A partir de domingo o comércio de Mato Grosso do Sul deve enfrentar um novo fechamento.
Decreto que determinava o funcionamento apenas de atividades consideradas essenciais em 43 municípios de Mato Grosso do Sul, incluindo Campo Grande, foi publicado ontem, mas será postergado para atender o pedido dos municípios.
Conforme entidades representativas do comércio, o fechamento do varejo no fim de semana que coincide com o Dia dos Namorados poderia gerar prejuízos de até 80%.
Ainda que a medida não inclua o sábado (12), Dia dos Namorados, que é a terceira data mais importante para o comércio, expectativas frustradas dos consumidores e fechamento nas próximas semanas podem atrapalhar a recuperação do setor.
A economista Daniela Dias aponta que o fechamento do comércio por 14 dias pode interferir de diversas maneiras na economia.
“Uma delas se volta às expectativas das pessoas, porque elas percebem que o cenário não está tão controlado, que está instável, e começam a ter algumas cautelas, no que diz respeito às tomadas de decisões, principalmente no que se refere ao consumo. Consequentemente, diante disso, podemos ter impacto no que as pessoas pretendem comprar”.
Conforme já noticiado pelo Correio do Estado, o volume de vendas do comércio varejista de Mato Grosso do Sul cresceu 24,3% em abril deste ano no comparativo com o mesmo mês de 2020.
Conforme os dados divulgados na Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas cresceram 2,1% no quarto mês do ano frente a março (-0,5%), maior alta para o mês desde 2008.
A tendência, segundo economistas ouvidos pela reportagem, é de que os bons resultados fossem repetidos nos meses de maio e junho. Com novas medidas restritivas, o mês de junho pode amargar em queda nas vendas.
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MANDADO
Ao serem informados sobre a possibilidade de medidas mais duras já neste fim de semana, o primeiro-secretário da Associação Comercial e Industrial de Campo Grande (ACICG), Roberto Oshiro, afirma que a entidade com a Associação de Bares e Restaurantes de MS (Abrasel-MS) entraram com mandado de segurança para reverter a medida.
“O Dia dos Namorados é uma data extremamente importante, em que os empresários estimam recuperar os prejuízos, principalmente setores que foram mais prejudicados, como bares, restaurantes, presentes e floriculturas. Se ficar fechado completamente, os prejuízos serão entre 70% e 80%. Os restaurantes, por exemplo, já compraram comida, contrataram garçons, músicos, etc.”, destaca Oshiro.
Conforme o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, o decreto que passaria a valer hoje terá validade prorrogada por 48 horas.
O representante da ACICG ainda ressalta que desde o ano passado questionam judicialmente o toque de recolher, que é alterado a cada redefinição de cores na bandeira do Programa de Saúde e Segurança da Economia (Prosseguir), e, segundo ele, atrapalham os comerciantes a se organizarem.
Na bandeira cinza que deve passar a valer na semana que vem, as cidades ficam em grau extremo e o toque de recolher começa às 20h.
“Uma das coisas que sempre temos pedido, desde o ano passado, é que a gente tivesse o mínimo de previsibilidade. Estamos nessa crise há mais de um ano. A gente até entrou com mandado de segurança, que está em tramitação no Tribunal de Justiça, questionando a inconstitucionalidade do direito de ir e vir e também a falta de critérios técnicos do Prosseguir”, diz Oshiro.
O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande (CDL-CG), Adelaido Vila, concorda com a perspectiva de prejuízos caso houvesse fechamento da cidade. “Muitos empresários investiram neste momento como uma oportunidade de tentar minimizar os impactos”.
Segundo o representante do varejo, desde o início da semana, as entidades solicitavam a expansão do horário do toque de recolher por conta da data.
“Entendemos a situação da pandemia, mas exigimos respeito por parte dos gestores, que agem de forma irresponsável com o setor produtivo. Não brincamos de comerciantes, isso é a nossa vida, nosso trabalho e que sustenta nossas famílias”, conclui Vila.
ADAPTAÇÕES
Estudo do Instituto de Pesquisa da Fecomércio (IPF-MS) aponta que Mato Grosso do Sul projeta injeção de R$ 151,91 milhões para o Dia dos Namorados – 51% a mais que em 2020. Em Campo Grande, a movimentação deve chegar a R$ 46,596 milhões.
Pesquisa da ACICG mostra que 67% dos empresários esperam superar em mais de 10% as vendas do período.
Empresários e consumidores aprenderam muito durante a pandemia e diversas estratégias foram adotadas com vistas a amenizar os impactos da pandemia, como as vendas a distância, utilizando de plataformas digitais e a questão da entrega em domicílio.
A economista Daniela Dias, afirma que a adoção dessas estratégias pode resultar em impactos menos severos com o fechamento das atividades não essenciais nas próximas semanas.
“De certa forma, considerando que o Dia dos Namorados poderia ter uma movimentação financeira maior que no ano passado, essas estratégias são fundamentais para confirmar ou até mesmo melhorar o resultado. Mesmo que as pessoas sejam afetadas pelas expectativas, outros aspectos, como o apelo emocional das datas, também têm influenciado”, analisa Daniela e completa.
“Tudo depende de como esses empresários vão se posicionar e se comunicar com esse consumidor. Ou como os consumidores vão reagir em relação à cautela financeira. Oportunizar para que essas pessoas que queiram consumir consigam realizar isso”, conclui.
O doutor em economia Michel Constantino aponta a adaptação das empresas como uma forma de superar o momento de crise. “Já temos quase um ano e meio de pandemia, com paralisações, mudança do perfil de consumo, pessoas comprando mais pela internet, buscando entregas, etc. As empresas mudaram e se adaptaram a esse perfil de consumo”, avalia.
OTIMISMO
A empresária do setor do vestuário Cláudia Barros afirma que aguarda ampliar as vendas em 12% no Dia dos Namorados. “Investimos no estoque para data comemorativa, porque tanto as clientes compram roupas para comemorar com seus parceiros como os namorados e maridos em presente a elas”.
Cláudia diz que o delivery corresponde a 10% das vendas.
Para Isabelle Aquino, funcionária da floricultura Rosalândia, a estratégia é focar ainda mais no delivery em períodos de medidas mais restritivas. “Estaremos atendendo por telefone e WhatsApp para fazer entregas. Por sermos floricultura, sempre focamos muito no delivery, os clientes acham mais emocionante mandar entregar do que eles mesmos entregarem”.