Parceiros de longa data, a soprano Jayana Paiva e o pianista Adriano Lopes volta e meia retomam um potente e inspirado diálogo artístico, no formato de duo, para celebrar temas consagrados, raridades e descobertas da música de câmara. Talento e apuro estilístico não faltam para os dois. Ao longo de 16 anos, ao mesmo tempo em que vêm adensando suas carreiras, tanto em reconhecimento quanto na técnica de cada um, por diversas vezes ocuparam palcos e estúdios como uma dupla de requinte e em crescente evolução.
Quando músicos assim se debruçam sobre uma obra de alto quilate, como é o caso do repertório de Villa-Lobos (1887-1959), a atenção deveria ser ainda maior e o leitor poderia passar o marcador de texto no jornal, sem medo, para não perder a data, local e horário da apresentação. Trata-se de “Uma Doce Canção: Concerto para Canto e Piano”, que leva Jayana e Adriano ao Sesc Teatro Prosa na noite de amanhã, com entrada franca.
Com nomes já firmados no cenário da música de concerto do País, ambos procuram um envolvimento permanente com iniciativas de democratização que estimulam o acesso de novas plateias em um segmento ainda marcado pelo estigma da erudição e da elitização, o que só atrapalha a popularização de uma obra como a do homenageado de amanhã, Heitor Villa-Lobos. Mais de uma vez acusado de populista ou demagogo, o artista nunca abriu mão das raízes brasileiras como princípio e finalidade de suas composições.
E o que se poderá ouvir no Teatro Prosa é uma prova desse compromisso do grande maestro, que, com o tempo, fez virar pó qualquer cisão que procuraram cravar em sua obra, consolidando a condição de gênio e de expoente maior da música erudita brasileira, com largo reconhecimento também fora do País. Jayana Paiva, destaque no canto lírico, e o pianista Adriano Lopes, doutor no seu instrumento pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não deixam de legitimar o movimento do maestro.
O programa da apresentação celebra Villa-Lobos e marca, por exemplo, as oito décadas das “Bachianas Brasileiras”, incluindo peças fundamentais da canção brasileira, a começar com a série “Modinhas e Canções” (1936), que mescla tradição operística e influências afro-brasileiras. O nome do concerto, inclusive, é baseado na “Canção do Poeta do Século 18” (1948), peça que leva muitos estudiosos a um mergulho na música brasileira.
O destaque fica por conta da mundialmente conhecida ária “Bachianas Brasileiras nº 5” (1945), peça central do programa. O concerto também traz duas canções da série “Serestas” (1925) e se encerra com “Melodia Sentimental”, da suíte “A Floresta do Amazonas” (1958), uma das composições de Villa-Lobos mais famosas, que já foi diversamente interpretada por artistas de diferentes segmentos da música.
JAYANA
Jayana nasceu em Campo Grande e tem bacharelado em canto pela Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás (Emac/UFG). Pós-graduada em Canto e Expressão pela Faculdade de Ciência e Educação do Caparaó (Facec), no Espírito Santo, a soprano também cursou Formação Integrada em Voz (FIV) no Centro de Estudos da Voz de São Paulo (CEV-SP).
Com uma voz que se pode enquadrar como soprano spinto, de maior alcance, potência e nuances dramáticas, a cantora conquistou importantes láureas, como o 14º Concurso Maria Callas (2015) e o 2º Concurso de Canto Lírico Joaquina Lapinha (2023), sendo reconhecida por sua consistência interpretativa e atuação nos palcos.
No repertório operístico, Jayana atuou como solista em produções nos teatros Bradesco, São Pedro e Theatro Municipal de São Paulo. Participou de montagens de “La Bohème”, “Carmen”, “Così Fan Tutte”, “Nabucco”, “João e Maria”, “Amahl e os Visitantes da Noite”, “O Barbeiro de Sevilha” e “O Elixir do Amor”. Ela se dedica atualmente à interpretação da canção brasileira em recitais e à formação vocal de novos cantores, atuando também como professora e coordenadora de projetos musicais.
ADRIANO
Já o pianista, pesquisador e professor Adriano Lopes, também nascido em Campo Grande, atua na interpretação e pesquisa da música brasileira e na prática da música de câmara. Ele cunhou o conceito de pianista vozeante, explorando a fusão entre a performance pianística e a utilização da voz como extensão expressiva do intérprete.
Como músico de câmara e pianista correpetidor (“resumidamente, é um trabalho de ensaiador”, explica Jayana), Adriano participou de festivais e congressos, colaborando com cantores e instrumentistas em concertos e recitais.
Em sua trajetória, destacam-se apresentações na 25ª Bienal de Música Brasileira Contemporânea (Funarte, 2023), no recital-palestra “Três Baladas do Amor Amargo”, realizado em 2019, no Encontro Internacional de Piano Contemporâneo, em Portugal, e na gravação do álbum “O Piano de Kilza Setti” (Selo Minas de Som/UFMG, 2023).
Serviço
O duo formado pela soprano Jayana Paiva e o pianista Adriano Lopes apresenta o espetáculo gratuito “Uma Doce Canção: Concerto para Canto e Piano”, amanhã, no Sesc Teatro Prosa, localizado na Rua Anhaduí, nº200. Entrada franca, com reserva de ingressos pelo Sympla. Capacidade da sala: 208 lugares.



As pinturas de Isabê também estarão na Casa-Quintal 109 de Manoel de Barros, museu na antiga residência do poeta, no Jardim dos Estados - Foto: Divulgação


Filme lança hoje - Foto: Divulgação

Patricia Maiolino e Isa Maiolino
Ana Paula Carneiro, Luciana Junqueira, Beto Silva e Cynthia Cosini


