A saúde pública brasileira sempre foi tratada como um desafio monumental, mas a verdade é que um dos caminhos mais eficazes para melhorá-la não passa exclusivamente por novos prédios, mais equipamentos ou grandes anúncios: passa, antes de tudo, por gestão.
Quando observamos os orçamentos federal, estaduais e municipais, não é difícil constatar que a Saúde ocupa, de longe, a maior fatia dos recursos públicos. Dinheiro, portanto, não é o principal problema. O que falta, então?
Responder apenas “gestão” seria simplificar demais uma questão complexa, embora seja parte essencial da equação.
É preciso ir além: falta seriedade na aplicação dos recursos, fiscalização célere e eficiente e controle rigoroso para impedir desvios, desperdícios e improvisações que tanto comprometem o atendimento à população. Sem esses elementos, qualquer sistema tende ao colapso, por mais robusto que seja o orçamento.
Quando há gestão responsável, a saúde se transforma: melhora a qualidade de vida, reduz filas, evita mortes e aumenta a produtividade de toda a sociedade.
Em Mato Grosso do Sul, um passo importante está sendo dado nessa direção: a concessão do Hospital Regional de MS à iniciativa privada. Trata-se de uma mudança estrutural que, se bem executada, pode ser um divisor de águas na política pública de Saúde do Estado.
O projeto é tecnicamente sólido e segue uma tendência mundial: transferir à iniciativa privada a responsabilidade pelos serviços da chamada “bata cinza” – lavanderia, farmácia, manutenção de equipamentos, alimentação, logística –, tarefas que exigem eficiência operacional e gestão ágil.
Assim, o Estado pode concentrar sua energia na “bata branca”, fortalecendo médicos, enfermeiros e demais profissionais da linha de frente, que são o coração do atendimento.
A lógica é simples e eficaz: quem é especializado em gerir processos complexos deve assumir essa função; quem é especializado em salvar vidas deve se dedicar integralmente ao cuidado. Quando essa divisão funciona, o serviço melhora, os recursos são bem utilizados e a população sente a diferença.
Mas é indispensável que todo o processo seja conduzido com integridade. De nada adianta modernizar a gestão se a concessão for entregue a empresas sem idoneidade, marcadas por escândalos de corrupção ou incapazes de cumprir o que prometem.
Nesta edição, mostramos que há candidatos à gestão do hospital tendo de responder à Justiça. A saúde pública não pode se tornar objeto de interesses privados escusos nem refém de contratos mal fiscalizados. Transparência, responsabilidade e rigor são condições obrigatórias para que o modelo funcione.
A concessão do Hospital Regional é uma oportunidade rara de romper com velhos vícios. É uma chance de colocar a gestão a serviço da saúde, e não o contrário.
Se houver seriedade, o estado de Mato Grosso do Sul poderá construir um exemplo para o País, mostrando que não basta ter recursos, é preciso saber usá-los com competência, visão e compromisso com a vida.


