Mesmo sem relação direta com problemas da visão, dois episódios recentes – um deles, inclusive, com vítima fatal – chamaram atenção para os riscos da fotofobia.
A sensibilidade à luz, natural ou artificial, ainda que não seja classificada como uma doença ocular, provoca a manifestação de sintomas que, além de incomodarem bastante, podem sinalizar para o risco de catarata, glaucoma e conjuntivite.
Os dois casos foram registrados no Rio de Janeiro entre a última semana de 2022 e a primeira de 2023, e a fotofobia aparece como sintoma em ambos.
A morte de uma adolescente de 14 anos, confirmada pela Fiocruz no fim de dezembro, teve o diagnóstico de meningoencefalite, uma infecção, deflagrada pelo fungo penicillium chrysogenum, que causa inflamação no cérebro e meningite.
A jovem havia sido internada, em um hospital da capital fluminense, com fotofobia, dores de cabeça e vômito. Foi, justamente, a grave infecção cerebral e a meningite que a levou a óbito.
DO CABELO AO OLHO
O outro episódio envolveu em torno de 200 pessoas que utilizaram a pomada de cabelo para tranças Cassu Braids, cuja venda e uso foram proibidas pela vigilância sanitária do Rio de Janeiro por oferecer o risco de lesões na córnea.
O produto costuma escorrer para os olhos, especialmente em contato com a água, e dezenas de pessoas procuram atendimento médico, entre 26 de dezembro e 2 de janeiro, relatando queimaduras na córnea e até cegueira temporária. A fotofobia é um dos sintomas da lesão na córnea.
Três em cada 10 brasileiros convivem diariamente com a aversão à luz e o transtorno piora durante o verão, já que os dias mais claros são um prato cheio para a fotofobia.
E, você, já sentiu incômodo ao olhar para a luz? Saiba que para algumas pessoas essa sensação é insuportável, podendo ser também classificada, uma vez mais, como uma condição associada a diferentes doenças oculares.
“Fotofobia é identificada pelo médico, após a avaliação clínica, quando o paciente tem a visão afetada ao ficar exposto à claridade excessiva, seja a luz solar, seja artificial”, explica a oftalmologista e professora Ana Cláudia Alves Pereira, que leciona no curso de medicina de uma universidade privada da Capital.
CAUSAS E PREVENÇÃO
Nem sempre a fotofobia, ao contrário do que muitos acreditam, está relacionada à cor dos olhos, mas, sim, à falta de pigmentos na retina.
“Em se tratando de fotofobia, é muito importante nós estabelecermos possíveis causas, uma vez que pode ocorrer, desde uma forma transitória, ou seja, após inflamações oculares, olho seco; em decorrência de alterações neurológicas, como enxaquecas, cefaléias, ou ainda na forma congênita”, diz a especialista.
A prevenção é feita com a boa lubrificação dos olhos utilizando colírios lubrificantes, quando o oftalmologista identifica a fotofobia associada ao olho seco.
“O uso de óculos escuros é uma das indicações primárias para evitar o desconforto diante do excesso de luz. Há também a recomendação de lentes mais modernas, com antirreflexo, que bloqueiam a luz azul das telas, em geral, computadores, tablets, celulares, tevês e luz artificial”, prescreve Dra. Ana Cláudia.
SINTOMAS
Pessoas com olhos claros têm maior sensibilidade à claridade, por conta da menor pigmentação da íris e da retina. Os olhos escuros possuem mais pigmento, o que oferece maior proteção.
A médica esclarece que não existe um grupo específico para desenvolver a fotofobia, já que a condição depende de diversos fatores. No caso do olho seco, geralmente atinge mulheres de meia idade, ou seja, no início da menopausa.
Quando o agente desencadeador é a catarata, os alvos são os idosos; e, nas crianças, a causa é geralmente o uso excessivo de telas.
Portadores de astigmatismo também são mais afetados pela fotofobia, já que a disfunção oftalmológica é caracterizada pela alteração na córnea, provocando uma maior sensibilidade desta lente.
Entre os sintomas, vale ficar atento à vermelhidão nos olhos; dores de cabeça, ardor e inchaço ocular, e a necessidade de fechar os olhos quando exposto à claridade.
O tratamento individualizado consiste em procedimentos de prevenção, que são indicados pelo oftalmologista, após a avaliação clínica e o conhecimento do histórico de cada paciente.