A retirada da sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos à carne bovina brasileira confirmou o que o setor pecuário de Mato Grosso do Sul já defendia: que a medida tinha impacto limitado sobre o Brasil e penalizava mais a indústria e o consumidor norte-americano do que os produtores nacionais. O anúncio da retirada da sobretaxa de 40% foi feito na quinta-feira pelo governo americano.
De acordo com a Associação Sul-Mato-Grossense dos Criadores de Nelore (Nelore-MS), a medida foi uma confirmação técnica aguardada pelo setor no Estado.
A entidade destaca que, mesmo durante a cobrança adicional de até 40%, Mato Grosso do Sul registrou recordes sucessivos de exportação, tanto em volume embarcado quanto em preço médio da carne exportada.
O presidente da Nelore-MS, Paulo Matos, afirmou que a retirada da tarifa apenas confirma o que os dados indicavam desde o primeiro momento.
“Desde o primeiro dia deixamos claro: os EUA compram apenas 8% da carne que o Brasil exporta, o equivalente a 2,3% da nossa produção. Quem sofreria com hambúrguer mais caro seriam os consumidores americanos, não os produtores brasileiros. A retirada da tarifa apenas confirma isso”, disse.
Para a entidade, o governo dos Estados Unidos reconheceu o caráter contraproducente da medida. A sobretaxa incidia principalmente sobre a carne desossada congelada usada pela indústria de hambúrguer, componente essencial na formulação de blends com carnes mais magras produzidas internamente. O encarecimento dos insumos pressionou fabricantes e elevou preços ao consumidor.
“A conta voltou para onde sempre dissemos que iria: para o consumidor americano. A pressão interna lá foi maior do que qualquer impacto sentido aqui”, reforçou Matos.
Reportagem do Correio do Estado publicada este mês mostrou que o Estado driblou a taxação e viu suas exportações dispararem no ano, impulsionadas pela demanda internacional aquecida e pela competitividade crescente da proteína sul-mato-grossense.
Dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) apontam que, em outubro, as exportações de carne bovina atingiram US$ 185,4 milhões em MS, um aumento de 39,6% nas vendas.
No acumulado do ano, a receita com a exportação de carne bovina chega a US$ 1,5 bilhão, aumento de 46,6% nas vendas no comparativo com os 10 primeiros meses do ano passado. Já são US$ 300 milhões a mais que os US$ 1,2 bilhão vendidos ao exterior no ano passado pelos frigoríficos de MS.
Entidades da indústria alimentícia e do agronegócio comemoraram a revogação, conforme mostrou reportagem da Agência Brasil. O setor produtivo dos EUA defendia que a manutenção da tarifa comprometia a competitividade interna e dificultava o abastecimento.
PRODUTOR
Mesmo com o melhor cenário internacional da década, a Nelore-MS alerta que o produtor rural brasileiro segue sem participar dos maiores ganhos da cadeia. Os preços elevados no mercado global ampliaram margens para varejistas e exportadores, mas não melhoraram proporcionalmente a remuneração no campo.
“Enquanto o varejo ganha mais e o exportador amplia margens com preços recordes, o produtor fica com o prejuízo causado por movimentos especulativos no mercado interno. E isso é inaceitável”, critica Matos.
Em Mato Grosso do Sul, analistas apontam um descompasso entre o desempenho externo e a formação dos preços da arroba.
O Estado tem ampliado oferta, investido em genética, manejo e sustentabilidade fatores que garantem protagonismo internacional, mas o avanço da produção nem sempre se traduz em resultado financeiro imediato para o pecuarista.
No mercado físico sul-mato-grossense, a arroba do boi gordo fechou a semana passada cotada a R$ 310, em média. O preço da arroba sofreu ligeira pressão de oferta, porque, historicamente, no mês de novembro há o aumento de abate em razão de entrada de animais oriundos do segundo lote de confinamento, mas a boa condição de demanda vai limitar a queda.
No comparativo anual, o valor da arroba retrocedeu 2% em relação ao mesmo período do ano passado, quando a arroba era negociada a R$ 316,43. A vaca apresenta uma queda ainda mais significativa com o valor 5,1% menor em um ano, saindo de R$ 301,05 em 2024 para R$ 288,61 na semana passada.
A Nelore-MS afirma que o bom momento da carne brasileira no exterior é sustentado por investimentos contínuos feitos pelos produtores.
“Somos nós, produtores, que assumimos o risco, financiamos a atividade, geramos emprego, cuidamos do meio ambiente e mantemos o Brasil como potência mundial. Nada justifica que sejamos os únicos a absorver prejuízos em um momento global tão favorável”, destaca Matos.
Ainda segundo ele, a entidade continuará acompanhando o cenário internacional e trabalhando com as instituições para evitar interpretações equivocadas ou pressões indevidas sobre o preço do boi gordo no mercado interno.
“A retirada da taxa mostra que nossa análise estava correta e que a pecuária brasileira segue firme, sólida e competitiva. O produtor não pode ser o amortecedor de disputas comerciais internacionais”, conclui o presidente.


