Os novos donos da Alpargatas querem ampliar a oferta de produtos da marca Havaianas e acelerar a expansão internacional da empresa, especialmente nos Estados Unidos.
A estratégia foi comentada nesta sexta (14) por Alfredo Egydio Setubal, presidente da Itaúsa, uma das novas acionistas da fabricante de calçados.
Empresa de investimentos das famílias Setubal e Villela, a Itaúsa associou-se à Cambuhy e a Brasil Warrant, ambas companhias dos Moreira Salles, para comprar a Alpargatas da J&F, de Joesley e Wesley Batista.
A operação foi fechada na quarta (12) e prevê o pagamento á vista de R$ 3,5 bilhões.
Com o acordo, as três compradoras ficarão com 54% do capital total da Alpargatas -e 86% das ações com direito a voto.
Apesar de exportar para mais de 100 países, apenas 16% da receita da empresa vêm do exterior. A Alpargatas faturou R$ 4 bilhões no ano passado.
Os novos donos acreditam que é possível acelerar o crescimento lá fora. O foco será no mercado americano e em países estrangeiros que possuem clima tropical, afirmou Setúbal.
"A marca Havaianas tem capacidade de expansão muito grande nos Estados Unidos, onde a participação ainda é relativamente pequena e muito concentrada em Califórnia, Flórida e Nova York", disse o empresário em teleconferência com investidores.
Ele afirmou que a Alpargatas deverá investir para ampliar o portfólio de produtos. Hoje, as sandálias representam 63% das receitas.
O sistema de vendas da marca pela internet é considerado "pouco avançado" e, por isso, também receberá investimentos.
Os executivos que comandam a companhia serão mantidos, segundo Setubal. A Alpargatas é presidida desde 2003 por Márcio Utsch.
As mudanças ocorrerão no conselho de administração, com a saída de representantes da família Batista e a entrada dos novos acionistas.
A gestão da Alpargatas será compartilhada entre as três compradoras. As famílias Moreira Salles, Setubal e Villela já são sócias no Itaú Unibanco, banco controlado em conjunto por elas há nove anos.
DEFESA
As negociações para a compra da Alpargatas correram de forma acelerada, com um acordo fechado após poucas semanas.
A maior preocupação foi proteger os novos donos de problemas oriundos da delação premiada dos irmãos Batista, afirmou Setubal.
A J&F adquiriu o controle da fabricante de calçados da Camargo Corrêa em 2015. Para isso, tomou um empréstimo de R$ 2,7 bilhões da Caixa.
Em sua delação, o empresário Joesley Batista indicou pagamento de propina para viabilizar empréstimos no banco estatal.
Setubal afirmou que a análise feita antes da compra não indicou problemas de ordem fiscal, tributária e trabalhista na Alpargatas.