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Silvio Santos tentou ser candidato a presidente e prefeito de SP

Em 1992, era favorito para a eleição em SP, mas teve a pré-candidatura sabotada por uma ala da própria sigla, o Partido da Frente Liberal (PFL)

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No início da década de 1990, Silvio Santos estava no auge de sua popularidade e qualquer partido do País gostaria de tê-lo como candidato – qualquer um, menos o seu próprio. Em 1992, São Paulo elegeria um novo prefeito e o apresentador de TV, que morreu neste sábado, 17, pretendia disputar o cargo. 

Era favorito para a eleição, mas teve a pré-candidatura sabotada por uma ala da própria sigla, o Partido da Frente Liberal (PFL). Seu companheiro de chapa seria Julio Casares, hoje presidente do São Paulo Futebol Clube, mas a convenção que escolheu Silvio Santos como candidato terminou em briga generalizada e foi anulada pela Justiça Eleitoral.

Não fazia três anos desde a campanha relâmpago de Silvio à Presidência da República, em 1989, quando o empresário se apresentou à disputa com a corrida ao Planalto já em andamento. O arranjo, por mais estranho que pareça hoje, era possível, segundo a lei eleitoral vigente na época. 

Os problemas jurídicos foram outros e a candidatura foi barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A trama durou menos de dez dias, suficientes para que a história se consagrasse no folclore político do País. 

São menos conhecidas as vezes em que o apresentador postulou não a Presidência, mas a Prefeitura paulistana: em 1988 e no pleito municipal seguinte, em 1992. Nos dois casos, esbarrou no desinteresse dos próprios correligionários em lançá-lo como candidato.

REJEITADO

A eleição de 1989 foi a primeira em mais de três décadas a eleger um presidente da República pelo voto direto. O candidato do PFL era Aureliano Chaves, vice-presidente do País durante o mandato de João Figueiredo (1979-85), mas seu nome não engrenou nas pesquisas de intenção de voto. 

De forma reservada, Aureliano admitiu a interlocutores do partido que renunciaria à campanha se assim fosse melhor para a sigla. Nesse momento entrou em cena o trio do PFL formado pelos senadores Edison Lobão (MA), Hugo Napoleão (PI) e Marcondes Gadelha (PB).
O grupo foi apelidado com o título de “Três Porquinhos”.

“Àquela altura, faltando um mês para a eleição, não podíamos trocar seis por meia dúzia. Teríamos que ter um candidato com uma popularidade fora do comum, uma bomba de napalm no arrozal da rapaziada”, disse Marcondes Gadelha ao Estadão. 

Numa consulta à base de filiados do PFL, depararam-se com o nome de Silvio Santos e, contatado pelo trio, o apresentador demonstrou interesse na disputa.

A bomba caiu e, tal como uma carga de napalm, teve um efeito devastador. A candidatura de Aureliano ia mal, mas isso não significava que os integrantes do PFL não estivessem se mobilizando por uma campanha presidencial. 

Muitos caciques haviam abandonado o barco do partido e, de forma extraoficial, vinham apoiando o nome de Fernando Collor de Mello, do PRN, que liderou com sobra os levantamentos de intenção de voto no primeiro turno. Se o nome mais incômodo a Collor na segunda etapa da eleição era motivo de debate, não havia dúvidas de que Silvio Santos poderia destronar Collor até mesmo no primeiro turno.

Essa possibilidade despertou uma reação no PFL ao fim da qual o próprio Aureliano Chaves recuou, desmentindo que pudesse renunciar à condição de candidato. Por outro lado, ao manifestar interesse na eleição, Silvio Santos adentrou de vez no jogo político. 

Iniciou-se, então, uma caça dos “Três Porquinhos” por um candidato a presidente que aceitasse renunciar para dar lugar a Silvio. Dado o contexto daquela eleição, não faltavam opções.

O pleito de 1989 é, até hoje, recordista em número de candidatos à chefia do Executivo. Durante a ditadura militar, vigorou no Brasil o bipartidarismo e, a partir do início da década de 1980, o funcionamento de múltiplas siglas foi gradualmente retomado. 

Para tanto, foram estabelecidas regras mais amenas para a fundação de partidos, incluindo a possibilidade dos registros provisórios. A nova legislação resultou em dezenas de legendas nanicas, com baixa representatividade política. 

Era o caso do Partido Municipalista Brasileiro (PMB), fundado em 1985 por Armando Corrêa, pastor evangélico, advogado e, em 1989, candidato a presidente.

Corrêa aceitou a renúncia e forneceu o registro do PMB à campanha de Silvio. O vice do apresentador seria Marcondes Gadelha, mas a chapa foi desfeita ao serem constatadas irregularidades no registro do PMB na Justiça Eleitoral. 

Segundo o TSE, o partido não havia realizado o número mínimo de convenções regionais exigidas pela lei. Com a decisão, a campanha presidencial de Silvio saiu de cena tão repentinamente quanto surgiu. A eleição seguiu seu rumo e, no segundo turno, Collor derrotou o líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

‘Um ato de contrição’

Eleito por uma sigla pequena, Fernando Collor precisou se escorar em legendas de maior expressão no Congresso para governar. A principal delas foi, justamente, o PFL, que dispunha de ministérios e forte influência sobre o Planalto durante a gestão do alagoano.

Mas a popularidade do presidente foi derretendo ao longo do mandato e, na medida em que corroía o apoio popular, mais alas do PFL debandavam da gestão Collor. De 1989 a 1992, mudou também a postura do PFL em relação a Silvio Santos. “Me parece que o PFL fez um ato de contrição, uma revisão da bobagem que tinha sido o apoio a Fernando Collor de Mello”, disse Gadelha.

Nesse contexto, em 18 de março, Silvio Santos retornou ao PFL e anunciou que concorreria ao comando da maior cidade do País. “Caiu como um petardo no meio político de São Paulo. Todo mundo em polvorosa”, afirmou o ex-senador. 

A campanha a prefeito prometia ser diferente da eleição a presidente na medida em que, dessa vez, Silvio teria tempo para se planejar e, com o apoio da executiva nacional, não seria mais rifado pela própria sigla.

Mesmo assim, o apresentador dependia, na prática, de um aval dos integrantes locais da legenda, o que não era mero detalhe. 

O PFL era um dos grandes partidos do País, mas não contava com expressão política no Estado e na cidade de São Paulo. A sigla orbitava em torno de partidos mais influentes, como o PMDB do governador Luiz Antônio Fleury e o PDS de Paulo Maluf, pré-candidato a prefeito da capital. 

Para não desagradar nem um nem outro, o PFL paulistano pretendia lançar como candidato o deputado federal Arnaldo Faria de Sá – quadro influente no partido, mas sem estofo para disputar um cargo no Executivo.

As pesquisas de intenção de voto atestavam: enquanto Silvio Santos estava em franca ascensão – em levantamentos do instituto Gallup, cresceu, em dois meses, 20 pontos porcentuais na pesquisa espontânea, encostando em Maluf, primeiro colocado –, Faria de Sá não chegava a 0,5% de menções. 

Mas o diretório municipal do PFL era comandado a mão de ferro por Arthur Alves Pinto, vice-prefeito da cidade durante a gestão Jânio Quadros, que resistiu à candidatura de Silvio Santos desde o anúncio da filiação.

O apresentador, por sua vez, não era mais um neófito em matéria de política e agia, segundo Gadelha, como se já tivesse experiência na área. 

À imprensa, Silvio reiterava a pré-candidatura e garantia a indicação – se não pelo PFL, dizia o empresário, pelo PTB ou pelo PDT, com os quais havia iniciado conversas com esse objetivo.

Nos bastidores, Silvio Santos buscou contato com os opositores de Alves Pinto e topou com um jovem advogado da zona leste da cidade.

”Onde você estava? O Silvio Santos te ligou e quer falar com você”, disse a mãe a um incrédulo Julio Casares. À luz do tempo, o telefonema não parece estranho, pois Silvio e Casares trabalharam juntos por mais de uma década na televisão. 

Mas era abril de 1992 e, àquela altura, eles ainda não se conheciam. Conversaram por meia hora sobre a pré-campanha a prefeito e combinaram de aprofundar o tema em um encontro pessoal. No dia seguinte, lá estava Silvio Santos em Guaianazes, casualmente adentrando uma padaria do bairro e pedindo informações para chegar à casa do “Julinho”.

Julio Casares era advogado do extinto banco Bamerindus. Também era líder de um diretório local do PFL, mas se sentia enfastiado com a sigla, à qual havia se filiado anos antes, durante a campanha das Diretas Já. “Eu já estava cansado, porque o PFL era um partido, naquele momento, que fazia uma ‘garagem’ para os grandes”, contou ao Estadão.

Casares conquistou a confiança de Silvio, que o indicou, verbalmente, como vice na chapa. 

A aliança poderia ajudar o apresentador, ao passo em que o advogado detinha influência sobre um em cada quatro comitês do PFL da capital paulista. O quórum, por si só, não era suficiente para sustentar uma candidatura, mas poderia congregar, mediante um trabalho com as bases, mais delegados para o projeto do dono do SBT.

Os delegados são os filiados com poder de voto na convenção partidária, a reunião em que é decidido o candidato de uma sigla para uma determinada eleição.

“O Silvio Santos, a essa altura, já estava com boa desenvoltura. Ele saiu procurando os diretórios, conseguiu amealhar um bom apoio”, disse Gadelha. Porém, na mesma medida, crescia a resistência liderada por Alves Pinto, que se entrincheirou e cercou as alas pró-Silvio. Para agravar o quadro, em 11 de maio, Sarita, irmã de Silvio Santos, foi sequestrada ao sair de sua casa no bairro carioca da Tijuca. As 15 horas de tensão no Rio foram suficientes para paralisar, por alguns dias, a campanha a prefeito em São Paulo.

Se a filiação antecipada era um trunfo ao apresentador, o impasse perdurou até que o tempo deixasse de correr a seu favor. Cogitou-se a realização de uma prévia, um tipo de votação em que todos os filiados, não só os delegados, obtêm o direito de escolher o candidato da sigla para uma eleição. “Mas não dava mais tempo. Só faltava um mês”, afirmou Gadelha.

À beira do prazo legal para o registro da candidatura, restou a medida mais drástica: a intervenção no diretório local. Na lei eleitoral, a intervenção é um dispositivo com o qual um diretório partidário perde seus poderes, que passam a ser ditados por um comitê interventor. Em 26 de maio, Julio Casares foi nomeado como presidente da comissão interventora no PFL paulistano. 

“Para minha surpresa, virei interventor. Você imagine, intervir em qualquer coisa. E, em um partido político, intervir é a coisa mais desastrosa que se tem”, disse o presidente do São Paulo, diante de um entrave partidário enquanto era, à época, mais novato em política que o próprio Silvio Santos.

PFL sob intervenção

No comando da intervenção, Casares solicitou a prestação de contas a todos os diretórios da cidade, mas nenhum delegado fora da sua esfera de influência entregou o livro caixa. O interventor alegou o não cumprimento da prestação, destituiu os delegados adversários e nomeou novos membros para os diretórios. Dessa forma, passava a viabilizar o nome de Silvio Santos em uma convenção partidária.

Os dirigentes do PFL, porém, ignoraram os decretos de Casares, permaneceram em seus postos e, à revelia da comissão interventora, marcaram uma convenção própria. O objetivo era realizá-la às pressas e escolher outro nome que não o de Silvio para ser o candidato a prefeito.

A comissão interventora pediu à Justiça para que a reunião não obtivesse validade jurídica. Foi atendida, mas os antigos dirigentes, em réplica, conquistaram uma liminar no TSE. No domingo, 31 de maio, a convenção foi realizada e elegeu Arnaldo Faria de Sá como candidato do PFL à Prefeitura. O encontro também oficializou 165 candidaturas a vereador pela sigla.

Os integrantes do PFL estavam fragmentados em dois grupos e cada uma das alas não reconhecia a legitimidade da outra. De um lado, os delegados antigos, ligados a Alves Pinto, não viam validade jurídica na intervenção; de outro, os novos delegados, ligados a Julio Casares, alegavam que eram nulas quaisquer normas baixadas pelo grupo antigo. 

Enquanto a Justiça não decidia quem estava certo, os prazos exigidos pela lei eleitoral se aproximavam e o partido permanecia com o destino nebuloso. O impasse foi se intensificando e a guerra nos tribunais transmutou em batalha campal.

Era 24 de junho de 1992, o último dia para os partidos apresentarem à Justiça Eleitoral seus candidatos a prefeito e vereador. Restou à comissão interventora convocar os delegados ligados ao grupo e marcar uma nova convenção. O local escolhido foi a sede social do Corinthians, no Tatuapé, em homenagem a uma das paixões de Silvio Santos.

O espaço foi cedido por Marlene Matheus, esposa do lendário dirigente corintiano Vicente Matheus. A convenção prometia ser um evento completo. “O Julio Casares preparou uma festa ‘de arromba’ para o lançamento da candidatura de Silvio. Uma multidão, um povo que ele ia botar lá dentro, cantores, músicos, celebridades, tudo”, contou Marcondes Gadelha.

Mas os problemas começaram na véspera da votação, quando Marlene, de repente, avisou aos interventores que o ginásio não estaria mais disponível. “Foi uma retaliação, sem dúvida alguma”, disse Gadelha. Sem o ginásio, a “festa de arromba” estava comprometida, mas ainda poderia haver reunião em um espaço menor, como o restaurante do clube. 

No tumulto da mudança do local da votação, notou-se o comparecimento inusitado de todo o contingente de delegados ligados a Arnaldo Faria de Sá. “Começou um clima bélico”, recordou Casares. A presença dos arnaldistas era estranha pois, na prática, não surtiria efeito. 

A votação era mera formalidade e a cédula a ser utilizada nem contava com algum nome que não o de Silvio Santos. Quem estava ali nem sequer pretendia votar.

Iniciados os trabalhos, o grupo pró-Faria de Sá avançou sobre a mesa em que estavam sendo recolhidos os votos e, da reação dos delegados pró-Silvio, eclodiu uma briga generalizada.

“A gente tinha uma meia dúzia de seguranças, não davam conta do recado”, disse Gadelha. “O pau cantou. Foi pancadaria, quebra-quebra, cadeirada, tudo o que você puder imaginar. Eu nunca vi isso na minha vida, nem na cidade mais perdida aqui do interior da Paraíba.”

O ex-senador disse que, por relance, desviou do centro do furdúncio. “Me afastei da cena, não cheguei a entrar na pancadaria. Já o Julio, presidindo a reunião, estava mais suscetível.” “O Arnaldo me deu um soco que nunca vi o assoalho tão de perto”, relembrou Casares. “Sofri algumas agressões, mas também briguei.”

(Informações do Estadão)

DIREITOS HUMANOS

Governo buscará retomar pauta de regulação das redes no Congresso

Principal projeto sobre o tema, PL das Fake News está parado na Câmara

13/04/2025 19h00

FOTO: Agência Brasil

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O governo federal vai tentar uma nova aproximação com o Congresso nas próximas semanas para que o tema da regulação das plataformas digitais volte à agenda dos legisladores, afirmou o Secretário de Politicas Digitais da Presidência da República, João Brant.

"O governo está terminando de definir sua posição de mérito e de estratégia. Nossa compreensão é que essa regulação precisa equilibrar três coisas: primeiro, a responsabilidade civil das plataformas; segundo, o que a gente chama de dever de prevenção e precaução, que significa a necessidade de atuar preventivamente para que não haja disseminação de conteúdos ilegais e danosos a indivíduos ou a coletividades; e terceiro, que elas atuem na mitigação dos riscos sistêmicos da sua atividade", defendeu Brant na última semana, em palestra na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

A principal proposta de regulação das plataformas digitais, o Projeto de Lei 2.630 de 2020, conhecido como PL das Fake News, já foi aprovado pelo Senado e está em análise na Câmara dos Deputados. A falta de um acordo, porém, impede que ele avance desde o ano passado.

Atualmente, essas empresas respondem ao Marco Civil da Internet, aprovado em 2014. No seu Artigo 19, a lei diz que que as redes sociais só podem ser responsabilizadas por conteúdo ofensivo ou danoso postado por usuários caso descumpram uma ordem judicial de remoção, à exceção de conteúdo sexuais não autorizado ou casos que violam direitos autorais.

No dia-a-dia, a moderação dos conteúdos cabe às plataformas, que têm políticas próprias para decidir sobre a exclusão de conteúdos violentos ou mentirosos.

"Quando você vai discutir regulação ambiental, por exemplo, o tempo inteiro você olha para os riscos sistêmicos, aqueles riscos que são inerentes à atividade, que afetam direitos fundamentais ou outros marcos legais relevantes. E é preciso mitigar esses efeitos, impor responsabilidades e custos. E o que a gente tem é uma distorção do ambiente digital, sem que as plataformas assumam qualquer responsabilidade", argumentou o secretário.

O uso das redes sociais para cometer crimes continua no centro do debate público em meio às denúncias de violências cometidas contra crianças e adolescentes, e tem reacendido a discussão sobre a regulação das chamadas big techs, as empresas que controlam essas plataformas.

O coordenador do Centro de Referência para o Ensino do Combate à Desinformação da Universidade Federal Fluminense, Afonso Albuquerque, concorda que a regulação das redes se tornou uma questão fundamental e é preciso mais do que responsabilizar as plataformas por esses conteúdos.

"É preciso ter regras relativas ao financiamento dessas plataformas que, de alguma forma, estabeleçam princípios de transparência algorítmica. Nós temos um agente que tem uma capacidade imensa de intervir nos debates nacionais e, hoje, efetivamente, nós operamos no terreno da mais pura ilegalidade"

No entanto, ele não vê um cenário favorável a essa discussão, no Congresso Nacional, a princípio. Mas uma ajuda indireta e imprevista pode vir dos efeitos do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos: "Nós estamos vivendo um momento muito caótico, no qual não é possível fazer análises muito claras. Algumas semanas atrás, nós tínhamos uma situação de fechamento das plataformas com os interesses do governo Trump. Mas, agora que as tarifas estão afetando o bolso dos bilionários que apoiaram o Trump, esse não é um cenário tão transparente assim".

Para Afonso Albuquerque, as ações de Donald Trump também têm colocado os Estados Unidos em oposição a muitos países, incitando em muitos deles a necessidade de defender sua soberania em diversos campos, inclusive contra a influência das plataformas digitais americanas.

"Ele e os personagens envolvidos, particularmente o Elon Musk, mas o [Mark] Zuckerberg também, demonstraram pouca sutileza no seu interesse de intervir em assuntos internos de outros países, particularmente do Brasil. E, ao fazer isso, eles levantam a agenda da soberania. Eu acho que essa ameaça está presente desde que as plataformas existem, mas o comportamento agressivo dos integrantes do governo Trump, particularmente sua aliança com os setores da extrema direita anti-institucional do Brasil, tornam muito visível essa ameaça", explica o especialista.

O Secretário de Politicas Digitais da Presidência da República, João Brant, acrescenta que os resultados dos embates entre Musk e o Supremo Tribunal Federal criaram um precedente positivo não só para o Brasil:

"É um momento em que se testa, se esgarça essa relação com os estados nacionais. O mundo inteiro fica olhando para ver o que que o Brasil vai fazer, e o Brasil toma uma decisão de suspender o serviço enquanto não cumprisse as ordens judiciais.

O melhor dessa história é que ela termina com o Musk tendo que sucumbir ao Estado brasileiro, topando cumprir as regras para voltar ao ar. "Eu diria que ali foi um momento de virada em que vários países entenderam que a gente não pode lidar com naturalidade com o fato de que eles escolhem quais regras vão cumprir."

Brant também acredita que duas situações frequentes podem contribuir para que a população pressione os legisladores em direção à regulação: "A própria proteção de crianças e adolescentes, que eu acho que é um tema chave, em que fica mais explícito o problema, e também a quantidade de golpes e fraudes no ambiente digital, e uma parte das plataformas é inclusive sócia desses golpes, porque recebe dinheiro para veicular conteúdo fraudulento."

Já o coordenador do Centro de Referência para o Ensino do Combate à Desinformação da UFF, Afonso Albuquerque, defende que é preciso ir além das regulações nacionais, com a criação de mecanismos transnacionais pactuados e instituições de governança que estabeleçam e fiscalizem o cumprimento de regras globais.

DEMOCRACIA

Oposição obtém apoio para dar urgência a projeto de anistia

Eventual perdão aos radicais pode beneficiar Jair Bolsonaro, réu sob acusação de tentativa de golpe de Estado.

12/04/2025 07h03

Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante diz que conseguiu votos suficientes para fazer andar o projeto que prevê anistia

Líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante diz que conseguiu votos suficientes para fazer andar o projeto que prevê anistia

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O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), afirmou que obteve as assinaturas necessárias para pedir a urgência da tramitação do projeto de lei que prevê anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro.

Se o requerimento for aprovado, o texto pode ser remetido ao plenário da Casa, dispensando a apreciação dele nas comissões permanentes. A urgência, na prática, dá ao projeto um rito acelerado.

O movimento da oposição ao governo Lula aumenta a pressão sobre o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), mas a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, disse confiar na capacidade do deputado de evitar uma nova crise entre os três Poderes.

"Conseguir assinatura para tramitação em regime de urgência não quer dizer que o projeto vá para a pauta", afirmou a ministra ao Estadão. "Há, atualmente, mais de 2 mil projetos com regime de urgência na Câmara. E eu acredito na palavra do presidente Hugo Motta, que na semana passada garantiu que esse projeto não será pautado, até porque criaria uma crise institucional."

A assinatura do requerimento não implica apoio ao mérito do projeto. Segundo o Placar da Anistia do Estadão, 201 dos 513 deputados se declaram favoráveis a conceder uma anistia aos golpistas. A adesão ao projeto cai se Bolsonaro é inserido no rol de beneficiados.

Autor

O projeto de lei de autoria do deputado Major Vitor Hugo (PL-GO) pretende anistiar "todos os que tenham participado de manifestações em qualquer lugar do território nacional" desde 30 de outubro de 2022.

O requerimento de urgência ao texto precisava de pelo menos 257 assinaturas para ser protocolado na Casa. A petição superou esse número na noite desta quarta-feira, 9, com a adesão do deputado Paulo Azi (União Brasil-BA).

Para ser aprovado, também precisa da anuência do mesmo número de parlamentares. Aprovado o requerimento, a proposição pode ser incluída na ordem do dia do plenário, para discussão e votação imediata.

Mal-estar

O PL é o partido com o maior número de apoiadores ao requerimento de urgência, com 89 assinaturas. A maior sigla da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é seguida por União Brasil, com 39 apoios; PP, com 34; e Republicanos, com 26. O PSD registra 23 assinaturas e o MDB, 21 adesões.

Causou mal-estar no Palácio do Planalto o fato de deputados que integram partidos da base aliada do governo, como o União Brasil, o MDB, o PSD e o PP, terem assinado o requerimento de urgência.

Se o projeto da anistia não for enviado ao plenário depois da Páscoa, o PL ameaça retomar a manobra de obstrução das votações de interesse do Planalto, desta vez com o apoio de partidos do Centrão que controlam ministérios, como o PP. Motta afirmou que vai consultar os líderes das legendas, na tentativa de construir um acordo.

Réu

A anistia aos condenados pelos ataques na Praça dos Três Poderes é uma das bandeiras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Eventual perdão aos radicais que depredaram dependências do Congresso, do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF) pode beneficiar o ex-chefe do Executivo federal, réu sob acusação de tentativa de golpe de Estado.

A Procuradoria-Geral da República (PGR) sustenta na denúncia do golpe que Bolsonaro foi o líder responsável por um plano de ruptura institucional que teve no 8 de Janeiro seu ato derradeiro.

Ainda que mais da metade da Câmara apoie a urgência do texto, pautá-lo em plenário ainda é uma atribuição do presidente da Câmara, que tem pedido "equilíbrio" em relação ao tema.

Como mostrou a Coluna do Estadão, Motta busca um acordo com Planalto e STF antes de pautar a revisão das penas aos condenados.

Entendimento

O deputado já conversou com Lula e Bolsonaro. No STF, tratou do assunto em encontros reservados com o presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, e com os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Luiz Fux.

Sob o argumento de que a pacificação do País depende de um entendimento entre os Poderes, Motta chegou a sugerir a Lula que considerasse a possibilidade de conceder indulto a condenados que não engrossaram o quebra-quebra no 8 de Janeiro. O presidente não aceitou.

O presidente da Câmara - que virou alvo dos bolsonaristas por causa do projeto da anistia - se reuniu na quarta-feira com Bolsonaro.

Saiu da conversa confiante de que o ex-presidente havia concordado em pedir para o PL fazer ajustes no projeto enviado à Câmara. No dia seguinte, porém, Bolsonaro disse que não está interessado na redução de penas, mas em uma anistia "ampla, geral e irrestrita".

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