Mato Grosso do Sul está prestes a alcançar um dos mais importantes reconhecimentos sanitários da pecuária brasileira: o status de zona livre de febre aftosa sem vacinação. A conquista é resultado de anos de trabalho coordenado entre produtores, técnicos, entidades do setor e o poder público. Trata-se de um selo internacional que abre mercados, atrai investimentos e posiciona o Estado em um novo patamar competitivo no agronegócio mundial.
No entanto, às vésperas desse avanço, a atuação do Instituto de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) levanta preocupações legítimas sobre o comprometimento da autarquia com a seriedade do processo, ao menos para este veículo de comunicação. Em vez de transparência, eficiência e rigor técnico, o que se vê no episódio da Fazenda Clarão da Lua é uma preocupante sensação de que interesses paralelos têm se sobreposto à missão institucional do órgão.
A sanidade animal, especialmente em um momento tão sensível, exige decisões pautadas na ciência, no bom senso, no diálogo e no respeito aos protocolos internacionais. Qualquer deslize pode custar caro. Um eventual revés no reconhecimento sanitário colocaria em risco não apenas a reputação do Estado, mas todo um ecossistema econômico construído com esforço coletivo. O impacto não seria apenas simbólico. Seria sentido na carne – literalmente – dos produtores, dos trabalhadores do setor, dos frigoríficos, dos exportadores e da economia do nosso grandioso estado.
Ao tratar com descaso temas fundamentais, como a fiscalização, o cumprimento de normas técnicas e a responsabilização por medidas judiciais que não afetam a vistoria, o Iagro flerta com a irresponsabilidade. Ainda mais grave é quando o órgão se posiciona de forma beligerante, preferindo recorrer com subterfúgios duvidosos, em vez de corrigir rumos e oferecer respostas claras à sociedade.
É inadmissível que, neste estágio, o Iagro esteja sendo o principal obstáculo à conquista de um reconhecimento internacional. Em vez de ser vetor de progresso, está se tornando um entrave que, no fim, pode estar minando a confiança dos produtores e a credibilidade do sistema de defesa sanitária. Trata-se de proteger um patrimônio coletivo: a confiança sanitária de um Estado que construiu sua economia sobre a base do campo. E confiança não se impõe – se conquista com coerência, transparência e compromisso público.
Mato Grosso do Sul não pode pagar o preço da omissão ou da politização de um processo que deveria ser técnico por excelência. O momento exige responsabilidade e, principalmente, respeito ao trabalho de milhares de pessoas que, por décadas, fizeram da pecuária sul-mato-grossense uma referência nacional. A sanidade animal não pode ser palco de brigas paroquiais. Que a razão, a ciência e o interesse do povo prevaleçam.