A queda no movimento do outro lado da fronteira, em outros momentos da história, geraria ânimo nos comerciantes brasileiros, o que, desta vez, não é o caso.
A disparada na cotação do dólar, que, na semana passada, pela primeira vez na história do Brasil, desde a implantação do Plano Real, superou a marca de R$ 4 preocupa não somente o lado paraguaio da fronteira, onde comerciantes constatam, desde o início do ano, queda brusca no movimento de turistas e consumidor, mas também do lado de cá, onde a geração de empregos e a circulação de dinheiro ameaça a economia das cidades fronteiriças.
Com o dólar a mais de R$ 4, comprar no país vizinho, hábito de muitos sul-mato-grossenses, torna-se menos interessante. Primeiro, porque os produtos importados - muito deles sem assistência técnica ou garantia em terreitório brasileiro - ficam muito mais caros que os mesmos produtos vendidos do lado de cá, e em segundo lugar, porque o comércio brasileiro oferece algumas facilidades de pagamento que as lojas paraguaias tradicionalmente não oferecem, como por exemplo, o parcelamento das compras, um diferencial para pegar o consumidor em uma época de dinheiro curto.
O problema principal, contudo, não é somente o preço das mercadorias vendidas no país vizinho. A falta de liquidez da economia brasileira é a grande causa de preocupação de quem depende das vendas no comércio da fronteira. Há pouco dinheiro em circulação no Brasil e uma inflação que só aumenta, fatos que diminuem o poder de compra dos brasileiros.
A queda no movimento do outro lado da fronteira, em outros momentos da história, geraria ânimo nos comerciantes brasileiros, o que, desta vez, não é o caso. Sem dinheiro no bolso, o brasileiro não gasta em quase lugar nenhum, e o agravante é que o desemprego gerado nas cidades vizinhas (2 mil demissões em Pedro Juan Caballero e 10 mil em Salto del Guairá) prejudica o comércio de municípios como Mundo Novo e Ponta Porã, pois boa parte dos trabalhadores empregados nas lojas paraguaias tem nacionalidade brasileira, e gasta o que recebe nas lojas destas cidades sul-mato-grossenses.
Para os comerciantes, muitos deles nascidos no Brasil, que investiram no Paraguai, recentemente, a expectativa de retorno do bom movimento de vendas virá somente no longo prazo. Os relatórios do governo federal e das instituições bancárias indicam recuo da economia neste ano e no ano que vem. Também não há perspectiva de redução na cotação do dólar, o que faz com que o empresário da fronteira torça para a recuperação do poder de compra dos brasileiros, algo que depende do crescimento da economia e de inflação menor do lado de cá da fronteira, o que não deve ocorrer tão cedo.
Sem o dinheiro dos consumidores brasileiros, a economia da fronteira sofre um duro golpe. A não ser o agronegócio, que tem sido beneficiado com o aumento da cotação do dólar, não há muitas saídas para os milhares de desempregados com a queda nas vendas do lado de lá.