Viajar para a Ásia em busca de investidores que possam provocar uma diversificação na economia de Mato Grosso do Sul, algo que ocorreu, por exemplo, com a chegada das indústrias de celulose, pode parecer ilusão ou promessa para “inglês ver”. Fala-se, inclusive, na possibilidade de trazer para cá uma montadora de máquinas agrícolas e veículos. Caso isso se concretizasse, seria realmente uma mudança na matriz econômica estadual. Exatamente por conta do tamanho do negócio e daquilo que seria necessário para que uma montadora se instalasse do lado de cá do Rio Paraná é que a possibilidade é muito remota e, por isso, soa como mera promessa.
Porém, esta viagem de representantes do governo do Estado ao Japão, Índia e Singapura em meio ao turbilhão provocado pelo tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem relevância especial. Menos de 7% daquilo que Mato Grosso do Sul exporta vai para os Estados Unidos. Mesmo assim, a ameaça de sobretaxar tudo provocou verdadeiro pânico local. E o anúncio de que a maior parte dos produtos ficou de fora trouxe importante alívio.
Se o atrito atual com os Estados Unidos está gerando essa tempestade toda, é de se imaginar o que aconteceria se algo parecido ocorresse com a China, país responsável por quase 50% de tudo aquilo que Mato Grosso do Sul exporta. O país asiático é o principal comprador de produtos como carnes, soja e celulose de MS. Se por algum motivo houvesse uma ruptura, a economia estadual entraria em colapso.
É em meio a este cenário mais político que econômico que a viagem do governador Eduardo Riedel e sua comitiva ganha sentido e relevância maior. É fundamental diversificar a matriz econômica local e, principalmente, os parceiros econômicos. O risco de ficar refém de determinados países ou de setores específicos da economia precisa ser evitado com urgência, pois tudo indica que a globalização econômica está com os dias contados. Ou, pelo menos, está entrando em uma nova fase.
Ao fazerem um tour pelos países asiáticos, o governador Eduardo Riedel e sua comitiva estão trilhando caminho parecido com o do presidente Lula, tanto nesta quanto nas gestões anteriores. Estão viajando pelo mundo em busca de novas parcerias econômicas. E é exatamente isso que provocou a ira do presidente norte-americano. Além de tentar ajudar os Bolsonaro, ele usa da intimidação econômica para tentar evitar que acordos comerciais internacionais que deixam os EUA de lado obtenham sucesso. Ou seja, embora a maior parte dos políticos e empresários que participarão da comitiva seja de bolsonaristas convictos e declarados, acabam seguindo o caminho e, indiretamente, “aplaudindo” as ações do atual presidente.
E estes aplausos implícitos ao presidente Lula ajudam a ilustrar quão perigosos são os aplausos explícitos de determinados bolsonaristas, neste caso específico, ao ex-presidente, seus filhos e ao próprio Trump. Ceder à chantagem política para proteger a economia seria o equivalente a virar refém por tempo indeterminado de determinado país.



