O Correio do Estado não é contra grandes empreendimentos, capazes de gerar centenas de empregos e de movimentar a economia local, da “tia do salgado” às multinacionais.
A recente decisão de embargar em torno de 10 novas obras na zona de amortecimento do Parque Estadual do Prosa, ao mesmo tempo em que permite que construtoras prossigam com seus projetos dentro dessa mesma área sensível, expõe uma perigosa contradição entre desenvolvimento urbano e preservação ambiental.
É um sinal claro de que os envolvidos no acordo não definiram, de forma transparente e coerente, quais as suas prioridades.
Essa região de Campo Grande, que abrange bairros como Parque dos Poderes, Chácara Cachoeira, Jardim Veraneio e adjacências, já sofre com pressões severas das incorporadoras.
A pressão a que nos referimos se intensificou com a liberação para construir novas torres em um raio inferior a 900 metros das áreas de preservação. Essas obras estão localizadas na área de proteção mais nobre de Campo Grande, justamente, em um dos locais mais prejudicados pela verticalização.
Trata-se de uma escolha que ignora o acúmulo de impactos e trata cada obra como se fosse isolada, quando, na prática, o efeito é somatório e irreversível.
Não se defende aqui a paralisação de toda e qualquer verticalização. O que se propõe é a aplicação rigorosa de critérios técnicos, a efetiva participação popular, a realização de estudos de impacto ambiental e de vizinhança, e o respeito às leis urbanísticas.
Um modelo sustentável de crescimento não se constrói com uma montoeira de edifícios em um mesmo local. É preciso transparência e compromisso real com as futuras gerações. A conservação do perímetro levanta dúvidas legítimas sobre a real intenção do acordo.
Se a justificativa é proteger o Parque Estadual do Prosa e sua zona de amortecimento, como explicar que alguns empreendimentos recebam o sinal verde enquanto outros, mais distantes, estejam correndo risco por conta da insegurança jurídica? Ao menos no prazo para regulamentar a lei, as obras que não se iniciaram poderiam ser paralisadas até a regulamentação.
A incoerência na aplicação das regras fragiliza a confiança dos investidores e das instituições. Campo Grande precisa, com urgência, de uma política ambiental que trate todos com o mesmo rigor e que coloque a ciência e o interesse coletivo acima das pressões econômicas de ocasião.
Enquanto interesses financeiros de grandes construtoras e seus discursos e práticas permanecerem desalinhados, o risco é transformar o entorno do Parque do Prosa em uma área de desrespeito ambiental – um lugar no qual o concreto prevaleceu sobre a coerência e onde a natureza, mais uma vez, foi colocada em segundo plano.


