Política

PARA RODOVIAS

Deputados autorizam governo a emprestar R$ 2,3 bilhões junto ao BNDES

Dinheiro será para investimento em 900 km de 11 rodovias do Estado

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Os deputados estaduais de Mato Grosso do Sul autorizaram o governador Eduardo Riedel (PSDB) contrate empréstimo de R$ 2,3 bilhões junto ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para investimentos em obras em rodovias do Estado.

O projeto de lei foi aprovado na sessão desta quinta-feira (31), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul em primeira votação e discussão.

O deputado João Henrique (PL) votou contra o projeto e, em discussão, disse que o projeto não poderia ser aprovado sem garantia de que os parlamentares possam indicar projetos e condições para uso da verba.

"Ele [Riedel] vai contratar para nós um empréstimo de R$ 2,3 bilhões para pagar em 12 anos, e não sabe em quantos anos. Quer dizer, a frente do mandato dele, como se ele continuasse governador daqui a 12 anos, para que nós assumamos esse ônus sem saber se os estados serão afetados. Vamos precisar da garantia de deputados e senadores de outros estados, se sensibilizarem para que nós tenhamos as condições", disse.

João Henrique disse ainda que não haverá redução de cargas tributárias e não se sabe o valor dos juros.

"Da maneira como está sendo feita esse projeto, simplesmente autoriza a pegar R$ 2,3 bilhões, podemos pagar R$ 10 bilhões, R$ 15 bilhões de juros e a conta ficar para outros governadores e outras Assembleias resolverem. Da maneira como está não pode passar, eu vou votar não, vou votar contra", finalizou.

Já o deputado Pedro Pedrossian Neto, vice-líder do governo na Casa, disse que o governo tem nota A, a nota máxima no indicador chamado de Capacidade de Pagamento (Capag) e que diante desse número, é permitida a captação do empréstimo bilionário para obras de infraestrutura e que, segundo ele, o empréstimo não irá alterar a situação fiscal do Estado.

Ele também afirmou que, ao contrário do dito por Catan, o governador ouviu as indicações apontadas pelos parlamentares para investimentos.

"Penso que o nosso governador acerta quando vem a esta Casa dialogar com o colegiado dos 24 deputados estaduais para discutir, junto com os deputados, indicações onde faremos esses investimentos", disse, acrescentando que há um objeto onde será feito o investimento e não se trata de "um cheque em branco".

A proposta foi aprovada por 20 votos favoráveis e dois contrários, sendo o de João Henrique e Rafael Tavares (PRTB). O texto ainda passará por nova votação e discussão antes de ir para sanção do governador.

Investimentos

Ontem, o governo Eduardo Riedel se reuniu com os deputados para detalhar os investimentos que serão feitos com o dinheiro.

O recurso será usado para investimento na malha rodoviária, com obras em 900 km de rodovias estaduais, com objetivo de melhorar o tráfego e o escoamento da produção do Estado.

Segundo informou o deputado Pedro Pedrossian Neto (PSD), vice-líder do governo na Assembleia, 600 km de rodovias que estão atualmente cascalhadas serão pavimentados, enquanto outros 300 km de rodovias já pavimentadas serão recuperadas.

Além disso, o governador também informou que o material utilizado será o concreto, que já é utilizado em outros países e aumenta a durabilidade do asfalto.

“Naturalmente que tem um investimento um pouco mais elevado, cerca de 20% a 25% no aumento do custo por quilômetro. Por outro lado, nós vamos aumentar a durabilidade para cerca de 30 anos com um asfalto com maior teor de concreto”, disse Pedrossian Neto ontem.

Com relação ao impacto da dívida, o deputado conta que Riedel esclareceu que não irá comprometer as finanças do Estado, que se encontras com nota máxima no indicador chamado de Capacidade de Pagamento (Capag).

Dentre as rodovias que receberão os investimentos, estão previstas a pavimentação da MS-134, no trecho que fica entre a MS-040 e a BR-267, no distrito de Casa Verde, e a restauração da MS-276, que vai do distrito de Indápolis ao município de Deodápolis.

Conforme antecipado pelo Correio do Estado, ao todo, serão pavimentadas 11 rodovias, e outras 5 serão recuperadas com os recursos do empréstimo. 

O recurso vai preparar vias estaduais para um grande projeto para conceder à iniciativa privada duas rodovias federais e uma rodovia estadual que ligam Campo Grande ao estado de São Paulo: as BRs 262 e 267 e a MS-040. Com isso, o Estado deve ter mais três rodovias com praças de pedágio, além da BR-163.

Empréstimo

O valor total pleiteado é de R$ 2.370.000.000,00, “para investimento em projetos de infraestrutura e de logística do transporte rodoviário, oportunizando o aumento da malha rodoviária e o escoamento de cargas da região”.

Em justificativa enviada com o projeto de lei, o governador Eduardo Riedel afirma que a operação de crédito é de baixo risco, pois tem condições facilitadas, juros reduzidos e prazo de amortização consideravelmente maior em relação às outras instituições financeiras nacionais, "sendo realizado em moeda nacional, o que imuniza o Estado do risco cambial inerente às operações de crédito internacionais". 

O agente financeiro com o qual será contratada é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), através da linha Finem, de baixo risco, condições facilitadas, juros reduzidos e prazo de amortização maior em relação a outras instituições financeiras nacionais.

Segundo afirma o governador na mensagem, o empréstimo “mostra-se possível diante das condições fiscais favoráveis ao Estado, especialmente na sua capacidade de pagamento”.

“A operação de crédito sobre a qual se requer autorização confere ao Estado a possibilidade de destinar e equalizar os gastos e investimentos públicos com mais dinamismo e celeridade, dentro dos limites legais, resultando em um gerenciamento que se reflete em benefícios à população sul-mato-grossense”, afirma o Executivo.

O projeto foi protocolado no dia 23 de agosto na Assembleia Legislativa. 

GESTÃO 2025-2028

Após anunciar secretários, prefeita nomeia primeiros comissionados do 2º mandato

Nos primeiros dois dias úteis da gestão, Adriane Lopes nomeou 120 servidores comissionados

04/01/2025 11h45

Fachada da Prefeitura Municipal de Campo Grande, localizada na avenida Afonso Pena

Fachada da Prefeitura Municipal de Campo Grande, localizada na avenida Afonso Pena GERSON OLIVEIRA

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Prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes (PP), nomeou as primeiras listas de servidores comissionados para o mandato 2025-2028.

Os nomes foram publicados em edição extra do Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande) nesta quinta-feira (2) e sexta-feira (3).

Na quinta-feira (2), 9 servidores comissionados foram nomeados para o cargo de Direção e Assessoramento de Tecnologia da Informação na Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação.

Já na sexta-feira (3), 33 foram nomeados na Secretaria Municipal de Administração e Inovação e 87 foram nomeados para o cargo de Direção e Assessoramento de Tecnologia da Informação na Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação.

Comissionado é o servidor que ocupa um cargo de confiança, de livre nomeação e exoneração, em caráter transitório.

Os cargos comissionados não exigem concurso público e são destinados a atividades de chefia, direção ou assessoramento.

São ocupados por pessoas de confiança do gestor e podem ser criados ou extintos conforme as necessidades da administração pública.

Confira aqui e aqui os novos comissionados da Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) para a gestão 2025-2028. 

SECRETARIADO

Adriane Lopes anunciou, nesta sexta-feira (3), alguns nomes que irão compor o secretariado do mandato 2025-2028. Instantes depois, os nomes foram publicados no Diogrande em edição extra. Confira:

Márcia Helena Hokama - Secretaria de Fazenda (Sefaz)

Formação: Graduada em Ciências Contábeis, pós-graduada em Auditoria e Contabilidade Pública, com MBA em Gestão Pública.

Experiência: Auditora do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul, onde foi diretora de Contabilidade, Orçamento e Finanças. Atuou como secretária adjunta da SEFIN (2021 a abril de 2022) e titular da pasta de abril de 2022 a dezembro de 2024.

Andréa Alves Ferreira Rocha - Secretaria de Administração e Inovação (Semadi)

Formação: Advogada, formada pela UCDB em 1995. Pós-graduada em Direito Processual Civil, Formação Docente para o Ensino Superior, e Direito e Gestão Municipal.

Experiência: Professora universitária na Uniderp (2002-2017) na disciplina de Direito Processual Civil. Atuou na Secretaria de Assistência Social como chefe da Assessoria Jurídica (2017-2022). Em 2022, foi assessora jurídica do gabinete da prefeita e, em julho de 2024, assumiu a Secretaria Municipal de Gestão.

Ademar Silva Junior - Secretaria de Meio Ambiente, Gestão Urbana e Desenvolvimento Econômico (Semades)

Formação: Médico-veterinário com especialização em agronegócios.

Experiência: Possui ampla trajetória no setor agropecuário e na gestão pública. Foi presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul), do Conselho Curador da Fundação Educacional para o Desenvolvimento Rural (Funar) e do Conselho Administrativo do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar AR/MS).

Atuou como vice-presidente de Finanças da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e presidente da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER). No âmbito estadual, foi secretário-adjunto da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) e diretor-presidente da Fundação do Trabalho de MS (Funtrab).

No município de Campo Grande, ocupou o cargo de secretário municipal de Inovação, Desenvolvimento Econômico e Agronegócio (Sidagro), onde liderou iniciativas voltadas ao progresso econômico sustentável e à inovação.

Leandro Basmage - Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação (Agetec)

Formação: Graduado em Engenharia Mecatrônica, com mestrado em Inteligência Artificial.

Experiência: Atuou em cargos de liderança em grandes empresas do setor sucroalcooleiro e em instituições de ensino de Campo Grande, tanto como docente quanto coordenador de cursos.

Possui artigos publicados em revistas nacionais e internacionais. Está na gestão pública há três anos e lidera a AGETEC como diretor-presidente desde julho de 2024.

Os nomes anunciados não são novidade, pois já ocuparam cargos do alto escalão da prefeitura e são "rostos conhecidos". Adriane Lopes afirmou que irá anunciar os novos nomes até sexta-feira (10). 

“Até o dia 10 de janeiro, na próxima sexta-feira, teremos o nosso secretariado completado. Os que já foram anunciados, os termos de compromisso individuais, e quando o time estiver completo, vamos fazer a assinatura do contrato de gestão, com prazos, metas e avanço dos indicadores da administração pública”, disse a chefe do executivo municipal.

Ainda faltam os nomes das seguintes secretarias e autarquias: 

  • Procurador-Geral do Município
  • Secretário Especial da Casa Civil
  • Secretário Munic. de Governo e Relações Institucionais
  • Controlador-Geral do Município
  • Secretário Especial de Segurança e Defesa Social
  • Secretário Especial de Planejamento e Parcerias Estratégicas
  • Secretário Munic. de Educação
  • Secretário Munic. de Saúde
  • Entre outros

Entrevista

"O Poder Judiciário precisa se comunicar melhor com a sociedade"

Desembargador Ari Raghiant Neto fala sobre supersalários, dizendo que essa não é uma realidade para a maioria dos magistrados, comenta investigações e afirma que o TJMS é um dos mais céleres do País

04/01/2025 09h30

Desembargador Ari Raghiant Neto em entrevista ao Correio do Estado

Desembargador Ari Raghiant Neto em entrevista ao Correio do Estado Paulo Ribas / Correio do Estado

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Há dois anos como desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS), 
Ari Raghiant Neto tem implantado em seu gabinete um método que sempre deu certo no período em que era advogado e estava na iniciativa privada: a busca pela eficiência e pela organização. Por lá, por exemplo, os assessores são divididos por temas, a fim de agilizar julgamentos e entregar coerência jurisprudencial.

Em entrevista ao Correio do Estado, o desembargador fala sobre matérias importantes que tem incomodado o Poder Judiciário, como as investigações de supostos casos de corrupção e as notícias sobre supersalários. Ele ainda ressalta que o TJMS está entre os tribunais mais eficientes do Brasil e que não só a Corte sul-mato-grossense, mas o Judiciário como um todo, precisa se comunicar melhor com a sociedade. Confira a seguir.

Como você interpreta o escrutínio da sociedade cada vez maior em relação ao Poder Judiciário?

Eu penso que passamos por uma grande transformação por meio da tecnologia. Aquilo que antes era inacessível à população de um modo geral, hoje, com apenas um clique no telefone celular, a população tem acesso, seja à boa, seja à má informação. Então, o poder público – e aí eu falo de um modo geral –, o Executivo, o Judiciário, o Legislativo, o Ministério Público, a Defensoria, a Procuradoria, precisam saber se comunicar melhor com a sociedade.

Eu estou desembargador há dois anos, e nesse período eu tenho feito uma autocrítica ao Poder Judiciário: ele se comunica mal com a sociedade. Eu percebo que, quando se fala em Judiciário, em linhas gerais, cita-se muito corrupção e altos salários. Praticamente ninguém fala do papel do Judiciário na sociedade.

Por exemplo, a Carreta da Justiça, que desenvolve um papel social extraordinário na Capital e no interior do Estado; quase ninguém fala do Cejusc Saúde, que resolve questões relacionadas à falta de atendimento médico para o cidadão; ninguém fala da Vara da Infância, da Adolescência e do Idoso, que trouxe uma série de políticas públicas para esse segmento social; ninguém fala da Vara de Violência Doméstica e Familiar e o papel que ela desenvolve até hoje, inclusive o papel pedagógico em relação às mulheres.

E isso não é muito divulgado, não é bem compreendido pela sociedade. Hoje, a Geni do poder público – aquela que todo mundo joga pedra – é o Poder Judiciário, em função de um ou outro caso isolado de corrupção e em razão de um ou outro magistrado que destoa de todo mundo, por causa da questão remuneratória.

Como um egresso da advocacia, você já esteve do outro lado. Acredita que é preciso o Judiciário dialogar mais com o povo?

Eu creio que nós precisamos nos adaptar à nova dinâmica da vida. O próprio Conselho Nacional de Justiça [CNJ] já expediu uma série de recomendações e orientações no sentido de que juízes devem trabalhar com a linguagem simples, no sentido de que os acórdãos – que são as decisões dos tribunais – têm de ter um formato padronizado com a explicação daquilo que está sendo julgado. E qual é o propósito disso tudo? Justamente levar para a sociedade aquilo que o Judiciário está decidindo.

Há pouco tempo, a população nem sequer tinha acesso aos juízes, aos desembargadores e aos ministros, no sentido de saber aquilo que estava sendo decidido. Era tudo muito distante. A Constituição de 1988 inaugurou uma série de direitos, sobretudo no campo social, e isso fez com que a população passasse a buscar mais o Poder Judiciário.

Há uma grande aproximação da população, com os juizados cíveis, criminais, da fazenda pública, de trânsito, e isso tudo fez com que a sociedade passasse a olhar um pouco mais [para 
o Judiciário], compreendendo o papel do Judiciário como aquele que soluciona problemas, pacifica relações. Ainda há um distanciamento, mas ele vem sendo reduzido com o tempo.

Para você, a sociedade em geral coloca as cobranças contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Judiciário de cada localidade tudo em um mesmo combo?

É verdade, e é por isso que eu bato nessa tecla sobre uma comunicação melhor. Porque cabe ao Judiciário mostrar para a sociedade qual é o papel dele, inclusive nas três instâncias. 

É importante mostrar o que cabe a um juiz, o que cabe a um desembargador e o que cabe aos ministros. Às vezes, a gente é atacado por uma decisão do Supremo que não é da nossa competência. Aliás, talvez eu até possa ter decidido em outro sentido um grau de recurso que o STF modificou.

Por isso, nós não podemos olhar para o Judiciário apenas a partir das decisões do Supremo, que é um órgão de cúpula, mas que também tem um aspecto político em suas decisões. Diferentemente do segundo grau de jurisdição, que é um órgão extremamente técnico.

E por falar em questão técnica, a prestação hoje é mais eficiente que no passado, sobretudo por causa da digitalização?

Em 2023, o TJMS, ao ser avaliado pelo CNJ, foi apontado como o tribunal mais célere do País. Nós temos uma média de tráfego de julgamento no TJMS que é de dois meses. Mas como eu disse sobre nos comunicarmos mal, também digo que é papel da boa imprensa divulgar esses dados.

Em uma recente palestra que eu dei na cidade de São Paulo, eu falei sobre isso. Nós temos o Tribunal de Justiça mais rápido do País e, em termos de eficiência, estamos na vanguarda. Precisamos olhar mais para o primeiro grau, estruturar as comarcas do interior, dar mais servidores, para que isso tenha uma dinâmica mais parecida com a do Tribunal, para solucionarmos esses processos mais rapidamente.

Recentemente, na gestão do atual presidente [do TJMS], Sérgio Martins, foi realizado um concurso para juiz em que eu participei da organização, e houve 24 novos juízes aprovados. Não é o suficiente no sentido de atender a todas as comarcas do interior, mas já é um passo no sentido de melhor se estruturar.

Sobre a digitalização, sem dúvida, ela trouxe a possibilidade de ter mais eficiência, porque nela o juiz pode estar no interior, na Capital, estudando fora do País, e ele vai decidir com a sua equipe. Por isso, a Justiça é muito mais célere do que antes. E se nós compararmos o TJMS com tribunais Brasil afora, nós sempre vamos estar entre os três primeiros. Nosso modelo tecnológico é um dos melhores e é bastante aplaudido pela advocacia.

E em seu gabinete, como está o acervo e a questão de números?

Eu estou desembargador há dois anos, e cada desembargador recebe uma média de 400 processos por mês. Descontados os períodos de férias, estamos falando em 4 mil processos por ano por desembargador. 

O CNJ tem uma meta estabelecida que consiste em julgarmos mais processos que o volume que recebemos, justamente para reduzir o acervo.

Eu vim da iniciativa privada, e lá temos algumas estratégias de trabalho que fazem com que tenhamos uma dinâmica um pouco diferente, pois sabemos que, na advocacia, se o profissional não entregar o resultado, ele não é remunerado. Eu levei para o gabinete um modelo que eu usava no meu escritório e fui bastante feliz.

Esse modelo consiste em uma divisão por especialização de temas com os meus assessores. Porque, como no TJMS nós não temos câmaras especializadas, a divisão é entre cível e criminal, e eu estou na 2ª Câmara Cível. Nós recebemos todos os tipos de demandas: direito do consumidor, bancário, previdenciário, de família, contratos, relações com o poder público, etc.

É em função dessa divisão que a gente tem colhido bons frutos, no sentido de que, tanto em 2023 quanto em 2024, estivemos sempre entre os gabinetes com o menor acervo. Eu saí de férias em dezembro [do ano passado] com um acervo de 117 processos e zero conclusões de gabinete. Mas isso não é uma característica só minha, é bom destacar que é uma marca da maioria dos desembargadores, eles têm um acervo baixo, e isso se deve a uma boa gestão e a uma boa estrutura tecnológica.

Isso ajuda a manter a coerência da jurisprudência, não é mesmo?

Uma das grandes preocupações que eu tenho como magistrado é justamente ser coerente com o meu pensamento naquilo que eu traduzo nos meus votos. Eu não posso, até por uma imposição legal, decidir seu caso diferentemente de um caso de uma outra pessoa, se vocês me apresentam situações, de fato, iguais. Por isso, quando eu especializo os assessores, eu também alinho minha equipe para proferir decisões idênticas para casos idênticos. 

O senhor está concluindo agora um mestrado, fale mais sobre ele.

Sim, é um convênio da Ejud-MS [Escola Judicial de Mato Grosso do Sul] com a Universidade de Girona, na Espanha, e estamos trabalhando o tema “Responsabilidade civil”. É um mestrado que dura mais ou menos um ano e meio, nós tivemos aulas on-line e presenciais, aqui no Brasil, e agora vamos passar por uma imersão lá em Girona, para fazer o encerramento e depois a dissertação. 

A sociedade brasileira e o cidadão precisam lidar melhor com a responsabilidade civil? Essa reflexão é necessária?

Nós temos um aumento exponencial de processos no Judiciário que dizem respeito a algum ato de negligência, imprudência ou imperícia. Por exemplo, um segmento da sociedade que demanda demais do Judiciário hoje é o voltado para as ações de saúde. Outro segmento que demanda muito na área de consumidor é o de transporte, sobretudo, aéreo. Outro segmento que demanda demais são os bancos. Por quê? A forma de contratar dos bancos mudou, por telefone, assinatura digital, tem muita fraude.

Nós temos que compreender que o Brasil é um país pobre que tem várias camadas sociais. O acesso à tecnologia hoje é universal, tanto para a pessoa mais humilde quanto para a de maior poder social, mas a forma como as pessoas compreendem e usam a tecnologia é diferente. Por isso, temos muitas questões relacionadas à fraude, e isso desemboca na pergunta: e a responsabilidade é de quem? A responsabilidade é dos bancos, as instituições financeiras devem zelar por isso.

Temos a população envelhecendo, as pessoas vivem mais. Temos uma questão relacionada à Previdência e aos contratos de empréstimo a aposentados, que já têm uma compreensão mais difícil pela idade avançada. Tudo isso também desemboca no Poder Judiciário. 

Talvez, se as pessoas e as empresas que prestam serviço tivessem mais qualidade na prestação ou até mais responsabilidade, nós teríamos um número menor de demandas neste sentido. 

E como você vê as investigações em andamento contra magistrados e a reação da sociedade a elas?

É um episódio que, de certa forma, manchou, mas logo em seguida tivemos uma decisão da mais alta Corte no Brasil determinando o retorno do presidente do Tribunal de Justiça [de Mato Grosso do Sul], Sérgio Martins. Então, isso faz com que nós tenhamos de refletir sobre a responsabilidade, inclusive daqueles que comandam as investigações.

É óbvio que é um princípio de que todos são inocentes até que se prove o contrário. Mas, hoje, com a dinâmica da informação e da tecnologia e com a força da imprensa, tanto boa quanto má, as pessoas são condenadas muito rapidamente, muito antes do julgamento.

Por isso, em relação a esse tema, eu gostaria de dizer que é preciso apurar, não é possível que tenhamos corrupção dentro do Poder Judiciário, mas nós precisamos dar direito às pessoas de se defender e, ao mesmo tempo, acreditar que as pessoas precisam ter um tempo para poder dar as suas respostas. Nós não podemos sair julgando e condenando a partir do início de uma investigação, e isso não faz bem, seja para o Poder Judiciário, seja para a sociedade, porque hoje é com uma pessoa e amanhã poderá ser com alguém do seu núcleo de convívio. 

Quanto à divulgação dos supersalários no Poder Judiciário e outras instituições, isso não contribui para este julgamento?

Eu gostaria de tocar neste assunto, porque eu vim da iniciativa privada e, em verdade, fui sócio de um escritório de advocacia que tinha sucesso profissional, portanto, eu tinha remuneração muito maior que esta que eu recebo hoje.

Quero destacar que para ser a carreira pública atrativa, ela precisa oferecer boa remuneração, nós precisamos acabar com esses penduricalhos e precisamos pagar bem o juiz brasileiro. Hoje, o juiz brasileiro ganha, em média, líquido, 20 salários mínimos. Não é esse absurdo que é dito por aí, que é um caso ou outro de magistrados antigos que tiveram direitos tolhidos lá atrás e, hoje, têm recomposição salarial. E a comparação não pode ser com um cidadão que pratica uma atividade braçal.

O salário mínimo no Brasil é muito baixo. Comparando o rendimento de um magistrado com o de uma pessoa que ganha um salário mínimo, é óbvio que aparecerá uma distância enorme, porque não são atividades iguais nem semelhantes ou com o mesmo grau de responsabilidade.

Perfil

Ari Raghiant Neto 

Desembargador do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) pelo quinto constitucional da advocacia, ex-corregedor da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de 2018 a 2022 e membro do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul (TRE-MS), classe Justiça, de 2006 a 2012.

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