Correio B

HOMENAGEM

Portugueses ajudam a construir Campo Grande
há mais de 100 anos

Câmara Municipal fará sessão solene em memória de 29 filhos do além-mar

NILCE LEMOS

02/06/2015 - 00h00
Continue lendo...

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário. 
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas. 
Se achar que precisa voltar, volte! 
Se perceber que precisa seguir, siga! 
Se estiver tudo errado, comece novamente. 
Se estiver tudo certo, continue. 
Se sentir saudades, mate-a. 
Se perder um amor, não se perca! 
Se o achar, segure-o!

         (Fernando Pessoa)


Se estiver tudo certo, continue”. O verso do poeta Fernando Pessoa (1888-1935) traduz o que os seus conterrâneos sentiram quando chegaram em 1911 à Vila de Santo Antônio - que viria a ser Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul - em busca da concretização de sonhos, embalados pela esperança de trabalho no então presente, com os olhos voltados para o futuro na nova terra, sem esquecer do passado de além-mar. Eduardo dos Santos Pereira, foi o primeiro. Nomeado em Cuiabá, então capital do Mato Grosso, como Tabelião e Oficial do 2º Ofício de Notas e 1ª Circunscrição do Registro Civil das Pessoas Naturais, aqui se instalou definitivamente (ele chegou ao Brasil aos 14 anos). Nos anos que se seguiram, outras famílias vieram e contribuíram para o desenvolvimento de Campo Grande, como os Tomé, Curado, Estevão, Damião. Mais de 100 anos depois, a Câmara Municipal homenageará 29 pessoas – in memoriam- que ajudaram na construção da cidade, em evento no próximo dia 03 de junho. Esses pioneiros, para manter as tradições, também criaram o Centro Luso Português

Durante entrevista ao Portal Correio do Estado, o presidente da Associação Luso-Brasileira, cônsul honorário Fernando Santos Gonçalves - que estava acompanhado por Maria Licina Tomé Veríssimo Gonçalves e Maria de Fátima Corado Gabriel, ambas integrantes da entidade -, disse que a família Tomé, por exemplo, ‘‘construiu cerca de 80% da cidade”. Ele citou construções como os quartéis no Bairro Amambaí, vila dos oficiais na Rua Barão do Rio Branco, Avenida Duque de Caxias, Praça e o colégio Newton Cavalcante, reforma e ampliação do Quartel General da 9ª região Militar, Cassino dos oficiais, Hospital São Julião, o hospital da Santa Casa na Avenida Mato Grosso, agência dos Correios da Calógeras, o Cine Santa Helena (no local hoje é um empreendimento comercial), Edifício São Tomé, antigo relógio, Hotel Colombo, o Obelisco, além do loteamento como Vila Independência.

Assim como os Tomé, várias famílias chegaram em 1912. Na época, segundo o cônsul,  o que atraía os portugueses era a oportunidade de trabalhar na construção da estrada de ferro, em busca de novas perspectivas para suas vidas. Fernando disse que  apenas os homens viajavam para o Brasil e, só depois de se estabilizarem, eles buscavam esposas e filhos. 

Com o passar dos anos, várias famílias já estavam em Campo Grande e para manter a cultura portuguesa viva na nova terra que escolheram, criaram em 1929  o Centro Beneficente Português, que reunia cerca de 15 famílias, um total de 100 pessoas. No encontro havia demonstrações de dança, grupos de folclore, gastronomia, entre outras atividades. A ideia era unir os portugueses que estavam aqui, onde um auxiliava o outro.

Hoje, o então Centro se tornou a Associação Luso-brasileira, localizada no Clube Estoril, que reúne cerca de 2.500 associados, entre portugueses, descendentes e não-portugueses. 

A tradição se mantém viva e não se perdeu o costume de festejar a cultura de origem. Para isso, há a promoção de duas grandes festas principais.

Em 12 de abril o clube realiza, por exemplo,  o arroz de braga. Aberto ao público, todos podem provar esta delícia da culinária portuguesa. Outro grande evento que reúne mais de mil pessoas todo ano, é a sardinhada, que acontece em outubro. Nesse evento, a associação recebe 600 kg de sardinha que servem todos os convidados da festa, além de petiscos como linguiças portuguesas e outras delícias.

Fernando Santos Gonçalves com  Maria Licina Tomé Veríssimo Gonçalves e Maria de Fátima Corado Gabriel

 O CLUBE 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Clube Estoril – Centro Beneficente Português, foi fundado em 14 de Julho de 1929, pelos primeiros integrantes da Colônia Portuguesa que chegaram ao sul do Estado de Mato Grosso, ainda não dividido, atraídos pela construção da Estrada de Ferro. A princípio era chamado de Centro Beneficente Português, mas com o passar dos anos, foi intitulado Associação Luso-Brasileira e mais tarde, se integrou ao Clube Estoril. O objetivo da associação era manter viva as tradições culturais de Portugal, promovendo eventos, encontros culturais, esportivos e sociais. 

O nome do clube é uma homenagem a cidade portuguesa de Estoril, uma cidade nobre com casinos famosos, referência em Portugal.

No local, os associados têm serviços como pilates, natação, musculação, sauna, tênis, hidroginástica, quiosques para reunir a família e aproveitar o dia. Para ser um associado, entre em contato pelo telefone (67) 3312-0400.

 PADROEIRA 

A padroeira de Portugal é Nossa Senhora de Fátima. Em Campo Grande, nos dias 13 de maio e 13 de outubro de cada ano, celebram-se com grande festa em honra a Nossa Senhora de Fátima, missas, que representam sempre a primeira e última aparição de Nossa Senhora de Fátima, respectivamente. Essas celebrações são acompanhadas todos os anos por muitos portugueses, descendentes de portugueses e sócios do Clube Estoril, que prestam sua devoção a Nossa Senhora através da padroeira de Portugal, sempre mostrando muito amor, alegria e fé em todas as celebrações.

 

 HOMENAGEM

Na quarta-feira (03), a Câmara Municipal comemora as 19h, o Dia da Comunidade Portuguesa, homenageando 29 pessoas, in memoriam, que contribuíram para Campo Grande.
São eles:
Antonio Maria Seco Tomé
Antonio Pereira Veríssimo
Joaquim Gonçalves Corado
Joaquim Pereira Gabriel
Antonio Ferreira Damião
Manuel Dias Leal
José Joaquim
Luiz Lousinha
Ernesto Rodrigues
Jorge Évora Arcenço
Antonio Gomes Pedrosa
Arlindo Gomes Pedrosa
José de Oliveira
Manuel Secco Tomé
João Batista Fernandes
Agostinho Cação
José Francisco de Paula Brito
José Carlos da Paz
José Maria Alves da Rocha
Antonio Vendas
Manuel Estevão Junior
Antonio Gaspar
Eduardo Santos Pereira
Joaquim Secco Tomé
Antonio Rodrigues
Conceição Ferreira
Francisco Gonçalves da Cruz
João Figueiredo
Manuel Augusto Dias

Diálogo

O deputado estadual Pedrossian Neto arrumou um jeito curioso, para não dize... Leia a coluna de hoje

Leia a coluna desta quinta-feira (11)

11/12/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

Continue Lendo...

Mario Sergio Cortella - escritor brasileiro

Quando estiver no fundo do poço, a primeira coisa a fazer para sair dele é parar de cavar”.

Felpuda

O deputado estadual Pedrossian Neto arrumou um jeito curioso, para não dizer outra coisa, para criticar a administração da prefeita Adriane Lopes. Criou o “Gênio da Bota” (em alusão ao calçado que ela usava 
durante a campanha eleitoral para percorrer os bairros), ao qual “faz perguntas” com duas opções de respostas e sempre recebe aquela que prejudicaria Campo Grande. O parlamentar já afirmou que um dos problemas dela é o seu entorno do primeiro escalão. Como disse político irônico tanto quanto: “E nem precisou perguntar para o gênio...”

Cantata

Hoje, às 19h, no Teatro da Faculdade Insted, acontecerá a Cantata de Natal, com a apresentação da Orquestra Jovem da Fundação Barbosa Rodrigues.

Mais

O evento, que é promovido pelo Correio do Estado, também contará com as participações do Coro Lírico Cantarte, do Coro Mokiti Okada e das dançarinas do Studio Nidal Abdul.

Diálogo

 

DiálogoDra. Viviane Orro e Felipe Orro

 

DiálogoKarina Granella e Lu Lacerda

Retalhos

A própria Câmara Municipal de Campo Grande reconhece que as 731 emendas dos vereadores à Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2026 foi um recorde. A proposta está prevista para ser votada na terça-feira. A LOA estima a receita e fixa as despesas do Município na ordem de R$ 6,974 bilhões, crescimento de 1,49% no comparativo com o estimado para 2025, que é de R$ 6,871 bilhões. No total, foram recebidas 736 emendas, sendo 731 consideradas aptas para discussão e votação após análise técnica e jurídica.

Obrigatórias

Constam na proposta 317 emendas impositivas, que são indicadas pelos vereadores e obrigatoriamente precisam ser executadas pela prefeitura. Cada vereador destinou R$ 830 mil em emendas, sendo metade deste recurso direcionado para a área da Saúde. O relatório final contempla ainda 410 emendas ordinárias e 4 de redação. Na proposta consta o detalhamento de todas as receitas e despesas.

Incógnita

Quem deverá desembarcar em Campo Grande para se reunir com pré-candidatos do PT, neste domingo, é o presidente nacional do partido, Edinho Silva. O encontro dele será marcado por uma situação inusitada: até o momento, não há nome que possa ser tratado como pré-candidato a cargo majoritário. O ex-deputado federal Fábio Trad é uma incógnita, tendo em vista que ainda não foi convencido a aceitar a missão. Pelo jeito, será uma reunião política meia-boca.

ANIVERSARIANTES

Heleonora Alves Herculano Vasconcelos,
Carlos Alberto Andrade e Jurgielewicz, 
Patricia Barreto Flud Ibrahim, 
Marcelo Alfredo de Araújo Kroetz, 
Lara Saboungi Sleiman, 
Cesar Augusto Moraes de Almeida,
Genésio de Oliveira,
Adalberto Lima Fernandes,
Elvira Ferreira de Lima,
Ivone Figueiredo Soares Abud,
Kazumi Nakasse (Roberto),
Licia Kim Kominató,
Jean Patrick Bortoloti,
Daniel Viegas Alonso,
Zendi Miyashita,
Maria do Socorro de Jesus Corvala Vilanova,
Luciana Penha Luz de Souza,
Walison Verissimo da Silva,
Andressa Mauro,
Edevaldo Ramos Deknes,
Robison Gatti Vargas, 
Dr. Ricardo Zimmermann, 
Walter Aparecido Bernegozzi,
Wellington Castro da Silva,
Waldir Vicente Thomazi, 
Edilaine Assef Maslum,
Andréa Tathiane Nascimento Camargo Fontoura,
Marcieli Cristina de Souza,
Francisco Emanoel Albuquerque Costa,
Hugo Souza Paes de Barros,
Carla Ifram Sandim,
Waldete Ribeiro Acosta,
Miguel Matarezio,
José Luiz Biss,
Cláudia Cardoso,
Helena Pereira Rosa,
Maria das Dores Batista de Arruda,
Kellen Gonçalves da Silva,
Maria Consuelo Lima Arguelho,
Rosalina Pereira Nunes,
Valdenor Angelo Correa, 
Reinaldo Vilela de Moura Leite, 
Alfeu Cândido,
Milka Santos Ascenço,
Wilson Adão Gomes,
Maria Zélia Teixeira Seabra,
Francisco Tawada,
Amilcar da Cruz Bandeira Filho,
Loir Siravegena Figueiredo,
Carlos Amaury Mota Azevedo,
Paulo José Dietrich,
Rogerio Luis Poiatti,
Mário Oshiro,
Terezinha Furuguen,
Elvira Menezes da Silva,
Cecília de Oliveira Duarte,
Osmar do Espírito Santo,
Marly Valdez Freitas,
Eurico Arruda de Souza,
Maria de Lourdes Cardoso,
José Carlos Mendonça,
Maria Emília Oliveira,
João Furtado Mendonça,
Carlos Alberto Ramos Charbel,
Dr. Fábio Ricardo Lopes,
João Beltran,
Lidiane Basso de Alencar,
João de Paula Ribeiro Junior,
Geovah Paulino Araújo Filho,
Ivone Carniato Almeida,
Márcio Viana Nunes,
Amaury Camargo de Barros,
Euclair Rodrigues Aguero,
Nivaldo Fausto de Araújo,
Paulo Barbosa Alves,
Maria Duarte Gonçalves Silva Azevedo,
Margarida Gomes Marques,
Guilherme Kinjo,
Celso José Vasconcelos, 
Ilma Dias Macedo,
Acynaíla Antonia de Queiroz,
Cláudio Edmar,
Dr. Dey Leite Bueno,
Ana Paula Barbosa Colucci,
Diana da Conceição Santana,
Tsune Tosi Oshiro, 
Dra. Márcia Zeferino Chaves, 
Ana Paula Brunharo,
Charles André Schaefer,
Antonio Carlos Nunes de Oliveira,
Edmundo Lino da Silva,
Isabel Cristina Galvão Marques,
Israel Massato Yamaguschi,
Roberto Rodrigues de Almeida,
Clair Siqueira Campos,
Nei Juares Ribas,
Vera Carmem de Campos Puorro,
Mauricio Vieira Gois,
Hitoshi Mitani,
Paulo Cesar Vieira de Araújo,
Antonio Tomazoni Cavagnolli,
Cleidson Ferreira de Brito,
Maria Aparecida Lopes Cunha,
Juliana Vilalba Monteiro Wolf,
Álvaro Hidemitsu Kinashi,
Luis Henrique Correa Rolim

*Colaborou Tatyane Gameiro

MÚSICA E ENTREVISTA

"As canções resistem ao teste do tempo, não entrevistas"

Em entrevista ao Correio B, o vocalista e guitarrista Philippe Seabra, de 59 anos, da banda Plebe Rude, que se apresenta amanhã no Araruna Fest, lamenta a autodestruição do meio rocker e fala sobre seus projetos para 2026

10/12/2025 10h15

Peble Rude, sucesso do rock dos anos 80 se apresenta em Campo Grande

Peble Rude, sucesso do rock dos anos 80 se apresenta em Campo Grande Caru Leão

Continue Lendo...

Philippe Seabra
Peble Rude, sucesso do rock dos anos 80 se apresenta em Campo GrandePhilippe Seabra - Foto: Reprodução redes sociais

O show é baseado no repertório que temos apresentado este ano, celebrando os 40 anos do disco de estreia, “O Concreto Já Rachou”, com os dois membros fundadores, André X, no baixo, e Philippe Seabra, nos vocais, violão e guitarra.

Clemente, vocalista e guitarrista, também líder dos Inocentes, está na banda há 22 anos. E Marcelo Capucci, na bateria da banda, há 16 anos.

Será o bom e velho Plebe, mas com um vigor de iniciante. Como as letras da banda não envelhecem, o clima tem a mesma urgência que nos propeliu no início da década de 1980.

O show está lindo, com som de primeira e luz e vídeo sincronizados. Mas isso é detalhe. O importante é a banda e o legado e, como faremos 45 anos de banda ano que vem, creio que não seja pretensioso se falar de legado.

Campo Grande

Estaremos na cidade pela segunda vez [o primeiro show foi no Clube Estoril, em março de 2019]. O único estado em que ainda não tocamos no nosso querido e confuso Brasil é o Acre.

Peble Rude, sucesso do rock dos anos 80 se apresenta em Campo GrandePhilippe Seabra - Foto: Caru Leão

Por algum motivo, é muito raro sermos convidados a tocar no Mato Grosso do Sul. Sei que tem um público roqueiro muito bom, sedento por música consciente. A cultura brasileira que chega à grande mídia está atrofiando. Uma banda com som consciente é sempre bem-vinda. É necessário.

ZERØ

Peble Rude, sucesso do rock dos anos 80 se apresenta em Campo GrandeGuilherme Isnard, do ZERØ - Foto: Gabriel Fagundes

Guilherme [Isnard] foi um dos primeiros da cena paulista que conhecemos, quando ainda era ainda do Voluntários da Pátria [1982/83]. Deu muita força, muita força mesmo, às bandas de Brasília. ZERØ e Plebe tocaram muito juntos.

Foi quem marcou nossos primeiros shows em São Paulo, lá em 1983/84. E ainda considero o disco “Passos no Escuro” [primeiro álbum do ZERØ, de 1985, com os hits “Formosa” e “Agora Eu Sei”, que tem participação de Paulo Ricardo] o melhor dos anos 1980.

Pós-Punk

Eu e o André [André X Mueller, baixista e fundador] estamos nessa jornada desde o início, que em julho do ano que vem fará 45 anos! É difícil definir o som da Plebe. Deixo para terceiros. Para mim, não soa como nada além de Plebe.

Claro que tem uma forte influência do pós-punk, mas definir? Importante que é um som consciente. Forte, mas consciente do seu papel na MPB, um contraponto. A longevidade da Plebe se deve ao fato de eu e o André sermos grandes amigos, ao contrário de alguns dos nossos conterrâneos, todos parecem se odiar. E, claro, ainda sentimos a necessidade de nos expressar. E como...

Sucesso

Plebe seria mais pós-punk, assim como quase todo o rock oitentista no Brasil, que bebeu na fonte e politização de bandas como The Clash. Mas, sim, em termos de mainstream, Camisa [de Vênus] e Plebe são os maiores expoentes, assim como os Inocentes, que recentemente fizeram o festival The Town, em São Paulo.

Afinal, levamos músicas no Chacrinha como “Proteção”, “Até quando Esperar”, “Minha Renda” e, mais impressionante, numa demonstração de que a abertura democrática estava realmente sedimentada, a música “Censura”, então recém-censurada [em 1987].

Novas e Antigas

Por incrível que pareça, a atualidade assustadora das músicas da Plebe me incomoda um pouco. Claro que, como artista e compositor, fico feliz com a longevidade e a relevância da obra, mas, como pai e cidadão, fico zangado. É a constatação de que o Brasil não mudou nada. O “Nação Daltônica”, de 2015, é um disco muito forte.

Músicas como “Quem Pode Culpá-lo “ e “Anos de Luta” são, assim como as outras, bem atemporais. Mas a obra mais recente, “Evolução”, volumes 1 [2019] & 2 [2023], com 28 músicas inéditas, para mim, é um trabalho sem igual.

Afinal, tivemos a nada pretensiosa missão de contar a história do Homo sapiens desde o despertar da consciência, há 200 mil anos, até os dias de hoje. Mas, ao ouvir, tem que ouvir na ordem. Mais uma vez, a atualidade das letras é assustadora. E a produção, literalmente monumental.

Público atual

O que tenho visto ultimamente, ainda mais nos shows mais recentes, como em Belo Horizonte, Curitiba e Aracaju, é a renovação do público da Plebe. É um público curioso, que provavelmente conheceu a banda através do YouTube e das redes sociais, que romantiza uma época em que música realmente fazia parte das vidas das pessoas.

Quando caçulas, herdavam discos dos irmãos mais velhos, tinham receivers [equipamento de áudio] e toca-discos em casa. Hoje em dia, música mais parece um ruído de pano de fundo que as pessoas escutam ao navegar por bobagens na internet.

São fãs que realmente conhecem bem a obra e cantam tudo. Mas claro que tem a galera da década de 1980, todos curtindo. É muito bonito de se ver. Já se fez música séria neste país, e bandas como Plebe são fundamentais para ajudar a manter essa chama acessa.

O que não se pode ter é um bando de artistas cheios de opiniões, bravando em entrevistas e em blogs, mas, na hora de cantar sua verdade, só pop insosso. Letras bobas e vazias. Coerência é o mínimo que peço.

Um Livro?

“O Cara da Plebe” [2024] tem 640 páginas. Lançamento nacional pela editora Belas Letras. Eu senti que era hora de contar a minha história além das letras da Plebe, e com a cultura brasileira atrofiando sob o peso de música insossa, nada mais imediato.

Olha que trabalho com projetos grandes, discos próprios ou produção dos discos de outros artistas, trilhas sonoras de cinema. O mais recente foi a produção luso-brasileira “Sobreviventes”, está no YouTube para aluguel, com participação de Milton Nascimento em quatro das minhas músicas.

Estou acostumado com projetos monumentais. Por exemplo, a gravação dos dois volumes de “Evolução”, que demorou oito meses. Mas um livro? Pensei que nunca acabaria. Todo o processo de “Evolução”, do próprio livro, e da história do rock brasileiro nos últimos 50 anos está lá. Assim como política, comentário social, análise…

É uma autobiografia diferente, só lendo mesmo para entender. Mas ficou muito bom e todo lugar que ando Brasil afora tem plebeu pedindo para autografá-lo. Para quem me conhece, a mensagem sempre foi importante para mim, e é um livro que vai até o século 19 em algumas instâncias. É uma mensagem e tanto.

Voz

Sempre cuidei da voz. Mas eu sinto inveja de um Dave Grohl [Foo Fighters], que grita um show inteiro. Eu não conseguiria. Só espero que ele ainda tenha voz em 10 anos. Sobre a autodestruição de pessoas nesse meio, cansei de ver, e o meu livro é um grande lamento sobre isso.

Vi de perto em mais instâncias que eu queria ter visto. O convívio foi muito ruim, para dizer a verdade, mas sobrevivi. A Plebe sofreu muito com isso. Mas só lendo o livro para entender.

Preço do Sucesso

Para tudo na vida se tem um preço a pagar. Mas, no meu caso, consegui manter minha sanidade. Eu equilibro isso muito bem: na estrada, Plebe Rude é uma banda feroz com o vigor de banda iniciante e, em casa, sou pai e marido presente. Equilíbrio é tudo.

Próximos Projetos

A Plebe, em fevereiro de 2026, relançará nacionalmente “O Concreto Já Rachou”, pela Universal Music, com uma edição especial em vinil, com capa dupla que abre, com memorabilia jamais vista e um compacto que acompanha, pasme, as demos originais do disco!

Estamos preparando também um acústico, que sentimos que é a hora de gravar. Ah, e regravamos “Até quando Esperar” com o Herbert Vianna e o Jaques Morelenbaum, o mesmo cellista do cello icônico da abertura da faixa original.

No meu caso particular, no decorrer de 2026, estarei lançando um musical, disco solo, em que gravei todos os instrumentos, 18 músicas inéditas, com roteiro para cinema e teatro. E também o meu instituto estará a pleno vapor.

Sou presidente do Instituto Memorial Rock Brasil, que visa à construção de um acervo e um prédio de 7.000 metros quadrados para celebrar os 70 anos do rock brasileiro e, sim, em Brasília, a capital do rock.

Estou há cinco anos nesse projeto, e finalmente vai sair do papel. Como falei, trabalho sempre com projetos grandes. É a continuação da Rota Brasília Capital do Rock, que tenho junto ao governo do DF, em que mapeei 42 pontos turísticos relevantes ao rock de Brasília, com placas em três línguas nos devidos lugares, inclusive onde a Plebe Rude nasceu.

Disco de Ouro

A Plebe, de longe, é a banda com a proposta menos comercial de todos os artistas da década de 1980 que chegaram ao disco de ouro. Realmente, a trajetória da banda é impar dentro dos moldes de comercialização no Brasil, sem nenhuma música de amor, letra fácil ou banal.

Na minha recém-lançada autobiografia, “O Cara da Plebe”, relato muitos outros fatores que realmente atrapalharam a trajetória da banda, alguns, infelizmente, vindos de dentro. Mas, inegavelmente, enquanto a geração de gente fina, elegante e sincera dizia mais “sim do que não”, a Plebe dizia não.

Não às instituições, não ao status quo, não à repressão, não ao comercialismo. Mas pagou um preço alto por isso. Mas era justamente isso que fazia da Plebe a Plebe.

Algoritmo

A música popular brasileira continua firme em todas as frentes, mas, infelizmente, pouco consegue estar na grande mídia. Uma grande tragédia, na verdade. Eu mesmo produzi até hoje quase 40 discos independentes, mas poucos conseguiram ver a luz do sol, o que me entristece muito.

Hoje em dia, mesmo com o advento das redes sociais, é muito difícil, no meio do ruído que é a internet, artistas conseguirem uma carreira dedicada à sua arte. Mas é justamente essa dificuldade que separa o joio do trigo.

Sinto falta de um pouco mais de posicionamento dentro da arte, coisa que nossa geração realmente deixou de lado, pois o pouco engajamento que vejo, eu vejo em todos os lugares, em blog, entrevista, nos Facebook e Instagram da vida, menos na própria música.

Mas, para isso, teria que comprometer a própria arte, e nessa cultura de cancelamento ninguém quer uma coisa dessas. São os algoritmos ajudando a podar qualquer posicionamento dentro das canções e, me perdoe o lugar-comum, artista se expressa através da arte.

Senão tudo fica insosso e oco. As canções resistem ao teste do tempo, não entrevistas.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).