Depois de uma labuta de pelo menos sete anos, do roteiro à finalização, e de ter conquistado o prêmio de Melhor Filme do Bonito CineSur 2025 segundo o júri oficial, “Enigmas no Rolê”, longa-metragem de estreia de Ulísver Silva, vem ganhando o Brasil, com exibições em vários estados, ao integrar a 8ª Mostra Sesc de Cinema.
Em Campo Grande, a mostra está sendo realizada durante esta semana, no Sesc Teatro Prosa, com sessões gratuitas desde quarta-feira até amanhã.
O longa de Ulísver é o filme de encerramento, amanhã, a partir das 16h, com direito à presença do diretor, do elenco e de diversos integrantes da equipe de realização.
Os ingressos devem ser reservados pela plataforma Sympla. Ambientado na Capital, “Enigmas no Rolê” apresenta uma narrativa, ainda que leve, de colorações (melo) dramáticas, conduzida com segurança e despojamento, para dar conta da relação entre um tio e dois sobrinhos a partir do que se anuncia como um presente: um par de ingressos.
Eduarda (Maria Rita Franco) e Edinho (Raul Henzo) moram no interior de MS, estão loucos para curtir o show de um rapper em Campo Grande, mas Carlos (Felipe Lourenço), pai dos dois adolescentes, que já corta um dobrado para pagar as contas do mês, não tem grana para bancar o programa.
É quando Andread (Guilherme Godoy), o tio salvador da pátria, surge em cena com uma oferta de encher os olhos dos sobrinhos. Ele vai comprar os ingressos e a dupla vai poder, sim, ficar hospedada em sua casa.
Ao chegar por lá, as coisas não são bem assim. Estudante de física e vidrado em jogos de desafios lógicos, Andread não quer perder a oportunidade de estimular o raciocínio de seus jovens familiares por meio da ferramenta que ele mesmo experimentou quando ainda estava na escola.
Há resistência e adesão por parte dos sobrinhos, que ora se sentem ludibriados, ora se empolgam com os problemas, que se apresentam com e sem aviso prévio.
Mas há também uma roupa suja familiar que se lava por embates variados: entre irmãos (Eduarda x Edinho ou Carlos x Andread), entre tio e sobrinhos ou entre pais e filhos.
Tudo se dá num diapasão – enredo, direção de arte, tom das interpretações – infantojuvenil, mas sem zombar da inteligência da molecada ou dos mais adultos que se prestarem a acompanhar essa sensível aventura teen, que cresce ainda mais em suas implicações para o cinema de Mato Grosso do Sul ao focar num elenco de afrodescendentes.
Primeiro negro a assinar a direção de um longa-metragem no Estado, Ulísver quis espelhar a sua origem na trama e na estampa do filme. Então, do inglês Lewis Hamilton, multicampeão da Fórmula 1, ao rap, que vaza do enredo para a trilha musical, o apelo e a sensibilidade black orientam a pegada de “Enigmas no Rolê” sem militância ou proselitismo gratuitos.
Sequências de animação, em técnicas variadas, para desenvolver os problemas de lógica dão um fôlego a mais ao andamento do longa, que talvez apenas se ressinta de um certo dinamismo na parte final.
Com direção de Antônio Pitanga, “Malês” traz o veterano ator baiano de volta à direção 46 anos após seu primeiro longa, “Na Boca do Mundo” (1978).
A labuta de Pitanga para materializar nas telas sua versão para a histórica revolta de escravos de origem islâmica na Salvador (BA) de 1835 levou nada menos que uma década, mostrando que nem para um nome consagrado, como é o seu caso, o sucesso basta quando se tenta encenar – ou tornar público por meio de qualquer outra expressão – o infortúnio dos negros no Brasil.
Além de dirigir, o eterno Firmino de “Barravento” (1959/1962) está em cena, no papel de Licutan. Camila (Sabina) e Rocco Pitanga (Dassalu), filhos do ator e diretor, também integram o elenco, assim como Patrícia Pillar (Mamãe) e Heraldo de Deus (Vitório Sule).
Com roteiro de Manuela Dias, o filme, além de luta e resistência, envolve o maior insurreição de escravizados do País num enredo com espaço para amor, reencontro, acolhimento e reconhecimento. A conferir.
Em tempo: no programa de hoje da Mostra Sesc (Entre a Ficção e o Real), o público pode conferir mais quatro curtas sul-mato-grossenses – “Flores na Máquina”, de Diefferson G; “Sebastian”, de Cainã Siqueira; “Colar de Pérolas”, de Ana Letícia Moura; e “Metástase”, de Iulik Lomba de Farias.

Neli Marlene Monteiro Tomari e Yosichico Tomari, que hoje comemoram bodas de ouro, 50 anos de casamento - Foto: Arquivo Pessoal
Donata Meirelles - Foto: Marcos Samerson


