Para além da figura de advogado, há também o escritor que molda a persona do sul-mato-grossense Samuel Medeiros, que há mais de duas décadas tem construído sua trajetória literária e coleciona seis livros publicados. Toda essa imersão no universo das palavras trouxe, recentemente, um novo feito: a divulgação da sua mais nova obra, “O Certo e o Incerto”.
Com 132 páginas, o lançamento da Life Editora reúne minicontos produzidos pelo autor que trazem temas da vida cotidiana regados com muito humor e crítica social, por meio de uma escrita envolvente e criativa.
“A obra é o resultado de uma série de minicontos que eu vou escrevendo sem tempo determinado. Em 2012, escrevi um livro similar, sob o título ‘Minicontos de A a Z’, e continuei com esse trabalho de continuar escrevendo e guardando”, conta o autor, que vê certa similaridade entre os dois livros.
“Tem uma certa continuidade porque eu guardo elementos de humor e, por vezes, com certo ponto de vista irônico e engraçado sobre fatos corriqueiros da vida, deixando a inspiração falar em poucas palavras, talvez muito”, diz Samuel.
SEM PENSAR MUITO
“Engraçado que, às vezes, não penso muito sobre o que vou escrever, é no momento em que os dedos tocam os teclados que as ideias fluem. Costumo escrever uma palavra e, a partir daí, desenvolvo a história, não me preocupo muito com o desfecho, pois acredito que a fonte de criação surge no momento em que eu peço por ela; não antevejo, mas acontece”, revela o também criador de “Senhorinha Barbosa Lopes, Uma História da Resistência Feminina na Guerra do Paraguai”.
LENILDE
Para o evento de lançamento, nesta sexta-feira, às 19h30min, na Sala de Música do Sesc Cultura (Avenida Afonso Pena, nº 2.270, Centro), com entrada franca, além de um bate-papo com Samuel Medeiros e dos autógrafos em “O Certo e o Incerto”, o público poderá acompanhar uma curiosa sessão musical: a escritora Lenilde Ramos vai mostrar sua faceta de pianista em um recital ao vivo. A obra estará disponível para compra no local (R$ 40).
“Lenilde é uma artista talentosíssima e uma amiga querida. Dividimos o amor pela literatura. Ela tem, também, excelentes obras e, por tantas afinidades, nada mais justo do que dividir o espaço com ela, que é uma mulher de muitos talentos, seja na literatura, seja na música”, diz Samuel.
“COMECEI TARDE”
A publicação de “O Certo e o Incerto” é fruto do I Prêmio Ipê de Literatura, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Campo Grande (Sectur), em 2021. O lançamento conta ainda com a parceria da Fecomércio-MS e do Sesc Cultura.
Samuel explica que a publicação da nova obra é mais uma conquista em sua trajetória literária.
Desde menino, ele sempre foi apaixonado por livros, mas só se dedicou ao ofício da escrita enquanto arte a partir da vida adulta.
“Comecei tarde na literatura, em 2002, depois dos 50 [anos] e não sei porque não publiquei antes. Talvez por excesso de autocrítica”, lembra o escritor, que desde então não parou mais de produzir.
“Depois do primeiro livro, tive um retorno positivo de pessoas do meio literário de quem aprecio muito a opinião e, sobretudo, os trabalhos. E creio que foi uma grande motivação para seguir este caminho”, afirma o artista, que, em 2015, entrou para Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL).
Além do novo livro, “O Certo e o Incerto”, Samuel Medeiros é autor de outras seis obras. Seu romance de destaque é “Senhorinha Barbosa Lopes, Uma História da Resistência Feminina na Guerra do Paraguai”, que está em sua terceira edição. Também publicou dois romances –
“Memórias de Jardim” e “Cartas de Além-Mar” – e, ainda, “Contos Quase Causos”, “Contos a Gotas” e o livro de crônicas “Informações (i)Relevantes”.
Samuel também faz parte do Instituto Histórico e Geográfico de MS e da União Brasileira de Escritores de MS.
NO DRIBLE
Leitor contumaz, Samuel afirma ter uma queda maior pelo romance. “Este ano, já li 13 livros”, diz o escritor, que lista parte da biblioteca consumida desde o início de 2023.
“Entre eles, ‘Torto Arado’, do Itamar Vieira Jr., ‘Stella Manhattan’, de Silviano Santiago, e ‘Uma Autobiografia’, de Moacyr Scliar. Dois romances de Isabel Allende: ‘De Amor e de Sombra’ e ‘A Cidade das Feras’. Também ‘A Cidade e o Pilar’, de Gore Vidal. Estou iniciando ‘Encruzilhadas’, de Jonathan Franzen”, revela o autor.
De volta a “O Certo e o Incerto”, ele reforça que o novo livro é “recheado” de frases de efeito com humor e ironia. “Lido com essas possibilidades, visando ampliar o conceito de uma literatura focada apenas em um tema. Na minha escrita, principalmente em ‘O Certo e o Incerto’, os temas variam em diversos sentidos, tentando driblar o politicamente correto”, explica Samuel.
“E justifico: em um dos contos uso a palavra ‘negra’, quando agora seria ‘preta’. Mas achei mais poético para o contexto. De fato, alguns contos têm como pano de fundo memórias. E, como já me chegaram ‘as idades’, as coisas me vêm como eram. Não como o querem agora as novas políticas, embora eu as respeite”, alfineta.
“O humor talvez venha implícito, porque brinco com certos ditos populares, como na frase: ‘O sujeito lavou a égua com a venda do burro’. Como digo na orelha, este livro é exatamente o paradoxo de não ter ideias e, ao mesmo tempo, lidar com elas”, divaga o escritor.
“As narrativas curtas não são exatamente minha literatura, já que publiquei três romances e três livros de contos. Mas os minicontos nasceram da inspiração em outros escritores. Um deles não deixa de ser nosso grande Millôr Fernandes, que gostava do que chamava ‘tiradas’. Ele tinha uma frase que nunca esqueci: ‘Lerdo, era o anjo que avisou Maria’. Uma ironia religiosa, bem-humorada e politicamente incorreta. Daí, fascinante”, comenta.
“Quando eu construo um texto, não tenho uma ideia preconcebida. Uma palavra me vem à mente e, daí, desenvolvo uma ideia, amarrando a ideia inicial com a conclusão”.





