Não há sentido em utilizar recursos de programa que visa levar vida de volta ao Centro para um bairro distante três quilômetros do cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho.
O projeto Reviva Campo Grande, idealizado em 2010, demorou quase uma década para começar a ser implantado e caminha para tornar-se realidade no fim de 2019, nove anos depois de a prefeitura da Capital ter firmado parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para financiar a revitalização da região central. Se tudo correr dentro do esperado, a partir de novembro, as obras de renovação da Rua 14 de Julho – a primeira etapa do programa – estarão concluídas. E tudo caminha para isso: boletim da semana passada indica que 77% do trabalho está pronto.
O mérito da implantação deste projeto da Rua 14 de Julho ainda decorre de um trabalho iniciado no início desta década, e não somente da administração atual. Foi entre 2010 e 2012 que a iniciativa tomou forma, inclusive com detalhes arquitetônicos e urbanísticos. Profissionais respeitadíssimos em planejamento urbano participaram da elaboração do Reviva Campo Grande, com o propósito de fazer jus ao seu nome: levar de novo vida para o centro da cidade. Ocorre que, de lá para cá, muita coisa mudou e os que conduzem o programa nos tempos atuais não têm o mesmo diálogo com setores da sociedade, como na gênese do projeto.
O que se espera da Coordenadoria Especial de Gestão de Projetos da Prefeitura de Campo Grande, porém, vai muito além da execução de um plano já existente e com dinheiro na conta para desempenhá-lo. É necessário que o gestor do projeto pense de forma grandiosa e abrangente, e que não desvirtue o propósito do programa Reviva Campo Grande. A primeira grande falha da coordenadoria ficou visível neste ano, quando licitação para as obras da segunda etapa do programa – a construção de um residencial no Bairro Cabreúva – ficou deserta por falta de interessados.
Que bom que não houve interessados, porque ainda é possível reparar um grande erro com uma mudança importante: a de levar este residencial ao Centro de Campo Grande, que é aonde ele deveria estar. Não faz sentido algum utilizar recursos de um programa que visa revitalizar o centro de Campo Grande para um bairro distante três quilômetros do cruzamento da Avenida Afonso Pena com a Rua 14 de Julho.
Também causa perplexidade a forma fechada e pouco aberta com que as próximas etapas do projeto financiado pelo BID estão sendo tratadas. Da forma como a Coordenadoria Especial de Gestão de Projetos conduz o programa, não haverá vida no Reviva. Existirá, no máximo, um “banho de loja” na região central, que poderá continuar despovoada e ver alguns de seus problemas permanecerem – porém, num ambiente visualmente renovado.
É preciso repovoar a região, e um dos caminhos é aproveitar estruturas já existentes e adequá-las aos padrões de uso atuais, como no retrofit, por exemplo. Não é porque um prédio é antigo que ele não consiga ser belo e funcional. Chegou o momento de os responsáveis pelo programa Reviva Campo Grande convidarem comerciantes, proprietários de imóveis e também instituições que representam o pensamento coletivo; entre elas: o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea), o Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU), a Federação do Comércio de Mato Grosso do Sul (Fecomércio) e entidades como Câmara de Dirigentes Lojistas e Associação Comercial e Industrial, além de representantes de setores de serviços e entidades ligadas a restaurantes, alimentação, hotelaria, entre outras.