esse momento é um imenso orgulho de quem por sorte, ou quiçá, a natureza me deu de presente esse momento de poder olhar para aquilo e pensar que poderia ser o que é.
Todas as coisas que imaginei que poderia ser a gente vem executando. E está longe de ser ainda tudo aquilo que a estação pode ser no seu potencial.
Com mais apoio, a gente seria realmente ainda mais como casa de cultura, aportando mais artistas, fazendo da casa esse encontro, essa celebração com a arte tão importante para alimentar nossa cultura.
O que eu imaginava era a sede da companhia de teatro em que eu pudesse ensaiar e apresentar meus espetáculos junto com o meu grupo. Ainda é a sede da Cia. Teatro do Mundo, mas ganhou essa imensa responsabilidade com as outras artes também.
Fernando Lopes - Foto: DivulgaçãoQuando eu vi o espaço desse tamanho, eu percebi que eu precisava de outras artes ocupando. Pensei, a princípio, que poderia ser grupos de teatro ou de dança, grupos de artes cênicas, circo, dança, teatro. Mas não tive essa adesão.
Foram poucas pessoas que se juntaram, então, o teatro não deu conta de ocupar esse espaço. Isso é, na minha opinião, uma certa perda. Tenho uma frustração nesse sentido porque eu sou de teatro e gostaria que acontecessem mais espetáculos teatrais, não só meus, como de outros grupos.
DE TODOS
O espaço tem sido administrado de uma forma muito livre, independente, no sentido da fruição das ideias desse lugar de receber outros projetos como se fossem nossos e fazer nossos projetos como se fossem de todos. É um espaço privado com um caráter público.
Não cobro aluguel dos artistas, a gente sempre faz parceria. Todos os artistas que fizeram qualquer evento, maior ou menor em dimensão, foram donos no momento em que estavam lá e ainda o são se assim entenderem.
APOIOS
A principal perda foi agora, de cinco meses para cá, quando a gente perdeu completamente o apoio do governo do Estado.
O governo até tinha um carinho pelo nosso projeto, comprando espetáculos da Turma do Bolonhesa, que completou 10 anos também em novembro. E, com esse valor, que não era muito [R$ 8 mil], a gente pagava o aluguel e dividia o cachê com o elenco.
Depois eu tinha ainda todo um trabalho para conseguir pagar as contas, porque aqui são R$ 6 mil de aluguel e tenho mais ou menos R$ 14 mil de conta fixa. E foi do nada. Perdemos por quê? Sei lá. O governo não tem um projeto de fato. Deveria ter mais apoio tanto da iniciativa privada como também do governo.
MÚSICA
A música ganhou uma força muito grande porque a casa tem um palco não tão elevado, que, para a música, é melhor do que para o teatro, por exemplo. Porque, para o teatro e para a dança, o espaço é um pouco limitado.
Tenho feito espetáculos sempre de maneira alternativa, para que o público possa enxergar melhor. Preciso levantar o palco. Quero, inclusive, fazer uma campanha financeira para elevar o palco.
TEATRO
O teatro é o meu principal objetivo. Desejo para 2026 que mais peças de teatro possam acontecer nesse espaço. A gente tem tido a parceria do Fulano di Tal, [grupo] Senta que o Leão É Manso, do TGR [Teatral Grupo de Risco], também do [Teatro Imaginário] Maracangalha, do Theastai, de Dourados.
Muitas companhias já passaram pelo nosso palco. Tenho um projeto de deixar espetáculos em cartaz todo fim de semana, que é o que nos falta em Campo Grande, não só para adultos, mas também para as crianças.
Então, o objetivo que eu quero cumprir agora em 2026 a curtíssimo prazo, já no início do ano, é ter espetáculos em cartaz. É muito importante para a cidade, para o público. Alcançamos algumas vezes, falhamos outras tantas por conta da própria produção.
Estou com a minha companhia há quase um ano ensaiando e tentando achar um espetáculo adequado para que a gente possa ser feliz e apresentar.
CIÊNCIA E POLÍTICA
Fizemos, em média, 400 eventos culturais de toda natureza. Festival de cinema e exibições cinematográficas avulsas e aleatórias, encontros e debates científicos. A ciência esteve presente, tanto a arquitetura quanto a ciência física. Muitos grupos de estudo.
Alguns debates muito interessantes no café. Também políticos, fizemos o debate dos candidatos à prefeitura [de Campo Grande]. Feiras, exposições, espetáculos teatrais, de música, recitais, poesia. A literatura muito presente.
São dados importantes. Muita gente passou e muita gente ainda precisa conhecer a Estação Cultural Teatro do Mundo.




O ator Pedro Nercessian é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Vand Rodriguez - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana
O ator Pedro Nercessian é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Vand Rodriguez - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia Viana


