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CORREIO DO ESTADO

Editorial desta quarta-feira: "Lei da oferta e da procura"

Editorial desta quarta-feira: "Lei da oferta e da procura"

Redação

12/08/2015 - 00h00
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Se existe formação de cartel, espera-se que o procedimento aberto pelo Procon surta efeito,  identifique o problema e, ainda, influencie nos preços praticados nos postos de combustíveis. 

É corriqueiro falar sobre a oscilação do mercado da Bolsa de Valores, do fechamento com quedas ou altas vertiginosas das ações de importantes empresas. Mas, atualmente, nada é mais “temperamental” que as mudanças nos preços dos postos de combustíveis. Em Campo Grande, em apenas sete dias, a variação encontrada foi de 11,9%, segundo pesquisa da Agência Nacional de Petróleo (ANP). O litro da gasolina passou de R$ 2,95 para R$ 3,30 entre os dias 2 e 8 de agosto. A alteração chamou atenção do Procon, que notificou 30 empresários para prestar esclarecimentos sobre as promoções e os aumentos consecutivos.

Em todo o mercado, existe a livre concorrência. Se é possível segurar o preço por mais tempo, com objetivo de aumentar as vendas, outro empresário pode se sentir compelido a fazer o mesmo, para não ter a margem de lucro comprometida. Há que se levar em conta ainda a meta de venda que algumas bandeiras exigem e, para que o objetivo seja alcançado em certo prazo, as promoções são lançadas como cartadas para que se cumpra o estabelecido em contrato. A redução dos preços pode estar embasada nestas explicações, mas, as altas intempestivas e exorbitantes, aparentemente, não estão fundamentadas em critério algum e causam estranheza à população. O mercado é de difícil compreensão para a maioria das pessoas, ou seja, para o consumidor final, que procura se beneficiar da oscilação e busca o menor preço entre os postos da cidade.

Na semana passada, o governador do Estado, Reinaldo Azambuja, sugeriu que o Ministério  Público Estadual investigasse a forma como os reajustes eram praticados pelos postos, questionamento feito com a alta dos preços mesmo depois da redução da alíquota do diesel, reivindicação feita pelos caminhoneiros durante os protestos no começo do ano. Em discurso, Azambuja disse que era preciso “verificar irregularidades”. O questionamento é que os esforços que surgiram a partir do protesto, com o cálculo da redução e aprovação na Assembleia Legislativa, parecem não ter surtido efeito desejado. Não se pode ignorar a dificuldade que todos os setores estão sofrendo com a crise econômica e que, muitas vezes, repassar ao consumidor o aumento dos insumos é saída para tentar minimizar as perdas nos lucros. Porém, a variação pelo litro dos combustíveis é das mais voláteis e dinâmicas que se têm no mercado atualmente. 

Se existe formação de cartel, espera-se que o procedimento aberto pelo Procon surta efeito, identifique o problema e, ainda, influencie nos preços praticados nos postos de combustíveis. A outra alternativa já foi verificada e está diretamente ligada ao consumidor: a oscilação tão grande de preços fez com que muitos pesquisassem e, por causa da contenção de gastos, optassem em reduzir o consumo. O setor acaba sendo obrigado a se adequar à queda de demanda e refazer os preços praticados. É a velha lei da oferta e procura, que pode ser a arma na even­tual cartelização de qualquer setor.

Editorial

Fato e opinião: diferença que sustenta a verdade

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica

16/05/2025 07h15

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Uma das distinções mais fundamentais no campo do jornalismo – e também na vida em sociedade – é a que separa fato de opinião. O fato é uma informação objetiva, passível de verificação por meio de documentos, registros ou observações. Não depende da visão de quem relata. Já a opinião é uma interpretação subjetiva, vinculada a crenças, sentimentos ou julgamentos individuais. O fato pode ser checado; a opinião, debatida. No entanto, essa diferença essencial parece cada vez mais ignorada.

Vivemos um tempo de confusão cognitiva coletiva, em que muitas pessoas têm dificuldade de identificar o que é constatação e o que é interpretação. Esse problema é agravado por redes sociais, onde os conteúdos circulam sem mediação e sem compromisso com a verdade. Notícias falsas, opiniões disfarçadas de fatos e discursos sem base concreta ganham o mesmo espaço – e o mesmo peso – que análises técnicas e dados verificados.

Por isso, nesta edição, destacamos um fato: desde que a Lei do Pantanal foi sancionada, o desmatamento no bioma caiu. A queda registrada é, inclusive, a maior entre todos os biomas brasileiros. Trata-se de um dado objetivo, apurado por fontes técnicas de monitoramento ambiental. Independentemente da opinião de qualquer grupo político, setor econômico ou indivíduo, o resultado é mensurável: o ritmo de supressão vegetal diminuiu.

É interessante observar que a lei foi aprovada justamente em um contexto de alta no desmatamento, ou seja, ela foi uma reação a uma realidade ambiental crítica. E teve efeito concreto: com regras mais claras, restrições maiores e monitoramento por satélite, ficou mais difícil desmatar. A legislação passou a funcionar como uma barreira efetiva à destruição do bioma, e os números refletem isso.

É claro que há quem discorde da existência da lei, de seu conteúdo ou de sua rigidez. Isso é opinião, e opiniões são bem-vindas – desde que reconhecidas como tal. O que não se pode fazer é negar o efeito que uma norma mais rígida teve sobre o desmatamento. Isso não é mais uma questão de perspectiva, mas de evidência.

A legislação ambiental, como se vê, não é inimiga da produção ou do desenvolvimento. É instrumento de equilíbrio e de ordenamento. E, quando ela funciona, como agora no Pantanal, o resultado positivo é algo que precisa ser reconhecido como fato, não como narrativa.

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica. Sem isso, corremos o risco de viver em um país onde qualquer crença pode se impor como verdade – ainda que desmentida pela realidade.

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ARTIGOS

Quando a esquerda vai voltar a ter pautas próprias?

14/05/2025 07h45

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Agora é essa conversa da camisa da seleção. Minhas redes sociais, cheias de amigos e conhecidos progressistas (dos lulistas aos marinistas, dos saudosistas aos pós-modernos), todos ulularam de satisfação: “Agora eu compro!”; “Vamos pra rua de camisa vermelha da seleção!”; “Quero ver a cara dos patriotas!”.

Gente, que pobreza de ideias é essa? Sou do tempo em que a gente comprava a camisa vermelha na barraquinha da Rua XV, junto com o broche do Henfil com a graúna indignando-se com alguma coisa. Mas na hora da Copa era a amarelinha ou a azul do manto de Nossa Senhora, a padroeira, porque futebol é crença e também é sofrimento.

Quem pautou essa bizarrice de tornar a sagrada camisa do penta em símbolo de passeata política foram os caras do “mito”. Uma tristeza, uma apropriação indébita, uma profanação cultural com o símbolo máximo do nosso futebol, envergada com galhardia por um Pelé, um Garrincha, um Gerson, um Rivelino, Tostão, Sócrates, Falcão, Júnior, Zico. Ah, tantos nomes gloriosos e inesquecíveis. 

A esquerda fica empolgada com essa peraltice da CBF porque perdeu o rumo de sua própria narrativa e vive hoje como a cacatua de uma tia minha, que só sabe repetir as palavras que ela ensina. Muito malandra, minha tia ensina frases para desconcertar as visitas, como “Já não está tarde, comadre?” ou “Ai, que tá na hora da minha novela!”. Essa última, minha tia jura que ela repete, mas nunca ouvi. De qualquer forma, achei genial. Para uma cacatua, não para as forças progressistas do País.

Será que acabaram as pautas? Estaremos mesmo com nossos problemas todos resolvidos e nos resta apenas ficar arengando com os bolsonaristas, respondendo às provocações deles? E olha que isso eles fazem muito bem. Esses dias, teve um vereador em Curitiba (PR)que disse que a Ku Klux Klan era contra as armas para os negros e (eita raciocínio louco esse!), por isso, os negros foram desempoderados. Tudo isso para defender uma homenagem aos CACs. E dá-lhe indignação na internet, mostrando o rostão do vereador, feliz e contente com o marketing indireto. 

O Brasil é um país de democracia deficitária. Tá tudo para ser feito – começando na escola, que deveria ter aulas sobre a Constituição como tem de Matemática. Ninguém tá satisfeito, porque nossa democracia é nota 6. Tá sempre passando raspando. Por isso, quem realmente se importa com ela deveria estar falando dela o tempo todo, sendo didático, lembrando das conquistas tão duramente alcançadas, como a saúde pública, a universidade pública, as políticas de atendimento aos mais pobres.

Mas também deveria estar falando do que falta, do que precisa ser feito, de como é importante garantir cidadania e bem-estar para todos e não só para os 140 mil que quase não pagam imposto. E tem de entender que conflito é da natureza da democracia e, por isso, criticar e ser criticado faz parte do jogo e que não dá para substituir um “mito” por outro, porque até os gregos já largaram mão desse negócio de mito há mais de 2.500 anos e a gente ainda fica nesse rame-rame.

O denuncismo sem proposta é, para dizer o mínimo, chato pra caramba. E há muito tempo os progressistas andam sem propostas visíveis. Sei que nos cursos de pós-graduação, nos fóruns acadêmicos e nas revistas especializadas circula muita ideia boa. Mas aqui no rés do chão, onde vivemos nós, simples mortais, na planície, é só baixaria, de todo lado. E agora tem mais essa história da camisa da seleção. Que tristeza!

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