Artigos e Opinião

CORREIO DO ESTADO

Editorial desta sexta-feira: "Incerteza paira sobre Aquário"

Editorial desta sexta-feira: "Incerteza paira sobre Aquário"

Redação

07/08/2015 - 00h00
Continue lendo...

Na origem de todo esse problema para a conclusão do Aquário do Pantanal, além da corrupção já constatada pela Polícia Federal, está a transferência quase informal da execução da obra, da Egelte para a Proteco

A incerteza tomou conta de vez do canteiro de obras do Aquário do Pantanal, um dos empreendimentos públicos mais caros da história de Mato Grosso do Sul, cujo custo para os cofres do Estado já passa dos R$ 240 milhões. 

A suspensão dos contratos do governo do Estado com a empreiteira Proteco Construções – uma das principais envolvidas no esquema de corrupção, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha investigado na Operação Lama Asfáltica, da Polícia Federal – paralisou de vez o canteiro de obras, que foi formado em 2011 e ao qual ainda não há data para que dê lugar ao centro que promete atrair turistas e pesquisadores de todo o mundo. 

A empreiteira do empresário João Amorim, apontado pela PF como chefe da quadrilha sob investigação, estava executando dois contratos no Aquário do Pantanal: a construção da parte física do empreendimento, em que está subcontratada pela Egelte Engenharia, vencedora da licitação, e a implantação do pátio do estacionamento. Esta, por conta própria. 

Estas duas obras custariam aos cofres públicos pouco mais de R$ 127 milhões, dos quais em torno de R$ 119 milhões já foram repassados às duas empreiteiras. Com 94% da obra paga, mas bem menos que este porcentual de conclusão, a administração estadual está diante de um problema que levará tempo para ser resolvido. 

A Egelte Engenharia, titular do contrato, já foi notificada para concluir a obra. Ocorre que ela deixou o canteiro do Aquário do Pantanal, em 2014, e alega não ter mais responsabilidade alguma com o empreendimento.

A Proteco, com repasses suspensos na Prefeitura de Campo Grande e no Estado, com boa parte de sua estrutura contábil nas mãos da Polícia Federal, dificilmente terá condições de cumprir suas obrigações no Aquário. 

Na origem de todo esse problema para a conclusão do Aquário do Pantanal, além da corrupção já constatada pela Polícia Federal, está a transferência quase informal da execução da obra, da Egelte para a Proteco. O material investigado na Operação Lama Asfáltica indica que a empresa vencedora da licitação teria sido forçada a entregar o empreendimento para o empresário João Amorim, prática constatada em outra obra estadual da administração passada, no caso, a Avenida Lúdio Coelho, em Campo Grande, que também é alvo do inquérito da Polícia Federal. 

Para o governo do Estado, há poucas saídas disponíveis para resolver o problema. A primeira delas, que já foi feita, é notificar a Egelte extrajudicialmente, para reassumir o canteiro de obras do Aquário do Pantanal e concluí-lo. Ao que tudo indica, acordo dentro desta estratégia será muito difícil. A segunda saída para conclusão do Aquário é cobrar judicialmente da Proteco e da Egelte a devolução dos recursos já transferidos e não aplicados diretamente na obra, e abrir uma nova licitação, para que o Aquário não se torne mais um elefante branco.

Editorial

Câmeras e segurança em Campo Grande

O uso da tecnologia como ferramenta de gestão urbana é uma realidade inevitável, e felizmente a capital sul-mato-grossense avança nesse caminho

13/05/2025 07h15

Arquivo

Continue Lendo...

A ampliação do monitoramento eletrônico em Campo Grande, com a instalação de novas câmeras pela cidade, é uma boa notícia – e mais do que isso, um passo na direção correta. Trata-se de uma tendência global adotada por grandes centros urbanos que buscam modernizar seus sistemas de vigilância, melhorar a segurança pública e tornar o trânsito mais disciplinado. O uso da tecnologia como ferramenta de gestão urbana é uma realidade inevitável, e felizmente a capital sul-mato-grossense avança nesse caminho.

Em um primeiro momento, é natural que muitos associem a presença de câmeras apenas à aplicação de multas a motoristas infratores. É uma reação compreensível, sobretudo em uma cultura em que o trânsito ainda é, infelizmente, um dos principais ambientes de desrespeito às leis. No entanto, reduzir o papel das câmeras apenas à fiscalização veicular é enxergar uma parte pequena do seu potencial.

Sim, o controle de infrações de trânsito é uma função importante. A perspectiva de ser multado a qualquer momento e de sentir os efeitos da infração no bolso tem, comprovadamente, impacto positivo sobre o comportamento dos condutores. A longo prazo, isso deve se traduzir em menos acidentes, menos mortes e mais respeito entre os usuários das vias públicas. Mas as câmeras são, antes de tudo, instrumentos de prevenção, não apenas de punição.

O papel do monitoramento vai além. A presença das câmeras, em tempo real, pode contribuir significativamente para a segurança pública. As imagens captadas são fundamentais para a investigação de crimes, identificação de suspeitos, reconstrução de eventos e produção de provas. Casos de furtos, roubos, agressões e até desaparecimentos podem ter suas soluções aceleradas quando há imagens disponíveis. A cidade ganha um novo aliado na luta contra a criminalidade.

Mais do que isso, o registro constante da rotina urbana contribui para uma sensação maior de segurança entre os cidadãos. Embora o debate sobre privacidade seja sempre necessário – e deve continuar –, é preciso reconhecer que o uso adequado e transparente da tecnologia pode salvar vidas, evitar injustiças e aprimorar a atuação das forças de segurança.

Contudo, é essencial destacar que a tecnologia, por si só, não resolve todos os problemas. O investimento em câmeras deve vir acompanhado do cuidado com a infraestrutura básica da cidade. De nada adianta uma vigilância de ponta se as ruas estão esburacadas, mal sinalizadas ou com asfalto deteriorado. Segurança também se faz com calçadas bem cuidadas, iluminação eficiente e vias acessíveis. A urbanidade começa no chão que se pisa.

Portanto, que as câmeras tragam mais tranquilidade à vida dos campo-grandenses, mas que também sirvam de lembrança de que uma cidade segura é, acima de tudo, uma cidade bem cuidada. Que a tecnologia caminhe lado a lado com políticas públicas abrangentes, que olhem para o cidadão em todas as suas necessidades – do tráfego à segurança, da investigação ao conforto diário.

Assine o Correio do Estado

ARTIGOS

O IPCA de abril e os sinais da economia brasileira

10/05/2025 07h45

Arquivo

Continue Lendo...

No acumulado de 12 meses, o índice chegou a 5,53%, bem acima do centro da meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3%, com margem de 1,5 ponto porcentual. Isso, por si só, já reforça a necessidade de vigilância, sobretudo em um cenário em que a política monetária segue rígida, com a taxa Selic recentemente elevada a 14,75% ao ano, maior patamar em quase duas décadas.

Mas não é só a magnitude do índice que importa. A composição da inflação de abril é ainda mais reveladora. O grupo de alimentação e bebidas teve alta de 0,82%, puxado por alimentos básicos do dia a dia do brasileiro, como a batata-inglesa (18,29%), o tomate (14,32%) e o café moído (4,48%). São itens que impactam diretamente o orçamento das famílias, especialmente das mais pobres. Além disso, saúde e cuidados pessoais subiu 1,18%, influenciado pelos reajustes autorizados nos medicamentos no fim de março.

Em contraste, o grupo transportes apresentou queda de 0,38%, com destaque para a retração de preços das passagens aéreas e combustíveis. Essa dinâmica de forças opostas é típica de períodos de transição de política monetária, em que o freio nos setores mais sensíveis aos juros ainda coexiste com pressões estruturais e sazonais que seguem empurrando o índice para cima.

É nesse ponto que a análise econômica precisa ir além da planilha. A inflação é um fenômeno complexo que reflete múltiplas camadas: choques climáticos, gargalos logísticos, preços administrados, dinâmica salarial e expectativas. E é justamente por isso que o IPCA de abril não pode ser lido como um simples número: ele é um sinal de alerta sobre a dificuldade do País em ancorar suas expectativas inflacionárias e convergir de forma sustentável para a meta.

A atuação do Banco Central (BC), por meio da taxa de juros, é apenas uma parte da resposta. Ainda que a elevação da Selic tenha por objetivo conter a inflação futura, ela não opera em um vácuo. A credibilidade das políticas fiscais, a previsibilidade institucional e a maturidade das reformas estruturais também têm peso na formação de preços e nas expectativas dos agentes.

Por fim, há uma dimensão social que não pode ser ignorada: uma inflação que recai com mais intensidade sobre alimentos e medicamentos é, em essência, uma inflação regressiva. Ela corrói o poder de compra onde ele já é mais frágil. O IPCA de abril nos lembra que, mais do que um índice técnico, estamos diante de um fenômeno que afeta a vida das pessoas, que impõe escolhas difíceis às famílias e que desafia a atuação coordenada do Estado.

É preciso escutar o que o IPCA está dizendo. Ele fala não apenas sobre preços, mas sobre o momento econômico do País, sobre os caminhos que estamos trilhando e sobre os ajustes que ainda precisam ser feitos para que o crescimento sustentável não fique eternamente adiado.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).