Se houvesse no Detran uma administração mais conectada com os anseios da população (e também com a internet) a prestação de serviços certamente seria bem melhor e mais satisfatória.
Nas últimas décadas, nada foi mais culpado pelos problemas do mundo do que o tal “sistema”. Desde que os serviços que dependem de tecnologia da informação - hardwares (computadores) e softwares (programas) e os instrumentos de conectividade (redes) - ganharam protagonismo nas relações entre as pessoas e as corporações, sempre que houve êxito, o mérito era dos executores do sistema, e sempre que existem falhas, aí a culpa, claro, é dele: do sistema. Ao se justificar por um erro, ou por uma imperfeição, é muito mais simples atribuir a culpa a algo impessoal e etéreo.
Talvez os sistema recebem a culpa das pessoas, por causa do poder que estes mecanismos exercem sobre as pessoas, essas sim, extremamente capazes, porém imperfeitas, e imprevisíveis e espontâneas. Os sistemas foram criados por humanos, justamente para suprirem as deficiências dos humanos, a começas pelo imponderável e pelo imprevisível. Os conjuntos de elementos, concretos ou abstratos, intelectualmente organizados, foram criados justamente para isso: tornar o cotidiano da sociedade mais estável.
Nesta edição, apresentaremos ao leitor os problemas decorrentes das instabilidades do sistema do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). São muitas as pessoas prejudicadas pelas falhas na conectividade da autarquia estadual. Na semana passada, por exemplo, quem tentou renovar sua carteira de habilitação, ou o certificado de licenciamento do automóvel, não conseguiu. Oficialmente, sabem de quem foi a culpa? Adivinhem? Claro, do sistema.
Existe, porém, diferença entre a culpa atribuída oficialmente por uma autarquia governamental, e os fatos e suas origens. Sistemas, ainda que indiretamente, são operados por humanos, então nada mais lógico que atribuir os problemas recorrentes no Detran de Mato Grosso do Sul às pessoas responsáveis pela gestão da autarquia.
Se houvesse no Detran uma administração mais conectada com os anseios da população (e também com a internet) os problemas na prestação de serviços seriam, certamente, bem menores. Aliás, por ser financeiramente autossuficiente, com um orçamento anual na casa das centenas de milhões de reais, a autarquia poderia - e deveria - ser exemplo de eficiência nos serviços que presta ao cidadão.
Aos gestores do Detran, é importante lembrar que os cidadãos, proprietários de veículos, não costumam pagar de bom grado as taxas impostas pelo órgão de trânsito: vistorias, renovações de licenças e, claro, multas. Por ser um órgão que não gera muita satisfação dos seus financiados, talvez fosse importante que as pessoas responsáveis por ele, oferecessem serviços mais estáveis e confiáveis.