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Cem anos da soja comercial no Brasil

Por Verônica Muccini Longhi, jornalista

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Em novembro, Santa Rosa (RS) será palco de uma comemoração histórica: os 100 anos da soja comercial no Brasil. Mais que um evento, a Fenasoja, que é a maior feira multissetorial do País, será um marco para celebrar o legado da soja, desde a sua chegada até o seu papel transformador na economia, na agronomia e no aspecto social brasileiro. 

A Fenasoja ocorrerá de 29 de novembro a 8 de dezembro na cidade que já é considerada como o berço nacional da soja.
Embora haja registros históricos que apontam para cultivos experimentais de soja na Bahia já em 1882, foi em novembro de 1924 – com o grão trazido pelo pastor Albert Lehenbauer – que a soja é oficialmente introduzida no Rio Grande do Sul.

Naquele momento, era uma cultura quase desconhecida no Brasil, e sua introdução poderia ser considerada um experimento simples, pois o pastor doou as sementes que foram trazidas dos Estados Unidos em uma garrafa para seus vizinhos, com o objetivo de melhorar a renda de todos.

Com o tempo, a soja encontrou no solo fértil e no clima temperado do estado gaúcho o ambiente perfeito para se desenvolver. O sucesso inicial na Região Sul abriu caminho para que o grão se expandisse para outras regiões, e sua história de crescimento ganharia destaque em todo o Brasil.

Algumas datas posteriormente foram marcantes para a sojicultura brasileira. 

A primeira referência de produção comercial de soja no País data de 1941, com uma área cultivada de 640 hectares, produção de 450 toneladas e rendimento de 700 quilos por hectare (kg/ha). Já o primeiro registro internacional do Brasil como produtor de soja é de 1949, com uma produção de 25 mil toneladas. Outro fator de comemoração foi quando a produção de soja chegou à marca de 100 mil toneladas em meados da década de 1950. Na década seguinte, ela se estabeleceu definitivamente como cultura economicamente importante para o Brasil, passando de 206 mil toneladas em 1960 para 1.056.000 toneladas em 1969.

Em 1966, na cidade de Ibirubá, no norte do RS, iniciou-se a Operação Tatu, que tinha como objetivo recuperar, melhorar e incrementar a produtividade da agricultura no estado, especialmente por meio da análise e da recuperação da fertilidade dos solos. Com poucos resultados em Ibirubá, o projeto passou a ser executado em Santa Rosa e teve resultados mais rápidos e sucesso significativo. 

Apesar do crescimento da produção ao longo dos anos de 1960, foi na década de 1970 que a produção da soja teve importante impulso e se consolidou como a principal cultura do agronegócio nacional, passando de 1,5 milhão de toneladas para mais de 15 milhões de toneladas em 1979. Esse aumento ocorreu não apenas no crescimento da área cultivada – de 1,3 milhão para 8,8 milhões de hectares –, mas também com um expressivo incremento da produtividade, passando de 1.140 kg/ha para 1.730 kg/ha.

No fim dos anos 1970, mais de 80% da produção brasileira de soja ainda se concentrava nos três estados do Sul, embora o Cerrado sinalizasse que participaria como importante ator no processo produtivo da oleaginosa, o que efetivamente ocorreu a partir da década de 1980. 

Lá em 1970, menos de 2% da produção nacional foi colhida nessa região, tendo uma maior concentração em MS. Em 1980, essa produção passou para 20%, enquanto em 1990 já era superior a 40%. Já em 2007 superou os 60%, com tendência a ocupar maior espaço a cada nova safra.

O salto na produção no fim dos anos 1970 fez com que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) desse início ao acompanhamento da evolução do grão na safra 1976/1977. Naquele ciclo, a produção brasileira foi de 12,14 milhões de toneladas. Hoje, 100 anos depois, o Brasil se consolidou como o maior produtor e exportador mundial de soja, e a cidade de Santa Rosa se orgulha de ser o ponto de partida dessa transformação.

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O eleitor e a sua consciência

Por Antonio Carlos Siufi Hindo, promotor de Justiça aposentado

24/09/2024 07h45

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Entre todas as festas proporcionadas pela democracia, as eleições municipais são verdadeiramente as mais importantes. Não existe outra igual. Existem fartas motivações para lançarmos essa assertiva incontroversa. Os candidatos no âmbito do município surgem das suas entranhas, resultam em produtos comuns da própria sociedade que edifica, consolida e venera.

Andam ao nosso lado, respiram o mesmo ar, vivenciam os mesmos dramas que nos preocupam. 

Não precisam de terceiras pessoas para lhes ditarem regras de comportamento para vencerem essas dificuldades. São conhecidos do eleitor. Estão nos bairros, nas vilas, nos distritos, no centro da cidade e em todas as oficinas de trabalho. A sua história de vida sempre voltada para o bem-estar da comunidade pode ser facilmente evidenciado. 

Os oportunistas, os estelionatários e os que brincam com a ilusão dos incautos estarão mostrando suas astúcias sempre malévolas. Seu sorriso de serpente pronta para dar o bote fatal é a sua especialidade. O eleitor precisa estar atento para esses inconvenientes. Eles existem e as suas vestimentas sempre vêm modificadas em cada pleito. 

Nesse contexto de clareza singular, o articulista também não tem o condão de oferecer os encantos pedagógicos para indicar o melhor candidato a ser sufragado nas urnas. Todos sabem o que resulta em algo melhor para a sua cidade. Sim, porque é na cidade que o eleitor vive, trabalha, cria sua família e resulta no maior protagonista dessa festa. 

Uma escolha benfeita e seguindo sempre os ditames da consciência é o melhor caminho para ser seguido. Afinal, serão quatro anos que terão que conviver com a boa escolha – e também com a má, porque resulta sempre na sua outra vertente igualmente verdadeira. 

O acerto na escolha das candidaturas pode serenar as consciências, alegrar os corações, festejar dignamente o esplendor da grande festa. Sem os vícios malditos dos engodos, dos estelionatos e das surpresas desagradáveis. Sua evidência maior está relacionada com aqueles que negociam o seu voto com favores passageiros, supérfluos, rápidos e que se dissipam como as nuvens. 

Eleito, esse candidato que te induziu em erro e comprou o seu voto nunca mais vai lhe receber em seu gabinete de trabalho. Você negociou com ele o voto. Ele não lhe deve nada. É assim que funciona esse comércio que só consegue trazer dor e sofrimento. 

Tenham certeza dessa verdade sem contestação querido eleitor. Se incorrer nessa aventura que não tem volta, terá efetivamente como companheira inseparável a própria vergonha para o seu agasalho. Cobrirá de vergonha também toda sua família, sentenciando-os a viverem os piores dias sem educação de qualidade, saúde, referência, bem como a segurança que todos necessitamos. 

Essas linhas são linhas de advertência, não têm o condão de ditar as regras para a melhor escolha. Resulta apenas em um indicativo para evitar os tropeços que podem nos remeter a viver em um estado de indignação íntima permanente. Isso ninguém merece. 

A nossa cidade precisa ser sempre a vitoriosa. Não interessa as cores partidárias e nem a ideologia dos seus combatentes. Aproveite a oportunidade. Você tem no voto a sua grande arma para a escolha dos melhores candidatos. Trata-se de uma arma silenciosa evidenciada pelo voto, que produzirá o seu efeito devastador com a força da sua consciência. 

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Banco Vermelho e as vítimas de feminicídio

Por Celeste Leite dos Santos, promotora do MPE de São Paulo

24/09/2024 07h30

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A Lei nº 14.942, de 31 de julho de 2024, introduziu o Banco Vermelho como uma das ações e campanhas de prevenção e conscientização da violência contra a mulher. A iniciativa consiste na instalação de, pelo menos, um banco na cor vermelha em espaços públicos de grande circulação de pessoas. Nele, devem constar frases que estimulem a reflexão sobre o tema e contatos de emergência, como o número telefônico da Central de Atendimento à Mulher (180), para denúncias e suporte às vítimas.

A legislação prevê, ainda, ações de conscientização em escolas, universidades, estações de trem e de metrô, rodoviárias, aeroportos e em outros locais que abarquem expressivo movimento. Trata-se de ação afirmativa em prol dos direitos das mulheres de serem livres e autônomas em uma sociedade, infelizmente, ainda impregnada por uma visão androcêntrica.

No Brasil, uma mulher morre a cada 15 horas por feminicídio. As vítimas têm filhos, demais familiares e amigos, que são, também, vítimas indiretas de mortes violentas e covardes e que impactam social e economicamente o nosso país. A iniciativa do Banco Vermelho alia, no mesmo local, um ato de protesto a um de conscientização e de memória, para que aquelas que se foram, via forma tão brutal, não sejam esquecidas.

Para os parentes e demais pessoas de convívio próximo das vítimas, a iniciativa propõe um efeito terapêutico e libertador, diante da dor pela perda do ente querido. Para a sociedade, concede o alerta de que precisamos lutar por direitos iguais entre homens e mulheres – única esperança possível para a desconstrução do preponderante paradigma misógino que predomina no Brasil.

O Banco Vermelho se integra a um conjunto de iniciativas globais de criação de memoriais pelo mundo, com o objetivo de honrar as mulheres assassinadas por homens, de aumentar a conscientização face à temática e de promover a Justiça.

Um bom exemplo disso vem do México, onde, em resposta à flagrante violência de gênero, manifestantes criaram uma estrutura e nela escreveram nomes de 1.254 vítimas de feminicídio.

 A cidade de São Paulo ganhou um desses memoriais com a inauguração, na sexta-feira (20/9), de um Banco Vermelho no Shopping Metrô Itaquera. A iniciativa foi colocada em prática pelo Instituto Banco Vermelho (IBV), pela Ancar Ivanhoe, empresa especializada na administração de shopping centers, e pela Universidade Guarulhos (UNG), com o apoio do Instituto Brasileiro de Atenção Integral à Vítima (Pró-Vítima).

Esses espaços são fundamentais não apenas para manter viva a memória das vítimas, mas, sobretudo, para pressionar as autoridades competentes por mudanças sociais e legais que protejam as mulheres em nosso país e pelo mundo.

Nesse contexto, vale mencionar o movimento em prol do Estatuto da Vítima, reivindicação do Instituto Pró-Vítima, por meio do Projeto de Lei nº 3.890/2020. Lamentavelmente, vieses misóginos no Congresso Nacional têm impedido a aprovação do texto para a proteção e a consagração dos direitos das vítimas no Brasil.

Por fim, os memoriais consistem em instrumento de conscientização sobre a gravidade do feminicídio e da violência doméstica. São o símbolo da promoção ao respeito, à igualdade e à dignidade da população feminina – fortalecem, ainda, a luta por uma sociedade livre da violência de gênero. É preciso amplificar essa mensagem para construirmos um futuro mais seguro para todas as mulheres.

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