Brasília (DF) acaba de fazer aniversário. A capital federal e centro do poder político do País completou 65 anos ontem, reafirmando o seu lugar como uma das maiores referências mundiais em urbanismo e arquitetura.
Fruto da genialidade de Lucio Costa (1902-1998), Oscar Niemeyer (1907-2012), Athos Bulcão (1918-2008) e Burle Marx (1909-1994), a cidade foi pensada para expressar nada menos que modernidade, integração e liberdade.
O arquiteto e urbanista Alberto de Faria revela curiosidades que ajudam a entender o que torna Brasília tão especial e por que sua preservação é um desafio contínuo. Confira, a seguir, 10 curiosidades arquitetônicas da capital nacional.
AVIÃO?
Brasília tem a forma de um avião? Uma das curiosidades mais populares sobre a cidade é a ideia de que ela foi desenhada no formato de uma aeronave.
Segundo o especialista, essa interpretação é mais lúdica do que técnica: “A forma decorreu de um ajuste das superquadras residenciais ao terreno”. Faria ainda explica que o nome Plano Piloto pode ter reforçado essa imagem popular.
EIXO MONUMENTAL
O arquiteto e urbanista Lucio Costa defendia que o Plano Piloto fosse preservado em sua totalidade, com ênfase no Eixo Monumental como sua espinha dorsal.
“O Eixo começa na Esplanada dos Ministérios e termina na Estação Ferroviária, consolidando um espaço urbano único e simbólico, sem possibilidades de expansão”, ressalta Faria.
SEM ESQUINAS
Ao contrário do modelo tradicional de cidades, Brasília foi planejada sem esquinas. A separação de pedestres e veículos estruturou uma nova dinâmica urbana.
“Os encontros aconteciam nas áreas verdes entre os comércios e as superquadras, sem cruzamento com fluxos de veículos”, pontua. Essa configuração, porém, também trouxe desafios, como a dificuldade de consolidação comercial da Avenida W3 Sul.
PARQUE DA CIDADE
Entre as surpresas menos conhecidas, Faria destaca o tamanho do parque, que conta com 420 hectares, o que equivale a 4,2 quilômetros quadrados.
“O Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek é maior do que o Central Park de Nova York. É um espaço de convivência amplo e democrático, muito utilizado pela população de todas as idades”, diz o especialista, que é professor e coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Brasília (Ceub).
SUPERQUADRAS
A SQS 308 foi construída integralmente conforme o projeto urbanístico de Lucio Costa, consolidando o conceito da superquadra: conjunto residencial integrado a atividades de escola, recreação e espiritualidade.
“Ela virou referência para a construção das demais quadras ao longo do tempo”, conta.
Uma curiosidade adicional é a participação do arquiteto João Filgueiras Lima (1931-2014), o Lelé, que depois projetaria os hospitais da Rede Sarah Kubitschek.
OS PILOTIS
Os pilotis da capital também são um exemplo singular de integração urbana. Muito além do visual icônico, eles representam um conceito social fundamental.
“Eles materializam a intenção da liberdade de circulação e utilização dos espaços urbanos de forma livre por todos”, aponta o professor. Os pilotis integram os espaços públicos e privados, promovendo a apropriação das áreas verdes por toda a população, sem cercas nem barreiras.
MONUMENTALIDADE
A monumentalidade de Brasília foi considerada símbolo de um novo Brasil. Segundo o arquiteto e professor, a cidade foi projetada para expressar a transformação do País.
“A obra de Niemeyer estabelece referências visuais desse novo Brasil, moderno e com oportunidades para todos”, afirma.
Elementos como as colunas do Palácio da Alvorada foram amplamente copiadas em todo o mundo nas décadas de 1960 e 1970, reforçando a identidade da nova capital.
AZULEJOS
Se há controvérsias relacionadas à exploração da mão de obra de imigrantes de outras regiões do País, um contraponto a isso se tornou exemplo da quebra de hierarquia nas equipes de trabalho das edificações.
Os icônicos painéis de azulejos de Athos Bulcão guardam uma história curiosa.
“Os painéis eram montados com liberdade pelos operários”, relata Faria.
Athos estabelecia regras geométricas para guiar o trabalho, permitindo uma grande variedade de combinações sem perder a harmonia estética.
IGREJINHA DE FÁTIMA
Primeira igreja católica de Brasília, a Igrejinha Nossa Senhora de Fátima (na Superquadra 308 Sul) é um exemplo da colaboração entre arquitetura e arte.
“O projeto de Niemeyer, com os painéis de Bulcão, cria espaços acolhedores para reflexão espiritual, trazendo referências de liberdade e desenvolvimento espiritual”, destaca.
BURLE MARX
O paisagista e artista plástico deixou um legado na construção do conceito urbano de Brasília.
“Jardins emblemáticos, como o terraço-jardim do Itamaraty, permanecem como testemunho de sua genialidade. Porém, seu trabalho em paisagismo sofreu com a ausência de manutenção nas áreas públicas, o que causou certa descontinuidade, especialmente na ligação entre a Torre de TV e a Rodoviária do Plano Piloto”, lamenta o arquiteto.
Assine o Correio do Estado