Política

Entrevista

"A migração do eSaj para o sistema eProc vai dar mais agilidade aos processos"

Presidente do TJMS, Dorival Pavan anuncia, em primeira mão, a migração do eSaj, atual sistema, para o eProc, que usa inteligência artificial; ele também diz como vai reforçar o combate à violência doméstica

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O Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) está passando por uma fase de transformação tecnológica e administrativa. Uma das principais mudanças é a substituição do sistema eSAJ pelo sistema eProc, que promete otimizar a tramitação processual e tornar o trabalho dos magistrados e dos advogados mais eficiente.

Em entrevista exclusiva ao Correio do Estado, o presidente da Corte, desembargador Dorival Renato Pavan, fala desta mudança que promete mais agilidade e do fim do que ele chama de “tempo morto” na tramitação de um processo. 

Além das inovações tecnológicas, Pavan também destaca convênios estratégicos com o governo para ampliar a proteção às vítimas de violência doméstica. Essas parcerias visam tornar o atendimento mais ágil e eficaz, proporcionando um suporte mais estruturado e acessível às vítimas.

Paralelamente, temas como benefícios financeiros concedidos a magistrados e investigações em andamento no Judiciário, que têm gerado debates, também são comentados pelo presidente do TJMS. 

O senhor chega em um momento em que a sociedade tem elevado suas cobranças ao Judiciário. Qual a resposta que é possível dar à sociedade neste período em que a comunicação é quase instantânea?

Primeiro, eu cheguei em um momento em que eu realmente não esperava, minha pretensão era de ser presidente daqui a dois anos. Então, foi antecipado, por uma série de fatores, mas, enfim, eu assumo a presidência do Tribunal de Justiça nesse momento de grandes atribulações, inclusive em termos nacionais. 
E eu gostaria de destacar que o Judiciário, nessa interlocução com a sociedade, sempre foi lento. O Judiciário trabalha de uma maneira mais lenta que o natural, porque é típico do juiz examinar e decidir mais pausadamente. 

Mas penso que essa comunicação lenta do Judiciário com o cidadão não pode existir. Tem de haver meios mais rápidos de resposta. Como se fosse abrir as portas para dizer: “Nós estamos fazendo isso de bom, aquilo de bom. Isso é ruim, vamos tentar mudar”.

Por isso, devemos fazer esse tipo de interlocução de uma forma mais rápida, porque, hoje, com as redes sociais em plena evolução, uma notícia em 5 minutos pode se atrasar porque tem uma mais nova em cima dela. 

Nos últimos anos também tem havido um escrutínio maior do Poder Judiciário? Qual deve ser a resposta para essas questões, como as críticas a respeito da remuneração dos juízes?

A imprensa trata a questão de renda do magistrado como penduricalho. Eu repudio essa afirmação. Por quê? Porque não se trata de penduricalhos, são direitos adquiridos pelos magistrados que eram devidos e não foram pagos em tempo oportuno.

Em face dos valores [a que se tem direito] reconhecidos, paga-se parceladamente, agrega-se ao valor que é pago como subsídio. Por isso são valores indenizatórios.

Há algumas semanas, a imprensa noticiou um fato de um trabalhador que ganhou R$ 832 mil na Justiça do Trabalho, em face do empregador, em face dos valores não pagos. Isso veio a público porque o advogado dele teria supostamente se apropriado desses valores.

Isso me chamou a atenção, e esse valor corrigido já passava de R$ 1 milhão. O trabalhador comum também tem isso. Se ele não tem verba trabalhista, ele vai à Justiça, que reconhece o direito, e ele recebe.

Agora, eu lhe pergunto: por que deveria ser diferente com o juiz ou o magistrado? Se ele também trabalhou e fez jus a certas verbas, que não foram pagas e foram reconhecidas como devidas, elas devem ser pagas com juros e correção. Onde está o penduricalho nisso?

Isso está, na realidade, no tratamento pejorativo que a imprensa dá. Indevidamente, porque deixa de falar que são direitos expressamente reconhecidos como devidos a cada juiz, tanto se fosse o caso por reconhecimento judicial, quanto pelo fato de que o Conselho Nacional de Justiça entendeu que esses valores são devidos e mandou pagar. Por isso, esses valores têm de ser pagos mesmo, sob pena de enriquecimento indevido da administração em detrimento de um magistrado que prestou serviço e não recebeu. É simples assim.

Sobre as investigações contra magistrados, não só aqui em Mato Grosso do Sul, mas no Brasil, como você vê esse olhar mais atento da sociedade?

O magistrado também é um trabalhador e, como a maioria dos trabalhadores do Brasil, também pode ter um problema ou outro. É natural este escrutínio da sociedade em relação ao trabalho do magistrado. 

Eu digo para você o seguinte: é a forma de controle que a sociedade tem e está em um dispositivo da Constituição, que diz que as decisões devem ser fundamentadas. A fundamentação da decisão é a prestação de contas à sociedade. 

Mas, enquanto o magistrado está atuando de forma natural em seu trabalho, o escrutínio sobre o trabalho não é colocado em discussão. Ele só vem à discussão quando há um entrave, um deslize, e isso por conta das investigações que acontecem. 

Eu sempre digo que deslizes podem acontecer em qualquer ambiente. E a magistratura não está infensa a isso, lamentavelmente. Só que nós não devemos julgar e condenar imediatamente. Nós devemos esperar o devido processo legal, a manifestação dos réus, dos indiciados no processo respectivo, a resposta que ele dá, a documentação que ele entrega... E, depois de julgado, nós vamos então fazer nosso juízo de valor. Porque o que acontece até agora é que a imprensa noticia e a condenação já existiu. 

Temos de trabalhar com a presunção de inocência. O Judiciário só trabalha com a presunção de inocência. O que não podemos, além de julgar antecipadamente, é colocar como se todo o Judiciário fosse isso. Não é. 
O Judiciário não pode ser prejudicado em sua função institucional pelo fato de que surgem, aqui ou acolá, algumas denúncias em relação a fatos denunciados. 

O que vem sendo feito para dar mais agilidade à Central de Processamento Eletrônico (CPE)?

O problema hoje da CPE é o advogado não ter meios para saber onde está o seu processo, em que fase está e quanto tempo vai demorar para fazer o cumprimento de uma medida judicial. Porque a CPE é uma coisa que ficou fechada, os processos vão todos para esta central, que tem mais de 700 servidores trabalhando lá, atendendo o Estado inteiro. 

É direito do advogado saber como está o seu processo. Ele tem o direito para poder informar seu cliente, mas ele não consegue chegar a ter essa informação. O que nós conversamos com a OAB? Que nós vamos melhorar o canal de comunicação. 

Estamos instalando um balcão virtual, que é uma forma de melhorar a comunicação entre o advogado e a CPE, para que ele tenha uma resposta rápida sobre em que pé está o processo dele. Se ele tiver uma reforma, informa ao cliente. 

Mas outro ponto que eu considero muito importante destacar no caso da CPE é que ela absorveu praticamente todo o trabalho do Estado inteiro. Por isso, uma de nossas propostas é fazer uma radiografia sobre se realmente devemos manter o mesmo número de processos sendo despachados pela CPE ou se podemos desvincular alguns juízos que têm mais problemas na CPE para que sejam cumpridos na própria comarca. 

Estamos discutindo esta proposta ainda, temos de saber se ela é viável e se temos número suficiente de servidores na comarca para atender a essa demanda. Um movimento desse gera despesa e impacta o orçamento, por isso, temos de equilibrar. 

O que está sendo feito para se dar mais agilidade à prestação jurisdicional?

Uma outra solução que vai ajudar muito é a migração de sistema do atual eSaj para o eProc. O eProc é um sistema criado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região [TRF4] e é gratuito. Teremos uma apresentação dele no dia 19 [de março]. 

Temos o eSaj, que está em grande parte dos tribunais do Brasil desde antigamente. Hoje, todos estão saindo deste sistema e migrando para o eProc. São poucos os tribunais brasileiros que continuam com o eSaj. Nós seremos um dos últimos a sair. 

Como é, na prática, o eProc?

Ele é gratuito e tem acoplado nele a inteligência artificial [IA]. Ele aprende com o próprio andamento do sistema [machine learning] e vai eliminar o que chamamos de “tempo morto” do processo. Porque o juiz dá o despacho inicial na ação: “Cite-se, para contestar, querendo, em 15 dias”. Ou seja, um despacho inicial de uma ação comum. O sistema vai fazer com que esta citação seja feita. Feita a citação, imediatamente ele aguarda o tempo da resposta do réu. Tudo isso eletronicamente. Se vier a resposta do réu, ela não volta para o juiz, já vai para o autor contrariar, impugnar a contestação.

O processo só volta para o juiz quando estiver pronto para sentenciar, ou para promover o julgamento antecipado da lide, ou para deferir provas, ou para realizar uma audiência de instrução e julgamento.

Então o sistema fará mais atividades-meio para liberar tempo para o magistrado realizar mais atividades-fim?

A atividade-meio é toda realizada pelo sistema, ele dá conta disso. Já a atividade-fim é do juiz. O juiz vem para decidir sobre uma preliminar, ou sobre a realização de uma audiência, ou para sentenciar. 

A inteligência artificial vai fazer uma leitura prévia do processo e dar para o juiz os pontos que foram debatidos, as provas que estão nos autos, já para o juiz fazer o relatório dele e ter todos os elementos necessários para poder fazer a sentença. Então, veja: será uma evolução muito grande, um passo gigantesco no andamento do processo, que vai fazer com que o “tempo morto” diminua. 

O que o Judiciário pode fazer, efetivamente, para reduzir a violência doméstica?

O feminicídio começa por uma questão cultural. O marido, dentro desta sociedade patriarcal que nós vivemos, comanda o lar e acredita que a mulher deve subserviência a ele, pratica a violência em função exatamente desta condição que ele tem de patriarca em relação à mulher, que ele acredita que lhe deveria obediência, e não é assim que tem que ser. 

A sociedade não é mais isso, não é mesmo? Essa transformação social ainda não está inserida em alguns meios familiares e gera esse tipo de violência, oriunda da sobreposição do homem em relação à mulher. É uma cultura que tem de mudar. 

A segunda coisa é a estrutura que o poder público oferece para a proteção da mulher, não é mesmo? Nós tínhamos, aqui, em Campo Grande, uma Vara da Violência Doméstica e resolvemos criar a 2ª Vara da Violência Doméstica. 

Com duas varas em operação, há uma maior divisão do trabalho, uma possibilidade maior de decisões mais rápidas e com maior qualidade. 

Estamos, inclusive, ampliando a possibilidade de o juiz examinar os fatos que vêm à mão dele para poder dar a decisão mais adequada ao caso. Firmamos um convênio com o governo do Estado para que o sistema Sigo, da Polícia Civil, possa ser integrado ao eSaj e o juiz ter condições de examinar imediatamente qual é o antecedente criminal deste indivíduo, para poder já dar a medida mais adequada. Porque, em alguns casos, uma simples ordem de afastamento não resolve.

No caso do agressor da jornalista [Vanessa Ricarte, assassinada em fevereiro pelo ex-noivo], pelo histórico dele, seria o caso de decretar a prisão já após o atendimento. 

Outro convênio que estamos firmando é com o estado de Mato Grosso do Sul, para a criação de um Batalhão da Lei Maria da Penha, com viaturas e homens e mulheres devidamente treinados para cumprir mandados expedidos nessas duas varas de defesa da mulher. 

O que mais lhe preocupada no momento atual do Poder Judiciário?

Eu estou preocupado com o estrangulamento da prestação jurisdicional, com o atraso dos processos. Nós temos 834 mil processos que estão aí há meses ou anos para serem decididos. Isso passa ao cidadão uma sensação de desconforto, de desconfiança do Judiciário, porque ele vai em juízo, espera ter um direito que ele sabe que tem, mas esse direito não é reconhecido ou demora para ser reconhecido. Isso gera insatisfação. Insatisfação jurídica, inclusive. 

Mas, para resolver isso, nós precisamos de juízes e precisamos de servidores. E nosso orçamento está estrangulado. Então, vou precisar passar por uma reestruturação de orçamento para poder fazer frente a este tipo de coisa, para eu poder atacar efetivamente os problemas que eu devo atacar. Isso, contudo, me angustia, porque tenho angústia com processo parado, porque eu sei que o cidadão está precisando de resposta. 

Mas nós já começamos a dar essa resposta. Fizemos uma primeira força-tarefa, pegamos uma das varas aqui de Campo Grande, que estava com 9 mil processos parados, remanejamos um juiz temporariamente para que a tarefa fosse feita e nós temos juízes com um volume menor de processos. Como tudo é virtual, este trabalho é feito pelo sistema. 

Por exemplo: pego de três a cinco juízes de comarcas do interior, nomeio estes juízes para atuarem temporariamente em processos daqui.

Perfil

Dorival Renato Pavan

Dorival Renato Pavan, atual presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), é natural de Mandaguari (PR) e ingressou na magistratura em 1985. É desembargador desde 2008. Foi vice-presidente do TJMS no biênio 2023-2024 e assumiu a presidência neste ano. 

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CÓDIGO DE CONDUTA

CNJ proíbe juiz coach e limita participação em eventos e cursos

Conselheiro da OAB-MS no CNJ, Mansour Karmouche explicou que a medida foca quem faz promoção pessoal

13/12/2025 08h00

Mansour Elias Karmouche durante sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília (DF)

Mansour Elias Karmouche durante sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília (DF) Divulgação

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou em setembro e entrou em vigor este mês a Resolução nº 650/2025, que regulamenta em todo o Poder Judiciário como os magistrados podem atuar como docentes e participar de eventos, reforçando limites para evitar conflitos com o expediente forense e com a independência judicial.

Pelo texto, magistrados da União e dos estados continuam proibidos de exercer outro cargo ou função, ainda que com disponibilidade, com exceção do magistério.

Mesmo assim, a atividade docente fica condicionada à compatibilidade de horários com o trabalho no fórum.

A regra vale também para o ensino a distância (EAD), que deverá seguir os mesmos princípios do formato presencial, incluindo a exigência de conciliação com o expediente forense.

A resolução determina ainda que cada tribunal deverá regulamentar o limite máximo de carga horária semanal dedicada à docência de EAD, levando em conta “peculiaridades locais”.

Além disso, fica vedado ao magistrado exercer cargo administrativo ou técnico em instituição de ensino, com exceção de funções como coordenação de curso, projetos de pesquisa e extensão, ou atividades em escolas de aperfeiçoamento dos próprios tribunais e entidades vinculadas.

Um dos pontos centrais é a proibição explícita da prática de coaching e atividades similares para preparação de candidatos a concursos, mesmo quando envolvam conteúdos jurídicos.

O CNJ estabelece que esse tipo de serviço – descrito como treinamento organizado e oneroso voltado a “objetivos predefinidos”, como aprovações e ganhos – não é considerado docência e, por isso, é vedado a magistrados.

A norma equipara ao coaching a assessoria coletiva via mídias e redes sociais quando houver monetização digital ou captação de clientela para venda de produtos e serviços.

Há, porém, uma ressalva: mentoria gratuita, individual ou coletiva, direcionada a alunos de políticas afirmativas construídas no âmbito do CNJ e voltada à pluralização do perfil da magistratura, não é tratada como coaching, mas deverá ser formalmente comunicada ao tribunal competente, em registro eletrônico.

Para atividades regulares de docência em instituições de ensino, o magistrado terá de registrar eletronicamente no tribunal informações como entidade, horários e disciplinas ministradas, preferencialmente no início de cada semestre, mantendo os dados atualizados.

O CNJ e a Corregedoria Nacional de Justiça farão acompanhamento periódico dessas informações.

A resolução também amplia o conceito de atividade docente para fins de controle: participação de magistrados como palestrantes, conferencistas, moderadores, debatedores, integrantes de comissão organizadora, membros de bancas de concurso e de comissões de juristas (inclusive instituídas pelo Legislativo ou o Executivo) passa a ser considerada docência.

EVENTOS

Uma exceção é criada para participações virtuais breves e não remuneradas: eventos online (ao vivo ou gravados) de até 20 minutos, em horário compatível com o expediente, ficam dispensados do registro eletrônico.

No capítulo sobre eventos, o CNJ estabelece que congressos, seminários, simpósios e encontros similares promovidos, realizados ou apoiados por conselhos e tribunais devem observar princípios como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O texto permite patrocínio de empresas com fins lucrativos até o limite de 30% do custo total do evento e autoriza patrocínio parcial ou total por entidades filantrópicas e fundações de direitos humanos, desde que compatíveis com o tema.

Já quando o evento for promovido ou subvencionado por entidade privada com fins lucrativos e houver custeio de transporte e hospedagem, a participação de magistrados fica limitada a papéis específicos, como comissão organizadora ou atuação como palestrante, moderador e debatedor – com exceção para eventos custeados exclusivamente por associações de magistrados.

A resolução ainda prevê a possibilidade de magistrados receberem premiação da administração pública ou de entidades sem fins lucrativos por obra jurídica ou prática inovadora de interesse da administração judiciária, desde que não haja comprometimento da independência funcional.

Também admite o recebimento de itens de cortesia em situações específicas, desde que o valor patrimonial não descaracterize o caráter simbólico.

ANÁLISE

Segundo Mansour Elias Karmouche, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional em Mato Grosso do Sul (OAB-MS) e conselheiro federal no CNJ, essas restrições aos magistrados foram o último ato do ministro Luís Roberto Barroso, antes de se aposentar do Supremo Tribunal Federal (STF).

“A medida foca os magistrados que costumam promover e oferecer cursos paralelos de mentoria e coaching, e, a partir de agora, essa prática foi completamente vedada. A proibição está alinhada a um código de conduta para magistrados, com o magistério ainda sendo aprovado, mas não podendo mais participar das redes sociais na capacidade de empreendedores”, detalhou.

Mansour Karmouche reforçou que a resolução chega em um momento de necessidade de mais transparência no sistema judicial brasileiro e foca a preocupação sobre potenciais conflitos de interesse dos magistrados.

“A partir de agora, todos os magistrados que participam de eventos precisam registrar e comunicar informações, incluindo valores recebidos e patrocinadores. Isso é importante para a segurança da sociedade, porém, infelizmente, a resolução se aplica apenas até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois o STF está fora do alcance das regulamentações do CNJ”, pontuou.

O conselheiro federal da OAB no CNJ destacou que o ministro Luiz Edson Fachin, presidente do STF, pela limitação do conselho, propôs uma resolução específica para disciplinar a participação dos magistrados do Supremo.

“Essa proposta surgiu, em parte, após uma viagem controversa do ministro Dias Toffoli, que gerou grande polêmica”, recordou.

Fachin tem apresentado a ministros da Corte a intenção de criar um código de conduta para integrantes de tribunais superiores, como na Alemanha, onde o Tribunal Constitucional elaborou um código de conduta em 2017.

São 4 artigos e 16 itens no total, que são um conjunto de regras para os integrantes da Corte considerada a guardiã da Constituição alemã e que tem inspirado o ministro Fachin.

O primeiro artigo do Código de Ética alemão diz que: “Juízas e juízes devem se comportar, dentro e fora de suas funções, de modo a não prejudicar o prestígio do Tribunal, a dignidade do cargo e a confiança em sua independência, imparcialidade, neutralidade e integridade”.

O texto afirma que precisa existir um “zelo para que não surja qualquer dúvida quanto à neutralidade perante grupos sociais, políticos, religiosos ou ideológicos”. Ele cita também o cuidado com as “relações pessoais”.

O código tem, ainda, um parágrafo sobre a ética de aceitar presentes: “Juízas e juízes só aceitam presentes e benefícios de qualquer tipo apenas na medida em que isso não possa gerar dúvidas sobre sua integridade pessoal e independência”.

Diz também que os magistrados podem “receber remuneração por palestras, pela participação em eventos e por publicações somente e apenas na medida em que isso não prejudique o prestígio do Tribunal nem gere dúvidas quanto à independência, à imparcialidade, à neutralidade e à integridade de seus membros” e que “os rendimentos obtidos em atividades extrajudiciais devem ser divulgados”.

Por determinação do Código de Ética alemão, esses dados são públicos e ficam liberados para consulta. A tabela de 2024 é a mais recente disponível.

Mostra exatamente o quanto cada integrante do Tribunal Constitucional da Alemanha ganhou em atividades fora do Judiciário – publicação de livros e artigos, palestras, participações em eventos independentes.

O código também determina que os magistrados da Corte não podem emitir pareceres sobre questões de direito constitucional nem fazer previsões sobre o resultado de processos pendentes ou que podem vir a ser decididos pelo Tribunal.

O texto prevê ainda regras para depois do término do mandato. Fala, por exemplo, que os juízes não podem assumir atividades de consultoria nem emitir pareceres técnicos no primeiro ano fora do Tribunal e que, mesmo depois desse período, está vedada a atuação em casos da Corte para não dar a impressão de utilização indevida de conhecimentos internos.

O Reino Unido também tem código de ética para magistrados de tribunais superiores.

O documento determina que os juízes são expressamente proibidos de aceitar remuneração por atividades extrajudiciais e tem uma parte específica que fala o que é preciso ser levado em conta para que um magistrado se declare impedido de julgar uma determinada ação.

Nos Estados Unidos, a Suprema Corte adotou um código de ética em 2023, depois que reportagens revelaram que juízes ocultaram ter recebido presentes e benefícios de empresários. Um dos magistrados é Clarence Thomas, que está na Corte desde 1991.

Segundo investigações de agências de notícias do país, ele aceitou, durante anos, viagens de luxo pagas por um bilionário texano, que comprou uma casa do juiz. A transação não foi informada às autoridades. O código americano estabelece, por exemplo, que juízes precisam explicar os motivos de se declararem impedidos de julgar um caso.

Logo no início, o texto afirma: “A ausência de um código levou à falsa impressão de que os juízes desta Corte se consideram imunes a regras éticas. Para acabar com essa percepção enganosa, estamos publicando esse código, que representa uma codificação dos princípios que nós sempre respeitamos”.

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advogados e juristas

Prerrogativas homenageia Tebet e a convida para integrar chapa lulista em SP

"Nesta política do Brasil precisa ter coragem. E coragem não me falta", declarou Simone depois de ser convidada para mudar domicílio eleitoral para SP

13/12/2025 07h23

Simone Tebet recebeu homenagem de grupo de juristas ao lado de Geraldo Alckmin e Fernando Hadad

Simone Tebet recebeu homenagem de grupo de juristas ao lado de Geraldo Alckmin e Fernando Hadad

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Uma homenagem do grupo Prerrogativas a Simone Tebet (MDB), Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) voltou a flertar com a possibilidade de ter os três ministros em uma chapa em São Paulo como palanque de Lula na eleição do ano que vem. Atualmente, o título eleitoral de Simone Tebet está em seu Estado natal, o Mato Grosso do Sul. 

Em evento com tom de campanha eleitoral, os três foram citados pelo coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, como representantes da frente ampla que deu a vitória a Lula em 2022 e como trunfos para a eleição de 2026. O Prerrogativas é formado por advogados e juristas pró-PT e ampliou sua influência no governo com a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Nós vamos ganhar em São Paulo e no Brasil, em todos os Estados. Essa é a aliança pela democracia que vai vencer as eleições em 2026", disse Carvalho. Em uma referência indireta às crises recentes envolvendo o Congresso, ele também afirmou que Lula é o único adulto na sala e não quer "abocanhar" as competências dos outros Poderes.

"É um luxo para São Paulo ter três opções. É uma chapa que representa a união da direita civilizada, da centro-direita, centro-esquerda e esquerda em torno das instituições e da defesa da democracia", disse Carvalho ao Estadão.

Questionado se a ministra do Planejamento estaria disposta a mudar o domicílio eleitoral para São Paulo, respondeu: "Eu acho que ela estava esperando o chamado. Hoje nós fizemos o chamado para ela se apresentar à população de São Paulo. O Prerrogativas dá sorte". O grupo fez parte da articulação que levou Alckmin a vice de Lula em 2022.

Apesar de o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ter lançado sua pré-candidatura à Presidência há poucos dias, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue sendo alvo preferencial do PT e foi citado pelo menos duas vezes em discursos no palco.

Haddad lembrou a declaração de Lula direcionada ao governador mais cedo nesta sexta-feira, de que os prognósticos de especialistas para a economia não se concretizaram. Marco Aurélio também fez críticas à gestão de Tarcísio em São Paulo.

"Hoje o presidente Lula falou uma coisa muito importante. Ele falou olhando pro governador de São Paulo: ‘Você viu Tarcísio que todos os prognósticos feitos por economistas não deram certo?’", disse Haddad. "Não é comemorar que o caras que apostaram contra o Brasil estavam errados. É comemorar que nós demos certo", continuou.

Haddad resiste a ser candidato novamente. Nesta semana, ele disse em entrevista ao jornal O Globo que pode deixar o ministério para ajudar na campanha de Lula no ano que vem, mas que já avisou ao presidente que não quer disputar uma nova eleição.

O petista é cotado tanto para disputar o governo de São Paulo quanto o Senado pelo Estado. Ao ser questionado novamente por jornalistas na noite desta sexta-feira, Haddad disse que já havia falado sobre o tema na entrevista.

Ex-presidente do PT e ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann afirmou a jornalistas no evento que ainda não há uma definição.

"É óbvio que qualquer lançamento de nome, de composição, a gente tem que conversar. Não se faz de uma hora para a outra. Mas, com certeza, são 3 nomes muito potentes, muito importantes na política nacional e local aqui em São Paulo", afirmou.

Apesar de seu partido, o MDB, ainda não ter definido qual caminho seguirá em 2026, Tebet foi taxativa e disse que estará no palanque de Lula. A ministra do Planejamento recebeu aplausos da plateia ao dizer que Lula é maior presidente que o Brasil já teve. O MDB já teve José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer como presidentes.

Para estar no palanque de Lula em São Paulo, ela teria que deixar o Mato Grosso do Sul e mudar de partido, já que o MDB paulista apoia Tarcísio. Tebet é cotada para uma vaga ao Senado, mas ao final de seu discurso algumas pessoas na plateia gritaram "governadora".

"Nesta política do Brasil precisa ter coragem. E coragem não me falta", declarou.

No caso de Alckmin, a prioridade é repetir a chapa com Lula para o Palácio do Planalto. Ele afirmou que o petista salvou a democracia ao derrotar Bolsonaro em 2022 e foi o orador mais aplaudido ao iniciar seu discurso cumprimentando a plateia com "companheiros e companheiras", marca do presidente.

Além dos três, o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), já manifestou o desejo de ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Ele não compareceu ao evento.

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