O deputado federal Marcos Pollon e o deputado estadual João Henrique Catan, ambos do PL em Mato Grosso do Sul, partido do ex-presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, disseram ao Correio do Estado que não tem nenhuma credibilidade o depoimento que o hacker Walter Delgatti prestou nesta quinta-feira (17) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) de 8 de Janeiro.
No depoimento, o hacker disse que, durante uma reunião no Palácio da Alvorada com Jair Bolsonaro antes das eleições de 2022, o então presidente assegurou que concederia um indulto (perdão presidencial) a ele, caso fosse preso ou condenado por ações sobre urnas eletrônicas.
“A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente. Ele havia concedido um indulto a um deputado federal. E como eu estava com o processo da Spoofing à época, e com as cautelares que me proibiam de acessar a Internet e trabalhar, eu visava a esse indulto. E foi oferecido no dia”, declarou Walter Delgatti na CPMI.
Para Marcos Pollon, que é o presidente do PL em Mato Grosso do Sul, “o tal hacker tem a mesma credibilidade de qualquer criminoso, ou seja, nenhuma”. “É conversa de bêbado para o delegado. Mais uma vez o regime que tomou conta do Brasil tenta forjar alguma narrativa para imputar fato criminoso ao presidente Bolsonaro”, reforçou.
O parlamentar sul-mato-grossense completou que essa prática é comum aos integrantes do “Foro de São Paulo” – organização constituída em 1990 a partir de um convite do PT às legendas da América Latina e do Caribe para debater a conjuntura internacional após a queda do Muro de Berlim, na Alemanha, e a implantação de políticas neoliberais pelos governos da região.
“Inventar crimes para prender opositores. Não pararão enquanto não efetuarem a previsão do presidente Bolsonaro. Este é apenas mais um propagador de uma destas narrativas”, garantiu Marcos Pollon
Já João Henrique Catan disse ao Correio do Estado que não vê a menor credibilidade no depoimento prestado pelo hacker Walter Delgatti. “Esse tipo de informação tende a livrar o hacker, causando prejuízos para a imagem pública do presidente Bolsonaro”, argumentou.
Ele completou que no inquérito em que a Polícia Federal investiga o hacker ficaram comprovadas as conversas detalhadas dele com a ex-deputada federal Manuela D’Avilla (PCdoB-RS) por mais de nove dias a ponto de a ex-parlamentar reconhecer que ele inclusive utilizava o celular dela sem autorização.
“As informações dele estão todas contaminadas e foram usadas em benefício da esquerda para destruir a maior operação de recuperação de recursos públicos desviados do povo, assumindo ele e seu advogado a exaltação ao Lula”, pontuou o deputado estadual.
João Henrique Catan acrescentou que, em uma das conversas, o hacker disse que, se não tivesse tido iniciativa de vazar supostas conversas do senador Sergio Moro (União-PR), o Brasil iria “quebrar”.
“Fantasia”
O ex-presidente Jair Bolsonaro afirmou à Jovem Pan que o hacker Walter Delgatti está “fantasiando” no depoimento à CPMI. Ele confirmou que se encontrou com o hacker no Palácio da Alvorada, mas negou trechos do depoimento.
Segundo Bolsonaro, ele recebeu Delgatti apenas uma vez para conversar sobre as urnas e pediu que ele falasse com os militares que integraram a comissão eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Ele está inspirado hoje. Teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá [no Alvorada e na Defesa] e morreu o assunto. Ele está voando completamente”, disse Bolsonaro com exclusividade à Jovem Pan.
O ex-presidente também nega que tenha tido uma segunda conversa com Delgatti por telefone sobre um suposto pedido para que o hacker assumisse a autoria de um grampo ao telefone do ministro Alexandre de Moraes. Essa suposta conversa foi citada pelo hacker durante o depoimento.
“Tem fantasia aí. Eu só encontrei com ele uma vez no café da manhã [na Alvorada], não falei com ele no telefone em momento algum. Como ele pode ter certeza de um grampo? Nós desconhecemos isso”, concluiu.
Bolsonaro também citou um trecho do depoimento em que o hacker afirma que “a única forma” de comprovar 100% a lisura das urnas é imprimindo o voto. No entanto, Delgatti relatou confiar na lisura do processo eleitoral brasileiro.
Ao responder questionamentos da relatora da CPMI, Eliziane Gama (PSD-MA), Walter Delgatti afirmou que se encontrou com a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) em um carro e que ela teria ligado para Jair Bolsonaro.
O hacker disse que o ex-presidente teria pedido para ele assumir a responsabilidade de um grampo ao ministro Alexandre de Moraes. Segundo Walter Delgatti, Bolsonaro afirmou que, como ele também foi o responsável pelo caso da “Vaza Jato”, a esquerda “não poderia questionar”.