Enquanto imóveis centenários padecem sem cuidado, chegando ao ponto de desabar ou simplesmente sendo demolidos, uma casa de 80 anos, que é patrimônio histórico, passou por restauração na Rua Padre João Crippa, em Campo Grande.
O imóvel em questão foi vendido e, inicialmente, a ideia era demoli-lo. Entretanto, durante a discussão do projeto, a arquiteta responsável, Thathyane Sangali, disse que descobriram que a casa era uma edificação catalogada como Zona Especial de Interesse Cultural (ZEIC II).
Assim que o proprietário entendeu a importância histórica da residência, houve mudança de planos, e começaram a procurar outras alternativas.
"Sugeri que ele restaurasse a casa e a colocasse para locação. Brinquei que a gente podia ganhar dinheiro com o imóvel, quando geralmente o pensamento é o contrário", contou a arquiteta.
Veja como era antes
Restauração do imóvel
Durante a obra, a equipe que trabalhou na restauração descobriu tesouros históricos. Nas pesquisas, a arquiteta conseguiu o levantamento de pessoas que moraram na casa e, com isso, reconstruiu a descrição da disposição original de cada cômodo - como banheiro e cozinha externos, comuns à época - e de elementos arquitetônicos considerados raros.
Imagem DivulgaçãoEles também localizaram os ladrilhos hidráulicos originais assentados sobre colchão de areia e rodapés com desenhos que não são mais encontrados no mercado ou em outros imóveis da cidade.
Um ponto interessante do trabalho foi a utilização da argamassa conforme era feita na época, com cal e areia, que auxilia na ventilação e no controle da umidade.
"A casa está em um terreno úmido e abaixo do nível da rua. A argamassa de cal, que é cheia de poros microscópicos, permite a evaporação da umidade. Isso é essencial para manter o ambiente seco e saudável", explicou a arquiteta.
Imagem DivulgaçãoPreservação e modernidade
O cuidado em manter as características originais da fachada foi seguido conforme a estética da época, o que contribui para a preservação da paisagem cultural do Centro.
Além de manter suas características originais, valorizado por entusiastas da preservação da arquitetura original, o imóvel está preparado para receber atividades empresariais, contando, inclusive, com a instalação de uma estrutura para carregamento de veículos elétricos.
"Conseguimos unir o antigo e o novo. Preservamos a história, mas trouxemos soluções sustentáveis e tecnológicas", completou Thathyane.
Demolição de imóveis protegidos
A promotora de Justiça Luz Marina Borges Maciel, da 26ª Promotoria de Justiça de Campo Grande, destacou a importância da iniciativa para a preservação de edificações protegidas:
"Na promotoria tramitam diversos inquéritos civis sobre demolições de imóveis protegidos. Cada casa preservada representa uma vitória contra o apagamento da memória da cidade. Quando vemos uma edificação quase centenária restaurada e voltando a ter vida, percebemos que a ZEIC cumpre seu papel", destacou a promotora.
Cabe ressaltar que foi elaborado o Catálogo Redescobrindo a Paisagem Cultural de Campo Grande, lançado pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), que mapeia 294 imóveis da ZEIC II na cidade.
"Esse catálogo foi um divisor de águas. Ele reúne informações técnicas, fotos e localização de 294 imóveis protegidos. Com ele, conseguimos fiscalizar melhor, orientar proprietários e fundamentar nossas ações judiciais. Está disponível para toda a população", pontua a promotora.
A casa restaurada é o imóvel número 132 do catálogo.
Enquanto sua memória foi preservada, outros locais ficaram apenas na lembrança, como é o caso do imóvel 285, localizado na Rua Vasconcelos Fernandes, que abrigou uma casa histórica e hoje é apenas um terreno coberto por mato.
"Preservar não é só manter o velho como ele era. É dar a ele um novo papel, uma nova vida, incorporando sustentabilidade, tecnologia e novas possibilidades de uso. É assim que o passado segue vivo no presente", ressaltou a arquiteta Thathyane Sangali.
O catálogo dos imóveis protegidos está disponível à população e pode ser acessado clicando AQUI.









Reprodução obra "A procura da caça", de Lúcia Martins
“Onça que Chora”, um dos trabalhos inéditos da nova exposição
Reprodução obra Florescer no Pântano, de Lúcia Martins


