O ano de 2022 estava prestes a se encerrar quando a notícia da morte de Pelé, aos 82 anos, abalou o mundo. A comoção em torno do maior astro que o futebol já viu deixou uma certeza: a de sua imortalidade perante os milhões de fãs, que só se multiplicam a cada geração e a cada efeméride celebrada.
Na primeira biografia publicada após a morte de Edson Arantes do Nascimento (1940-2022), “Pelé, O Rei Visto de Perto”, o jornalista Maurício Oliveira faz um relato panorâmico da trajetória do atleta, acrescido de impressões e de lembranças pessoais dos contatos que teve com ele.
Autor de mais de 30 livros, Maurício é especialista em temas históricos e publica, em seu novo lançamento pela Matrix Editora, trechos inéditos de uma entrevista feita com Pelé em 2013 para um projeto editorial.
Na época, o trabalho também envolveu conversas com pessoas ligadas à trajetória do jogador, que foi o principal nome a consolidar o futebol brasileiro, em campo e na mídia, como futebol-arte, mobilizando, desde então, uma crescente legião de fãs. Muitos, talvez, desconheçam o Edson, o Dico, o homem simples e
suas memórias.
Os destaques da conversa com Pelé trazem à tona o ser humano que existia dentro do mito celebrado mundialmente. O livro dá a ver, portanto, diversas facetas sobre as quais muito sempre se especulou, mas pouco se sabe de fato.
A ideia, sem esconder a maior lenda que já pisou nos gramados, é mostrar o Edson de carne e osso: o Pelé que atende ligação do filho em frente ao jornalista e que mostra pulso firme ao negar um pedido; o pai falando em relação às filhas fora do casamento e sobre os motivos para não ter contato com uma delas; o menino de catapora, justamente no dia em que ganhou uma bola, chorando abraçado ao presente por uma semana até se recuperar; e o jogador que treinou sem parar desde o início e aprendeu a usar as duas pernas na hora certa.
A dica para se tornar ambidestro durante cada ação no campo foi, aliás, mais uma das que seu pai, Dondinho, soprou no ouvido do filho, que, assim como ele, também um dia foi jogador. A admiração entre os dois era mútua e notória desde sempre.
RECADOS
“A primeira coisa que fiz ao encontrar Pelé foi transmitir esses recados. Eu disse que quando as pessoas sabiam que eu iria encontrá-lo, sempre mandavam um abraço.
‘Não me pergunte como, mas até o Biro-Biro!’, completei sorrindo. A resposta dele, em tom melancólico, me surpreendeu: ‘Pois é. Para Pelé todo mundo manda abraço, mas para Edson ninguém manda’. Evidenciava-se, assim, a faceta dramática da célebre cisão de si mesmo em duas personas”.
As aspas reproduzem o que Oliveira escreve na página 28 de “Pelé, O Rei Visto de Perto”. O prefácio da obra é do ex-jogador Clodoaldo, o Corró, parceiro da “majestade” no Santos e na seleção brasileira.
O ex-futebolista ficou famoso ao atuar com a camisa 5 do Santos e defendeu publicamente, durante o velório do Rei em dezembro do ano passado, que o clube aposentasse a camisa 10 em reconhecimento ao que fez Pelé pelo time, pelo Brasil e pelo futebol.
O eterno volante do Peixe recorda do respeito, do carinho e da atenção de Dico – apelido de infância de Edson – com seus admiradores.
HUMILDADE
A humildade do astro das quatro linhas o acompanhou durante toda a jornada, assegura Clodoaldo, pois ele sabia da importância da equipe, sempre se mantendo um jogador de grupo.
“Algumas vezes, ao longo da vida, eu disse para ele o quanto o amava e perguntei se ele tinha noção de tudo o que ele havia feito, se sabia o tamanho imenso que tinha para o mundo”, declara o ex-atleta nascido em Sergipe, atualmente aos 73 anos de idade.
A narrativa de “Pelé, O Rei Visto de Perto” tem todos os ingredientes para despertar emoções mesmo em quem não teve a oportunidade de acompanhar a carreira dessa grande estrela do esporte.
Outra faceta oculta, ou quase, que o livro revela é o Edson anônimo por detrás das obras sociais voltadas à educação de crianças e ao amparo de idosos.
E o homem comum em visitas a pacientes em hospitais, a pedido de amigos. É o resgate da trajetória fenomenal do atleta reconhecido globalmente, também retratado como homem que continuará a inspirar pessoas no mundo todo.
O AUTOR
Nascido em 1972, no Rio de Janeiro, o jornalista e escritor Maurício Oliveira fez mestrado em História Cultural e doutorado em Jornalismo, ambos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Maurício escreveu mais de 30 livros, a maior parte deles sobre temas históricos, como “Amores Proibidos na História do Brasil”, “Garibaldi, Herói dos Dois Mundos”, “Patápio Silva, o Sopro da Arte” e “Toma Lá, Dá Cá – Como a Troca de Favores Moldou a Sociedade e o Jornalismo no Brasil”.
É também autor de diversos livros-caixinha da Matrix Editora, como “Puxa-Conversa Futebol”, “Escrita Criativa” e “Exercícios de Virtudes” (os dois últimos em parceria com Juliana De Mari).
Serviço: “Pelé, O Rei Visto de Perto” - De Maurício Oliveira, pela Matrix Editora.160 páginas. R$ 40, nas livrarias e nos sites Matrix e Amazon.





