A Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) prendeu o suspeito de duas tentativas de feminicídio cometidas contra a mesma mulher no final de 2022. A prisão foi realizada em Florianópolis (SC) e, na última terça-feira (17), a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul (PC-MS) realizou a transferência do autor para a DEAM de Campo Grande.
Segundo a delegada da Polícia Civil de MS, Elaine Cristina, as investigações tiveram início em outubro de 2022, quando o suspeito realizou a segunda tentativa de feminicídio contra a vítima.
O autor estava foragido desde então e, após investigações das equipes da DEAM e da Polícia Civil de MS, em parceria com a Polícia Civil do Rio Grande do Sul, o autor foi indiciado e preso no sistema penitenciário de Santa Catarina.
Rafaela Lobato, delegada responsável pela investigação, conta que o autor fugiu de Campo Grande para outro estado a fim de dificultar as investigações da DEAM. A delegada informa que, após algumas diligências, o suspeito foi localizado e preso.
“Nós tivemos um trabalho de inteligência por trás, um trabalho de investigação, até com recursos tecnológicos para encontrarmos o autor. Tivemos apoio de outras equipes também, inclusive o GARRAS trouxe algumas informações, fizeram uma ponte direta com a Polícia CIvil de Santa Catarina”, discorre Rafaela.
Além disso, a delegada conta que, graças às alianças investigativas, foi possível localizar e capturar o autor em Florianópolis, ele estava residindo no município de Tijucas: “Felizmente em contato com a Polícia Civil, conseguimos realizar a prisão dele e trazer de volta aqui pro nosso estado para realizar o cumprimento do mandado de busca e apreensão”.
O Caso
A primeira tentativa de feminicídio do indiciado aconteceu em abril de 2022. A delegada Rafaela Lobato, da DEAM de Campo Grande, responsável pelo caso, informa que o primeiro registro de ocorrência foi realizado após o autor tentar atropelar sua conivente, na época, com um caminhão guincho.
Ainda conforme Rafaela, na época, a vítima registrou Boletim de Ocorrência e solicitou medida protetiva contra o autor, posteriormente a vítima voltou atrás e pediu revogação da medida.
“No primeiro boletim de ocorrência que ela registrou foi de uma tentativa de feminicídio e foi a mesma situação. Com o caminhão de guincho. Ela veio, solicitou medida protetiva, mas passando alguns meses ela retornou e pediu a revogação da medida protetiva”, informa a delegada.
Rafaela discorre acerca da importância da não revogação da medida protetiva, já que este movimento, além de dificultar as investigações, impediu que o autor fosse punido na primeira tentativa de feminicídio.
“A gente (DEAM) não pode punir ele (o autor) na primeira vez,, finalizamos o processo, porque a vítima não colaborou com as nossas investigações e aconteceu novamente (em outubro de 2022) Então, nós esperamos também que a vítima, após ela solicitar a nossa ajuda, continue, permaneça ao nosso lado para que possa colaborar com a sociedade de forma geral, punindo e levando ao poder judiciário os responsáveis pelos crimes”, pontua.
A segunda tentativa de feminicídio, que levou à investigação e posterior prisão do autor, aconteceu no dia 22 de outubro de 2022, no Bairro Universitário de Campo Grande. O autor tentou atropelar a vítima, de 35 anos, com um caminhão de guincho da empresa em que trabalhava, após discussões por motivos de ciúmes.
A vítima, ao tentar fugir das agressões do autor, saiu de casa em sua motocicleta e o indiciado atropelou-a na esquina de sua residência. O homem fugiu e testemunhas disseram, na época, que ele poderia estar armado. A vítima foi socorrida pelo Corpo de Bombeiros para a Santa Casa.
Crime com sinais prévios
A delegada Elaine Cristina informa que o feminicídio é um crime de ódio e que é oriundo de um machismo estrututal, reproduzido pelos agressores. Além disso, Elaine conta que o feminicídio está relacionado a relacionamentos abusivos, ao sentimento de posse e a objetificação da mulher.
“Nós costumamos dizer que todo feminicídio tem um relacionamento abusivo por detrás dele. Então é nítido, não só os feminicídios tentados, como os consumados. Percebe-se pelo próprio relato da vítima, das amigas da vítima, dos familiares um ciúme excessivo. Há uma agressividade, um sentimento de posse, trata de fato mulher como objeto. Então sinais que até inclusive no início do namoro a mulher consegue perceber”, alerta Elaine.
Tanto Elaine Cristina, quanto Rafaela Lobato, contam que o que motivou o crime de tentativa de feminicídio foi o machismo e o ciúme excessivo.