Nos bairros mais afastados de Campo Grande, ainda é possível encontrar alguns estabelecimentos que confiam no cliente, marcam a dívida na caderneta e recebem depois. É o famoso “vender fiado”. A prática é pouco divulgada, não há placas com informações de que as pessoas podem comprar e pagar no mês seguinte. “Eu vendo fiado para os conhecidos e por indicação. Nem todas as pessoas têm cartão de crédito e é uma maneira de conquistar os clientes”, afirma Marlene Rodrigues Constância de Oliveira, de 39 anos, que há oito anos é proprietária da loja Maysla Modas. O estabelecimento fica em uma tradicional rua de comércio, Ana Luiza de Souza, no Bairro Pioneiros.
Marlene conta, porém, que os próprios conhecidos dão “trabalho” para quitar o débito. Ela também não costuma liberar limites altos, pois a loja não tem um grande capital de giro. Mesmo com 80 clientes fidelizados neste sistema de vendas a prazo, a comerciante prefere vender no cartão de crédito para antecipar o dinheiro no banco. Mas explica: “Vender fiado não compensa, mas tenho clientes de anos, não tem mais como falar que não vou vender”.
Em outra loja de roupas do mesmo bairro, uma comerciante, de 56 anos, é pioneira na área. “Quando eu comecei, há mais de 10 anos, eu tinha apenas uma concorrente. Hoje já são mais de 35 lojas espalhadas pelo bairro, não dá pra competir se não anotar a compra”, declarou. A comerciante, que já teve 400 compradores, hoje conta com apenas 100.

Já Valda Bento da Silva, 41, está no mercado há oito anos e não vê problemas em vender fiado. Porém, os pré-requisitos são mais exigentes. Valda é dona da loja “D’Val” e trabalha com confecções e calçados. Para ela, o freguês que quiser comprar para pagar depois deve apresentar holerite e documentos pessoais. Além disso, o nome deve ser consultado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). “Compensa vender fiado porque o cliente sempre vem aqui”, explicou.

Dona do mercado Oriente, também localizado na Rua Ana Luiza de Souza, Geisa Furtado da Silva (foto acima), de 37 anos, já perdeu R$ 600, “confiando” nos amigos. O pequeno cartaz “Não vendemos fiado. Obrigado” foi colado justamente no dia da entrevista (na última sexta-feira). Segundo a comerciante, a famosa frase “vou pagar depois” é mais frequente em mercados pequenos, pois o valor da compra quase sempre é baixo.
De acordo com a economista, Nayara Arca Yokoo, o comerciante deve colocar na “balança” os prós e contras de se vender na caderneta. “A prática é comum em comércios pequenos, que não possuem máquina de cartão por exemplo, onde há uma relação de confiança entre comerciante e consumidor. Dependendo da situação compensa sim, mas não podemos generalizar. Se o proprietário costuma vender fiado e vê que mesmo assim ele não recebe, leva 'calote' constantemente não há motivo para continuar.”, explica.
Ainda segundo a economista, o comerciante precisa avisar antecipadamente o cliente que venderá apenas no cartão de crédito ou dinheiro.


