A culpa dos problemas que Campo Grande atravessa não é exclusiva dos prefeitos, mas também dos vereadores, que integram uma das piores legislaturas da história
As investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), na Operação Coffee Break, são a demonstração que faltava para comprovar o abismo moral, intelectual e de princípios no qual Campo Grande caiu, depois de eleger os representantes nas eleições municipais de 2012.
Que a cidade encontra-se sem rumo desde o dia 1º de janeiro de 2013, quando Alcides Bernal tomou posse, é do conhecimento de todos. Mesmo no período em que o vice de Bernal, Gilmar Olarte, esteve no comando do município, a população da capital sul-mato-grossense também sofreu com a falta de planejamento, de projetos de infraestrutura e de manutenção da qualidade dos serviços de educação e saúde.
Basta circular rapidamente, pelas ruas de Campo Grande, para constatar o abandono em que a cidade se encontra. Os buracos nas vias, a falta de merenda escolar, as filas em postos de saúde, a escuridão de avenidas importantes e bairros inteiros são nada menos que o reflexo das trevas que tomaram conta da Capital nestes últimos anos. Não houve, neste período, nenhuma ideia iluminada, dotada de princípios, para servir de alento à população.
A culpa dos problemas que o município atravessa, contudo, não é exclusiva dos dois últimos prefeitos do PP, Alcides Bernal e Gilmar Olarte, mas também dos vereadores que integram, certamente, uma das piores legislaturas da história de Campo Grande.
Foi a atual bancada de legisladores da Capital que se imergiu em “cafezinhos” (apelido que a propina recebeu de políticos da Capital) e aceitou “pixulecos” e “ingressos de circo”. Agora, os vereadores perderam a credibilidade para fazer o que eles deveriam: fiscalizar o Poder Executivo e propor leis que beneficiem, de fato, a população.
Não que a cassação de Alcides Bernal, no dia 13 de março de 2014, tenha sido incorreta. Pelo contrário, havia razões concretas para destituir o mandato do prefeito, mas as propinas e toda a trama envolvendo a sessão que resultou em cassação, que agora é revelada pelo Ministério Público Estadual e pela Polícia Federal, acabaram com a moral dos parlamentares da cidade.
Por causa dos cafezinhos, os vereadores da Capital agora não têm credibilidade suficiente para afastar novamente Bernal, que é réu na Justiça Federal, por improbidade administrativa. O afastamento é correto e é previsto em lei; porém, os parlamentares campo-grandenses parecem se preocupar muito mais com a salvação de seus mandatos e a difícil missão de limpar suas imagens, do que propriamente com os rumos de Campo Grande.
Infelizmente, quem paga a conta de todo este cenário de incertezas que tomou conta da cidade é a população. Por isso, para que o caos não se repita a partir de 2017, é preciso que, nas eleições do ano que vem, os eleitores tenham muita prudência, bons critérios e pensem no futuro do município, na hora de votar.