“A cidade é a nossa razão de ser e não podemos construí-la sem que o povo goste dela”, alerta Juvêncio da Fonseca, 77 anos, ex-prefeito e senador da República, considerado por muita gente “o pai do Planurb”. Lembra o fato desse desenvolvimento ocorrer em pleno Centro-Oeste Brasileiro, distante dos grandes centros populacionais.
Desde cedo ele mostrou-se impaciente com a ausência da planejamento que notava na Campo Grande superloteada.
Fonseca fez para o Correio do Estado um retrospecto do planejamento na história campo-grandense, enfatizando que a cidade não obtinha qualidade de vida devido à ausência de planejamento à altura.
Só faz reservas ao antecessor no cargo, Lúdio Coelho (1983-85), “por não ter se dedicado tanto ao assunto”. “Sempre tivemos boas iniciativas, entretanto, passamos mais de 50 anos eleborando leis e projetos relacionados com determinada obra ou iniciativa, enada de institucional surgia como fruto de uma cultura local já sedimentada”.
O crescimento “explosivo”, devido ao alto índice de migração e da multiplicação de favelas, desafiava engenheiros, arquitetos, geógrafos, empresários e universitários. Todos pretendiam propor soluções para problemas da cidade.
Em 1982, recém-eleitos para a Câmara Municipal, Fonseca e Fausto Mato Grosso Pereira insistiram na ideia durante três anos, em vão. Só na eleição de 1985 modificou-se: no cargo de prefeito, Fonseca abriu as portas para a sua aprovação. “Obviamente, ele diz, ninguém tinha varinha de condão para fazer mágicas numa hora tão difícil, mas Deus colocou no meu caminho muitos companheiros especiais, funcionários municipais, homens e mulheres, todos vestiam camisas”, lembra.
Exemplo de capitais
Promoveu um seminário, trazendo experientes profissionais para debater o assunto. Curitiba, Goiânia, Fortaleza, São Paulo e Vitória já tinham seus institutos. Dispensando a contratação de empresas particulares, Fonseca buscou a experiência de cada especialista local em planejamento urbano, pagando-os por serviços prestados e horas trabalhadas. Sabatinada pela assessoria específica, a equipe assimilava e assumia suas tarefas.
Assim, em 1987 surgiu a Unidade de Planejamento Urbano, sob a presidência do arquiteto Ângelo Arruda. O sistema municipal de planejamento possibilitou a edição da Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do Solo, dos loteamentos sociais e do plano diretor, este, na condição de instrumento do planejamento participativo.
“O instituto é grandioso desde o início, e a ele devemos, especialmente as nossas diretrizes urbanísticas”, assinala.
Sucedeu-se a sua elevação do plano a instituto com autonomia administrativa e financeira. “Superamos as mazelas daqueles anos 80”, comenta. Justifica: “Fizemos diversas reformas, entre as quais a administrativa, tributária, fiscal, social e ambiental, e com isso o município elaborou projetos que até hoje trazem benefícios; são obras inteligentes , obedecendo a um programa inteligente que propicia o crescimento urbano voltado para a satisfação integral dos anseios da comunidade”.
Esperançoso, lembra a máxima, segundo a qual “a cidade é um ser vivo”. E novamente adverte “Erra quem pensa que basta executar obras e pronto; não é verdadeiro dizer que a cidade está salva para o homem, porque o Planurb merece prestígio e deve ser constantemente acionado como instrumento indispensável ao desenvolvimento ordenado”.
Ou seja: obras urbanas exigem muito zelo e cuidado para conseguirmos uma cidade mais humana.
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