Nathalia Dill gosta de alinhar suas pretensões artísticas com os convites que surgem dentro da Globo. A atriz sabe que não é todo dia que aparecem trabalhos assim, é por isso que ela trata cada novo bloco de capítulos de “A Dona do Pedaço” com tanto cuidado. No ar na pele da vilã Fabiana, a atriz se mostra empolgada em viver uma ex-religiosa cheia de ambição e que não mede esforços para conseguir o que quer. “Fabiana comete atrocidades sem pestanejar ou perder a pompa de quem quase tornou-se freira. Como se a vida religiosa fosse um salvo conduto de honestidade. É uma personagem muito plural e indomável, faltava uma vilã dessas na minha carreira”, valoriza.
A carioca Dill estreou na tevê em 2006, com uma pequena participação em “Mandrake”, da HBO. Seu nome começou a ficar conhecido, entretanto, por conta de seu bom desempenho como a vilã Débora, de “Malhação”, onde ficou de 2007 a 2009. “Foi um belo cartão de visitas. Minha carreira se desenvolver a partir deste trabalho”, valoriza. Disputada por produções na Globo, Dill logo chegou ao posto de protagonista em tramas como “Escrito nas Estrelas”, “Alto Astral” e “Orgulho e Paixão”. Aos 33 anos, ela parece não se importar muito com o posto e está mais interessada em quão subversivas suas personagens podem ser. “Gosto do que foge da mesmice. Até mesmo as mocinhas que fiz tinham posturas menos tradicionais. A tevê tem me dado boas oportunidades e eu aproveito todas de verdade”, ressalta.
P - Você recusou papéis de destaque para outras tramas de Walcyr Carrasco como “Amor à Vida” e “O Outro Lado do Paraíso”. O que a fez acertar sua participação em “A Dona do Pedaço”?
R - Acho que “recusou” é uma palavra muito forte. Adoraria ter trabalho com o Walcyr nessas duas novelas, mas também estava comprometida com outros projetos e, na conversa com a direção de teledramaturgia da Globo, ficou decidido que eu faria “Joia Rara” em vez de “Amor à Vida” e que o intervalo entre “Rock Story”, onde fiz personagens gêmeas, e “O Outro Lado do Paraíso”, seria muito curto. No meio do caminho, fiz uma participação deliciosa nos primeiros capítulos de “Êta Mundo Bom!” (2016) e ficou essa vontade de trabalhar de novo em alguma obra dele.
P - Nas duas novelas anteriores você foi convidada para viver a mocinha. O fato de a Fabiana ser uma vilã pesou na hora de se envolver com o projeto?
R - Não tenho nada contra mocinhas. Me diverti muito fazendo a Elisabeta em “Orgulho e Paixão”, uma novela das seis bem tradicional, baseada em livros clássicos. Mas é claro que quando li o roteiro da Fabiana, o texto me impressionou. As viradas e referências do desenho da personagem são instigantes para qualquer atriz.
P - Em que sentido?
R - A Fabiana nunca teve vocação para freira. Ela vai parar em um convento por questões alheias aos desejos dela. Por muito anos, ela leva uma vida pacata e não sabe muito bem o que está além desse muro de religiosidade. Muita gente se utiliza da religião para esconder certos desvios de caráter e abordar isso é muito interessante. Além de ser muito corajoso da parte do autor.
P - Por quê?
R - É uma novela das nove. Está todo mundo de olho. As reações da igreja e de telespectadores em relação a questões religiosas nas tramas costumam ser muito fortes. A gente já esperava isso e tudo foi feito de forma muito bacana para que a Fabiana começasse a desenvolver suas maldades aos poucos. Antes ela teria de conquistar o público.
P - E como é essa resposta nas ruas e redes sociais?
R - Estranhamente, grande parte do público torce por ela e ficou muito feliz com a “virada” da personagem, que ganhou novas roupas e corte de cabelo mais moderno. Acho que Fabiana mexe um pouco com a ambição e com aquele questionamento recorrente que muita gente se faz: “E se a minha vida fosse diferente?”. Confesso que essa aprovação dela é meio assustadora (risos).
P - Como foi o processo de preparação para encarar essas ambiguidades?
R – Então... Eu fui na base da vilania. Corri para a internet e assisti a muita coisa da Laura de “Celebridade”, da Nazaré de “Senhora do Destino” e da Carminha de “Avenida Brasil”. São três personagens que queriam viver o cotidiano de outras pessoas. Ao mesmo tempo, vi que o texto do Walcyr tinha umas brechas propositais sobre as reações da personagem. Como se ele quisesse deixar tudo em aberto caso tenha de movimentar a história.
P - É mais difícil trabalhar dessa forma?
R - É uma novidade para mim e confesso que estou gostando muito. Tenho de estar preparada para tudo. Por conta disso, acabo fazendo a Fabiana como uma vilã que não sente nem as coisas boas e nem as maldades que ela faz para os outros. Ela segue muito plena e sem se interessar tanto pelas marcas que deixa. Um dos lados será intensificado até o final (risos).
P - Você estreou na tevê como vilã em “Malhação”, encarou diversas mocinhas e vem seguindo por um caminho cada vez mais diversificado. Você traça estratégias para sua carreira ou isso simplesmente acontece?
R - É um pouco de cada coisa. Não escolho minhas personagens pelas bondades e maldades, mas pela mensagem e representatividade das histórias. A primeira vez que pensei na minha carreira a longo prazo foi depois da Santinha, de “Paraíso”. Achei que estaria fadada a viver mocinhas pelo resto da vida (risos). Mas, aos poucos, você vai mostrando e as pessoas vão percebendo que todo mundo perde quando uma atriz passa a se repetir sempre. Tive a sorte de ter autores e diretores pensando no meu nome para os papéis mais loucos. É por esse caminho que quero seguir.
DOSE DUPLA
Com uma carreira bem diversificada, Nathalia Dill já provou que consegue desenvolver mocinhas e vilãs com a mesma desenvoltura em novelas como “Alto Astral” e “Liberdade, Liberdade”. Foi por conta dessa versatilidade que Dennis Carvalho a escalou para viver as gêmeas Julia e Lorena de “Rock Story”, novela exibida ao longo de 2016. “Acho que toda atriz tem o sonho de viver gêmeas e me veio na hora a figura da Glória Pires em 'Mulheres de Areia'. Foi uma novela muito trabalhosa, mas o resultado foi lindo”, valoriza.
Na história, Julia tinha inclinações para a bondade e Lorena, para vilanias. Entretanto, ambas eram capazes de atitudes pouco nobres para chegar aos seus objetivos. A falta de maniqueísmo das personagens foi mais um atrativo para Dill, mas exigiu muito mais de sua atuação. “Tive de buscar um caminho mais sutil para que elas não ficassem muito engessadas em arquétipos do bem e do mal. Me dediquei a muitas sessões de fonoaudiologia para que elas tivessem vozes e entonações diferentes. Isso foi importante e me fez pensar e criar uma série de detalhes para identificá-las e com isso dar o colorido e a versatilidade de cada uma”, explica.
OUTROS ARES
Depois de muitos anos de trabalhos seguidos dentro da Globo, Nathalia Dill enfim conquistou merecidas férias ao longo do ano de 2017 e início de 2018. “Tive um pouco de culpa nesta jornada porque quis muito estar em alguns projetos. Mas chega uma hora em que é preciso pisar no freio”, conta a atriz.
Em vez de realmente descansar em casa, o que Dill queria mesmo era ter tempo para desenvolver projetos no cinema e no teatro, que ela acaba deixando em segundo plano por conta de seus compromissos com a teledramaturgia. No período, a atriz se envolver com a produção dos longas “Por Trás do Céu”, “Talvez Uma História de Amor” e “Incompatível”. Além disso, depois de oito anos longe dos palcos, protagonizou o espetáculo “Fulaninha e Dona Coisa”. “Fiz coisas leves, outras mais cerebrais. Por fim, viajei muito e interagi com universos diferentes. Não descansei, mas aprendi bastante. Voltei às novelas renovada”, garante.
INSTANTÂNEAS
# Nathalia Dill descobriu sua vocação para a atuação ainda criança, incentivada pelas peças produzidas na escola.
# A atriz se dedicava ao teatro quando foi selecionada para uma pequena participação em “Mandrake”, série da HBO.
# A boa impressão que teve sobre os estúdios de televisão a incentivou a fazer um teste para “Malhação”, em 2006. Ela ficou na produção por três temporadas, de 2007 a 2009.
# Dill namorou por dois anos o ator Sérgio Guizé, com quem divide a cena em “A Dona do Pedaço”. Atualmente, ela está noiva do músico Pedro Curvello.