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arte e sociedade

Rozana Valentim, doutora em Educação, fala sobre vandalismo ao patrimônio artístico do País

A indagação vem da professora Rozana Valentim, doutora em Educação que atua na formação docente para o ensino de arte na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul; confira entrevista exclusiva com a pesquisadora sobre os episódios de vandalismo

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O que sentiu ao tomar conhecimento de que a invasão em Brasília provocou a destruição de obras e muitos danos ao acervo artístico dos prédios públicos?

O primeiro sentimento que vem é um sentimento de descrédito. Não é possível que isso aconteceu, que a gente tenha chegado a esse ponto de ver aquelas imagens que nós vimos. E depois o sentimento de tristeza mesmo.

O que a gente deixou de fazer para que uma parcela da população tivesse um pensamento tão pequeno, tão apequenado sobre a realidade?

Tomando o Di Cavalcanti como exemplo, o que se perde com o esfaqueamento de “As Mulatas” [1962]? Nem falo da cotação da obra, que chega a R$ 20 milhões.

As facadas, os cortes, as perfurações na obra do Di Cavalcanti doem. Doem na gente, sim. Porque a gente enxerga ainda uma sociedade intolerante, a gente vê a ignorância quando isso acontece. Dói, e a gente pensa e junta forças para não perder as esperanças.

Mas não houve ali uma perda em termos materiais do patrimônio artístico que, simbolicamente, torna-se irreparável?

Acho que é um perder muito momentâneo. Porque a gente tem de transformar essa sensação justamente em continuar, melhorar, aprimorar, em transformar e formar cada vez mais pessoas que sejam capazes de dialogar sobre o mundo em que a gente vive.

Essas facadas mostram para a gente a incapacidade de diálogo das pessoas que agem nesse impulso, na raiva, nessa ideia de não conseguir sentar, enxergar o mundo, ver outras ideias, outras possibilidades, conversar com os diferentes.

Essas facadas são, sim, violentas, elas agridem a gente.

Mas, ao mesmo tempo, elas nos mostram a necessidade constante de a gente não perder a esperança, reconhecer essa intolerância, esse ódio que está presente na sociedade e mostrar, pelo caminho da arte, o quanto a gente pode ser uma sociedade melhor, pessoas humanas que refletem, dialogam e que produzem a arte, o amanhã.

E que constroem de uma maneira melhor, em que todas as pessoas estejam incluídas.

A senhora atua na ampliação do repertório de alunos e para formar profissionais com uma maior capacidade de compreender o papel da arte na sociedade. De modo geral, como a universidade brasileira tem cumprido essa função?

A partir do que aconteceu no dia 8 de janeiro, eu vejo muito claramente a necessidade de a gente continuar e ampliar o ensino de arte nas escolas e fora das escolas. Qual a função, qual o objetivo do ensino de arte nas escolas?

É justamente a gente conhecer para além do nome de um artista, para além do nome de uma obra.
Por exemplo, a gente não vai conhecer apenas o Di Cavalcanti e a obra que foi danificada, perfurada pelos vândalos que invadiram a sede dos Poderes em Brasília.

A gente vai compreender o contexto histórico, também, em que aquela obra foi produzida. Quais os sentidos que estão presentes na representação das mulatas. Por que as mulatas? Em que momento histórico que aquilo foi produzido, como foi produzido.

Então, como pensa esse artista e qual o envolvimento dele com a cultura brasileira e com a cultura artística, enfim.

Isso reforça a ideia de a gente cada vez mais exigir o ensino da arte na escola, a compreensão desses códigos artísticos que estão presentes nas pinturas, nas esculturas, em várias linguagens da arte. Porque a arte vai dizer muito disso para a gente, quem nós somos, onde vivemos, o que produzimos, o que pensamos, como sentimos.

Tem uma série de questões que estão presentes na produção das obras de arte que, muitas vezes, são desconhecidas por boa parte da população, justamente, pela falta desse incentivo de vivenciar a produção cultural, de vivenciar a produção artística, de conhecer a arte brasileira, de conhecer a arte latino-americana e de se reconhecer também nessas obras, se sentir pertencente a tudo isso que é produzido pelos nossos artistas.

Até que ponto a falta de conhecimento da produção artística pode ter contribuído para que os vândalos não tenham poupado as obras de arte? Especialmente o trabalho do Di Cavalcanti, já que é considerado, talvez, o mais representativo dos modernistas brasileiros.

Muitas obras lá são do modernismo, que é um período bastante importante para a gente analisar, refletir sobre as mudanças que foram acontecendo no nosso País e como a arte participou dessas mudanças, influiu nessas mudanças, e como os artistas eram pertencentes a essa sociedade.

Por falar em sociedade, acho que uma das questões principais para a gente pensar é como que essas pessoas que invadiram, depredaram um patrimônio cultural, histórico, um patrimônio ali onde o espaço arquitetônico já é a obra, criada por Oscar Niemeyer.

Me preocupa bastante quando a gente vê essa situação. É lógico que aí tem uma reflexão. A gente não sabe o nível que essas pessoas tinham, esses invasores, esses golpistas, vândalos.

Que tipo de conhecimento eles tinham sobre aquilo que eles estavam depredando. Será que eles sabiam que eles estavam perfurando um Di Cavalcanti?

Será que eles sabiam que eles estavam destruindo uma escultura, como, por exemplo, “O Flautista”, do Bruno Giorgi, ou a escultura da bailarina do Brecheret?

Será que eles tinham conhecimento histórico e fizeram isso propositalmente ou não? Eles passaram por aquela sala sem ter a mínima noção e [pensaram que] aquilo eram apenas objetos quaisquer?

Eles não sabiam que ali tinha uma tela com uma importância histórica, com uma importância artística? Não sabiam que naquela sala tinha uma série de coisas para contar um pouco da nossa história, que contavam e, mais do que contar, para fazer a gente refletir sobre tudo aquilo?

O próprio Di Cavalcanti tinha uma relação dentro de sua produção de arte e de política muito presente, se a gente for parar realmente para pensar na ideia do ser político, a pessoa como um todo. E ele colocava isso nas suas obras.

O Brasil que nós tínhamos ali representado dentro da ideia do modernismo e como ele fazia essa relação, inclusive com essa ideia daqueles que não estavam visibilizados pela sociedade.

O discurso entabulado pela mídia, que acaba sendo dominante, estabelece contradição com o que se ensina na sala de aula?

É importante que as pessoas que escutam hoje as matérias, leem o que está sendo dito, compreendam que aquilo não era apenas uma pintura qualquer na parede, que a pintura tem um sentido e que outras pinturas também têm os seus sentidos. É importante a gente ler essas pinturas, dialogar com elas, saber as histórias e assim por diante.

Por isso a minha fala é mais no sentido de reforçar a necessidade de uma formação artística e estética das pessoas desde muito pequenas, desde a Educação Infantil até a formação universitária, para estar acompanhando esse processo, construindo esse processo. Porque o conhecimento artístico é construído, é uma alfabetização visual.

A gente precisa conhecer isso para a gente gostar, para saber que existe e o valor que tem. A arte nos sensibiliza, nos mostra e nos faz sentir a nossa humanidade, a nossa sensibilidade, a nossa relação com o outro e com a gente.

A arte tem essa relação, o eu e o outro e o nós. Ela nos ajuda nesse relacionamento.

É importante incentivarmos a visitação nos nossos museus, nos espaços culturais da cidade, conhecer os artistas, suas temáticas, participar da diversidade cultural, conhecer as diferentes linguagens artísticas, isso é formação estética e é fundamental para conhecermos nosso patrimônio.

Me parece que a questão da arte precisaria de uma estratégia de choque, não? 

A minha vontade era pegar todos os alunos que eu tenho nesse momento, colocar sentados em frente à obra que foi esfaqueada, agredida, para a gente pensar esse País.

Pensar enquanto povo brasileiro nas nossas diferenças, em como as minorias são pensadas nesse País, como não são aceitas, e conversar sobre a necessidade de um ensino de arte antirracista, que mostre que as mulheres estão presentes na história da arte, que a arte não foi feita só para elite, mas que a arte é um conhecimento que precisa estar na escola e para todos.

Aula de arte não é aula de enfeite, é aula para a gente desenvolver pensamento crítico, desenvolver a produção artística brasileira e mundial, e assim por diante.

Esse é o momento de a gente falar no Di Cavalcanti, como é o momento de a gente falar sempre e cada vez mais sobre os artistas brasileiros, sobre os artistas que nós temos em Mato Grosso do Sul, e fazer essa aproximação. A arte não pode se distanciar das pessoas.

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Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana Neiva

A atriz está a frente do programa Quero Ser Veg

09/02/2025 19h00

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana Neiva

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana Neiva Foto: Divulgação

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Mayana Neiva é atriz. Nascida na Paraíba, foi morar nos EUA durante a adolescência, quando descobriu a vocação para o teatro. No retorno ao Brasil, passou por concursos de beleza, eleita Miss Paraíba em 2003. Depois, migrou para São Paulo com o objetivo de se dedicar à vida artística.

Após participar de grupos de teatro, recebeu o convite para estrear na TV na minissérie A Pedra do Reino (2007), na Globo. Em seguida, fez Queridos Amigos (2008) e seu primeiro papel em novelas, a modelo Desirée de Ti Ti Ti (2010). Formada em Filosofia, também lançou o livro Sofia, de cunho infantil, em 2009.

Seguiu na emissora (TV Globo) com papéis em Amor Eterno Amor (2012), Sangue Bom (2013), O Outro Lado do Paraíso (2017), Éramos Seis (2019), entre outros títulos. Também dedicou-se a trabalhos no cinema e no teatro.

Ela estreou em 25 de janeiro a série Quero ser veg, a primeira a discutir o veganismo em televisão aberta. A série apresenta cinco episódios sobre o veganismo e os mitos relativos à alimentação baseada totalmente em vegetais e que já faz parte da vida de cerca de 10 milhões de brasileiros, segundo Associação Brasileira de Veganismo. O público pode assistir à série aos sábados, às 12h30.

Mayana é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala da experiência como apresentadora, do programa Quero Ser Veg, novelas e autocuidado.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana NeivaA atriz Mayana Neiva é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Henrique Rezende - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Como surgiu o convite para o programa Quero Ser Veg? E como foi pra você estar no comando de um programa na TV aberta? 
MN -
Recebi o convite da diretora Cíntia Domit Bittar, que é uma querida amiga. Já fizemos alguns trabalhos juntas, e é uma grande honra estar à frente do primeiro programa sobre veganismo da TV Aberta Brasileira, levando essa escolha consciente, da alimentação consciente para o público, ainda mais uma TV pública, que chega para todas as pessoas de maneira gratuita.

O programa está muito divertido, amoroso, faz um convite para a gente repensar as nossas escolhas diárias, e não necessariamente só para você se tornar vegano. Você pode, por exemplo, escolher fazer uma refeição vegana por dia, ou uma por semana, isso já terá um impacto no planeta muito grande.

CE - O veganismo já faz parte do seu estilo de vida? O que o programa mudou na sua forma de pensar?
MN -
Essa é uma das razões pelas quais eu fui convidada para apresentar o programa. Eu tive uma vivência dentro do vegetarianismo e minha alimentação é majoritariamente dentro do vegetarianismo. Mas eu gosto de comer peixe, por exemplo, e uma das coisas que o programa discute é pra gente repensar fazer uma refeição sem proteína animal no dia, ou experimentar outros sabores, outras culinárias, que não tenham a proteína animal como centro do prato.

A Cintia quis me convidar porque sentia que tinha uma experiência que era próxima da pessoa que estava assistindo, alguém que talvez tenha o desejo, tanto que o programa chama Quero Ser Veg. Ter o o desejo e se dispor a experimentar aquilo, partindo desse pressuposto.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana NeivaQuero Ser Veg - Divulgação

CE - Já existe alguma previsão para uma nova temporada? E outros projetos para a televisão, o que podemos esperar de Mayana Neiva nas telinhas em 2025?
MN -
A gente espera, sim, ter uma segunda temporada, estamos aguardando finalizar essa pra ter uma ideia, mas quero muito que esse programa siga o que ele merece, chegar em outros lugares e aumentar a discussão sobre esse tema tão relevante. Para esse ano, eu tenho a estreia de Guerreiros do Sol vindo por aí.

CE - Seu trabalho em novelas mais recente foi em Paixão de Cristo. Sente saudades de fazer novelas?
MN -
Meu último trabalho em novela foi em Éramos Seis, na Globo. A Paixão de Cristo foi uma peça em que fiquei muito feliz de fazer e minha próxima série é Guerreiros do Sol. Mas eu também estou fazendo shows, estou com foco de trabalhar o meu disco. Muitas coisas vindo por aí também de outras maneiras.

CE - Você estará em Guerreiros do Sol, na Globoplay. O que pode nos contar sobre esse trabalho? E como vê o crescimento do streaming nos dias atuais?
MN -
Eu acho que o crescimento do streaming é maravilhoso para todos os atores, expande nosso campo de trabalho.

E Guerreiro do Sol é uma série maravilhosa que fala sobre o Nordeste, dirigida pelo Papinha (Rogério Gomes), que é um grande diretor, então vai ser um mergulho encantador no cangaço do Nordeste brasileiro. Tem muita coisa linda vindo por aí com essa série, tenho certeza de que o Brasil vai se apaixonar.

CE - Em suas redes sociais e em seu podcast você fala bastante em autoconhecimento, um estilo de vida mais leve. Quais seriam as suas dicas para seus seguidores? Qual a sua rotina de autocuidado?
MN -
Eu sou formada em meditação, trabalho também com palestras ligadas ao campo de autoconhecimento, faço atualmente uma pós-graduação na Universidade Einstein, aqui em São Paulo, sobre gestão emocional nas corporações.

Resolvi também colocar para fora esse aspecto do meu trabalho que tem tomado muito do meu coração. Para mim, a gestão da nossa comunicação interna, estar alinhado com a nossa essência e com a nossa paz é o maior chamado da nossa vida, por isso o meu podcast Conversas que Curam também fala sobre esse tema. A minha rotina de autocuidado inclui meditação, alimentação saudável e coerência entre o que você fala e o que você faz.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz e apresentadora Mayana NeivaQuero Ser Veg - Divulgação

CE - Além do trabalho como atriz, você tem se mostrado cada vez mais uma artista completa, se destacando também como cantora? Conta um pouco sobre este seu lado, qual o seu estilo de música preferido e os novos projetos nessa área. Você tem uma vasta carreira no cinema. Como vê o atual momento do cinema brasileiro no mundo?
MN -
Meu estilo de música é a música brasileira. Eu amo, é  minha música favorita e também a música latino-americana.

Sobre a questão do cinema nacional, estamos em um momento surrealmente belo para o cinema, né? A Fernanda Torres nos representando, é nosso orgulho nacional, com esse filme que rememora a ditadura, que traz coisas tão importantes, mensagens tão incríveis, chega tão longe, é um feito.
 

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Império do Morro agita 2ª noite de festa pré-carnaval em Ladário

O agito ocorreu Avenida 14 de março e contou com a Bateria Pulso Forte e a rainha Raissa Oliveira

09/02/2025 15h30

Foto: Reprodução

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Destaques da Escola de Samba Império do Morro, campeã de 2024 da folia corumbaense, agitaram o 2º esquenta pré-carnaval em Ladário, a 426 km de Campo Grande.

O agito no coreto da Avenida 14 de março contou com a Bateria Pulso Forte e a rainha Raíssa Oliveira, destaques da agremiação, que animaram a festa organizada pela administração municipal.

Encontro que também contou com a porta-bandeira Vallessa e do mestre-sala Edelton, ambos que desfilaram ao lado dos foliões. 

Na ocasião, a escola de samba apresentou o samba-enredo “De Maria e de Romão, da Fé e emoção. Nordeste de tanta gente, Eldorado do Sertão”,  que será utilizadono desfile do dia 3 de março, em Corumbá. “Fiquei muito emocionada”, disse a rainha Raissa, lembrando que seu irmão, Renan (falecido), foi Rei Momo de Ladário.

Para o presidente da escola, Robson Lacerda, a antecipação do carnaval de Ladário vai reviver a folia na cidade considerada o berço da festa.

“Ladário estava carente desse grande evento (...) a cidade tem tudo para evoluir”, comentou o carnavalesco. 
Ao dar início a festa, que seguiu mesmo debaixo de chuva, o prefeito Munir Ramunieh, sambou ao lado da rainha da bateria e das passistas carregando a bandeira da cidade.

Depois, ao abrir a festa, disse que no próximo ano vai realizar um desfile em Ladário com as agremiações de Corumbá. “Tudo isso não seria possível sem o apoio financeiro do governador Eduardo Riedel e outros parceiros”, lembrou.

Denominado “Lugar de alegria, samba e folia”, o carnaval ladarense receberá recursos de R$ 700 mil, por meio de convênio com o Governo do Estado e emendas de parte da bancada federal e do Senado, verba que arcará com os custos de palco e camarotes e três shows nacionais em fevereiro: Grupo Revelação, no dia 21; MC Jacaré, no dia 22, e Carreta do Dogão, no dia 23.

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