"A Justiça Eleitoral é uma instituição que deu certo", mas ainda precisa buscar meio de "coibir eficazmente a nefasta influência das variadas modalidades do abuso do poder econômico e político sobre o resultado dos pleitos". A afirmação é do procurador-geral Eleitoral, Roberto Gurgel. Ela pode ser interpretada como uma confissão explícita das autoridades eleitorais de que são praticamente impotentes diante dos tradicionais abusos. Por outro lado, revela que Ministério Público e Judiciário sabem que é o poder econômico o principal responsável pela vitória de determinados candidatos, embora este não necessariamente seja sinônimo de ilegalidade ou irregularidade, pois existem inúmeras formas de os candidatos conseguirem doações legais.
Então, se as autoridades sabem que em boa parte das situações é o dinheiro que ganha eleições e admitem que são incapazes de combater, com eficiência, as irregularidades, pouca esperança pode restar àqueles que acreditam e esperam pela moralização da classe política. Além disso, nos últimos pleitos surgiu nova preocupação. Até certa época, políticos viviam exclusivamente de olho na corrupção diretamente ligada à administração pública. Havia quadrilhas, mas restringiam-se a direcionar licitações, tanto de obras quando de serviços terceirizados. Agora, bandos ligados a crimes mais pesados, embora nem sempre mais nocivos que a corrupção, estão investindo pesado para conseguir espaço no mundo político. Contrabandistas e traficantes de armas e drogas, por exemplo, estão bancando candidatos com o claro objetivo de usufruir das benesses dos políticos.
Isto não significa, contudo, que se deva jogar a toalha. Uma das características do regime eleitoral do mundo democrático é a promoção de uma "revolução" lenta e silenciosa. Quer dizer, se a maior parte dos eleitores souber dizer não àqueles que distribuem dinheiro, direta ou indiretamente (contratando milhares de cabos eleitorais, por exemplo), será possível reverter este quadro pessimista. É evidente que isso não acontecerá de uma hora para outra. Ou seja, é muito provável que em novembro deste ano uma infinidade de políticos que deveriam ser mandados para a cadeia seja mandada para os "palácios" públicos assim que for divulgado o resultado das urnas. Mas, apesar de a responsabilidade maior ser do eleitor, a Justiça tem a obrigação de facilitar a tarefa dos cidadãos. E, algumas novas armas podem ajudar nesta tarefa. Contas bancárias específicas para candidatos e partidos, cruzamento de dados com a Receita Federal, checagem de notas fiscais e a apuração das denúncias que sempre acontecem são alguns dos mecanismos que devem ser utilizados nesta missão. Porém, a tradicional lentidão, decorrente da infinidade de possibilidades de recursos, joga a favor dos bandidos, que apostam tudo nesta certeza.