No topo, triste e solitária, está a velha e porosa árvore desgalhada.
Do alto, ela domina a amplidão.
Parece ter vergonha dos irmãos copados e folhudos, cheios de sombra e pássaros esvoaçantes.
Quando muito, o corvo e o pinhé lhe sentam à galharia disforme, seca, retorcida, esbranquiçada...
É o símbolo da desolação essa árvore erguida, espectralmente, no ermo.
Somente o fogo da queimada de agosto lhe faz carícias. Às vezes lhe alcança o tronco ressequido, devorando-o em poucos minutos, para transformá-la num montão de cinzas, logo após...
Dias mais, brotarão ali a urtiga e o joá. Então, aparecerá o lagarto de papo amarelo. Ele gosta de se esquentar ao sol, escarrapachado em monte de cinza nova. A cinza esquenta o papo e, lagarto de papo quente, fica ligeiro e brabo, brigador...
A lenda crioula diz que essa árvore reflete a alma do estancieiro mau.
O sangue do próximo por ele derramado secou a sua seiva. E quando o cristão morre pelos maus-tratos, ela também sucumbe.
Na sepultura do morto, dá formiga preta; no cinzeiro dela, urtiga e joá.
O sertanejo acredita na lenda, por isso, passa de longe; não lhe amarra cavalo no tronco.
Árvore desgalhada põe canseira no pingo.
E, conforme a lua, provoca garrotilho dos brabos...
Hélio Serejo


