Lamentavelmente, as ações que complicam a vida do cidadão vêm daquele que deveria ajudá-lo a crescer, a ferecer seus serviços obrigatórios de uma forma mais acessível: o poder público.
Burocracia e objetividade não combinam. Por isso, podemos começar já concordando que, nos tempos atuais, em que as pessoas resolvem os afazeres do cotidiano de forma muito mais simples, prática e rápida, qualquer medida criada que possa complicar o dia a dia de uma pessoa vai gerar, no mínimo, reclamações, além de consequente desconforto.
Nestes mesmos tempos atuais, em que a simplicidade e a objetividade ganham espaço, as pessoas fazem muito mais tarefas do que outrora. Em tese, o uso de pouco tempo para fazer atividades burocráticas, como pagar contas, libera mais tempo para atividades que podem dar prazer às pessoas, ou então para aumentar sua produtividade em outros afazeres.
A cada aplicativo lançado, a cada nova modalidade de pagamento que é criada e a cada tecnologia que desponta para facilitar a comunicação e as transações entre as pessoas, temos a sensação de que o mundo está mais moderno e as nossas obrigações e tarefas menos cansativas. Certamente, em decorrência de as medidas facilitadoras serem a maioria, quando algo feito vai contra o desejo da população, os efeitos projetados por estas ações que complicam a vida das pessoas são maiores e mais abrangentes.
Nesta edição, trazemosmais uma medida que vai de encontro ao que a população espera de um serviço público ágil e eficiente. Embora o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) justifique que o desmembramento dos exames médico e psicológico de suas unidades e o pagamento por vias diretas a estes profissionais sejam uma forma de simplificar o trabalho deste órgão público, a complicação será repassada, quase que em sua totalidade, ao cidadão.
O leitor poderá ler adiante com mais detalhes que, ao solicitar serviços como renovação da carteira de habilitação, será necessário deslocar-se várias vezes até endereços que nem sempre serão os mesmos para ter seu objetivo concretizado. As garantias de que os valores não serão alterados, por enquanto, são poucas. O projeto já está na Assembleia Legislativa e é preciso que o cidadão fique atento.
Normalmente, as ações que complicam a vida do cidadão vêm daquele que deveria ajudá-lo a crescer e regulamentar de forma acessível os serviços que oferece: o poder público. A boa notícia é que a sociedade, quando atenta, impõe naturalmente limites às ações dos burocratas. O Corpo de Bombeiros, por exemplo, publicou ontem medidas que isentam de alguns tipos de vistoria e licença os comerciantes donos de negócios que oferecem baixo risco. Nada mais justo. Porém, esta medida só foi tomada depois que este veículo e muitos empresários e comerciantes se levantaram contra a prática que beirava o abuso.
Boa parte da evolução que a humanidade experimentou nos últimos séculos foi movida pelo desejo de tornar o cotidiano mais simples. Tem sido assim desde que o ser humano inventou a roda e conseguiu manipular o fogo. Nesta trajetória, porém, sempre existe alguém para complicar o que pode ser mais simples.