A Tether, emissora da maior stablecoin do mundo (USDT), prepara a instalação de data centers de mineração de Bitcoin em Mato Grosso do Sul (MS) em parceria com a Adecoagro, usando eletricidade de biogás produzida nas usinas da companhia nos municípios de Ivinhema e Angélica.
O projeto-piloto nasceu de um memorando de entendimento firmado em 3 de julho de 2025 e, segundo o governo estadual, começa com carga de 12 megawatts (MW). A operação se ancora em políticas de incentivo ao biogás/biometano vigentes no estado.
Data center ao lado das usinas: Como será o projeto
A configuração planejada pela Tether prevê a instalação de infraestrutura de processamento próxima às termelétricas a biogás associadas às usinas sucroenergéticas da Adecoagro em MS. A proximidade reduz perdas, facilita o despacho da energia excedente e dá flexibilidade para modular a capacidade de mineração conforme a sazonalidade do agro.
O anúncio local apontou as regiões de Ivinhema (Amandina) e Angélica, com início de 12 MW e perspectiva de expansão à medida que os sites amadureçam. Para o estado, a leitura é pragmática. Monetizar excedentes de energia renovável, criar uma demanda estável junto ao parque industrial e diversificar a base de TI de alto desempenho.
A Adecoagro, que vem operando geração renovável em diferentes praças da América do Sul, indica mais de 230 MW de capacidade instalada, um colchão que permite migrar parte do que hoje é vendido no mercado spot para contratos dedicados ao data center.
Num cenário em que o Bitcoin puxa a demanda computacional, cresce também o interesse do investidor varejo por ciclos de lançamento e novas criptomoedas. Muitos acompanham calendários de “alts” enquanto observam a chegada de infraestrutura local. Algo que tende a ganhar tração conforme o ecossistema se adensa no Brasil.
Por que MS? Energia limpa, agro e tributos
Mato Grosso do Sul tem uma matriz elétrica marcadamente renovável, com forte peso da biomassa associada à celulose e ao setor sucroenergético. Em 2024, o estado atingiu 9.843 MW de capacidade instalada e cerca de 94% provenientes de fontes limpas, reforçando a narrativa de data center verde perto da fonte.
No campo tributário, o Decreto nº 16.431/2024 reduziu a base de cálculo do ICMS para biogás/biometano nas operações internas (carga de 12%) e concedeu crédito outorgado de 85% nessas mesmas saídas (90% nas interestaduais), medida que melhora a competitividade da energia do biogás no estado.
Esse desenho fiscal, somado à disponibilidade de biomassa do agro, ajuda a explicar a escolha de MS para a etapa inicial do projeto. O coração técnico do projeto está no ciclo do biogás. Resíduos do processamento da cana e efluentes agrícolas alimentam biodigestores, o biogás/biometano resultante queima em grupos motogeradores.
Entregando uma fonte despachável, atributo valioso para cargas contínuas como mineração de Bitcoin. No cluster sucroenergético de MS, a Adecoagro opera duas usinas termelétricas que balizam o entorno do projeto.
No Brasil, estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o biogás tem grande potencial de expansão no setor sucroenergético.
E que, apesar de faixas de custo nivelado (LCOE) historicamente mais altas do que eólica/solar, a viabilidade melhora quando o combustível é resíduo disponível na porta da usina, caso típico de MS. Para o data center, a previsibilidade do insumo e contratos de longo prazo podem compensar volatilidades do mercado spot.
O que muda com a Tether: Capital, escala e ambição
No plano corporativo, a Tether consolidou, em 30 de abril de 2025, participação de 70% na Adecoagro, abrindo caminho para integrar energia, agro e infraestrutura digital sob o mesmo guarda-chuva de investimentos. A companhia comunicou que o piloto brasileiro foi aprovado pelo comitê independente da Adecoagro, com governança própria para transações entre partes relacionadas.
Na estratégia pública, o CEO Paolo Ardoino tem reiterado a meta de colocar a Tether entre as maiores mineradoras do mundo ainda em 2025, respaldada por investimentos superiores a US$ 2 bilhões em energia e mineração. Para o projeto em MS, esse apetite de capital tende a acelerar prazos de implantação e compras de hardware, desde que as licenças locais avancem.
Não há, hoje, uma lei federal específica para mineração de cripto. A atividade costuma ser enquadrada como prestação de serviço de processamento de dados e precisa cumprir exigências setoriais usuais (licenciamento ambiental, outorgas/autorizações quando cabíveis à energia, contratos de fornecimento e conexão).
Já o marco legal dos criptoativos (Lei 14.478/2022) é voltado às prestadoras de serviços de ativos virtuais, e foi regulamentado pelo Decreto 11.563/2023, que atribuiu competência regulatória ao Banco Central para esse segmento. A mineração, portanto, não é licenciada pelo BACEN, mas convive com o ecossistema regulado, e com as obrigações fiscais aplicáveis a receitas auferidas em cripto.
Impacto econômico esperado e próximos passos
Pelo recorte local, a ancoragem de 12 MW já sinaliza contratação de serviços de engenharia elétrica, construção civil, segurança patrimonial e operação de TI, além de acordos de fornecimento com a indústria do açúcar e do etanol.
Além disso, o governo estadual tem reforçado políticas para biogás/biometano e anunciado novos investimentos para expandir a produção desses combustíveis, o que tende a ampliar a base energética disponível para projetos industriais intensivos em eletricidade.


