Questionar a ordem convencional das coisas não é exercício dos mais confortáveis, visto que, quando assim procedemos, atraímos para nós um olhar de censura, como se refletir sobre a realidade social fosse proibido, pois, em tempos de cegueira intelectual e de um emburrecimento da educação pública, ser crítico é ir à contramão do que é proposto pela estrutura da escola pública, logo você perde espaço no diálogo e sequer é ouvido. A escola pública, na sua esfera de ensino básico, passa por uma crise de valores éticos e consequente fracasso da razão.
O comportamento individual ou coletivo dos professores está endossando o fracasso de uma geração de estudantes que, fazendo mal uso das tecnologias, não conseguem mais sequer ler um livro ou assistir a uma aula sem uso do fone de ouvido. Em Mato Grosso, mesmo havendo uma lei que proíbe o uso do aparelho celular em sala de aula, é extremamente complicado fazer valer a regra. O grande desafio contemporâneo da educação pública é fazer o estudante pensar e aceitar o papel transformador do conhecimento.
Sou professor do Ensino Médio na rede pública e praticamente todas as vezes que adentro em uma sala de aula e tento aprofundar em alguma reflexão sociológica, sou tomado por uma profunda fadiga filosófica que se transforma em uma angústia existencialista, visto que sou levado à única conclusão possível: a escola pública fracassou e não consegue preparar seu aluno para enfrentar os desafios que se avolumarão após a saída dele do Ensino Médio. E a culpa é de quem? Ouso dizer que a culpa é de uma formação sociocultural que valoriza a esperteza em vez do trabalho sério, que prega a malandragem em vez da honestidade; a culpa é dos excessos, da ausência de regras, da falta de amor pela leitura, da preguiça institucionalizada, etc.
O fato é que a realidade da educação pública no Brasil é irônica, perversa e melancólica. Obviamente que existe exceções, que há bons alunos, inclusive os bons são vitimados, violentados, taxados de anormais, justamente por que busca elevarem-se a condição intelectual das pessoas inteligentes, logo esse comportamento atraem para eles a fúria dos ignorantes, daqueles que tem raiva da razão e do conhecimento. O bom aluno é achincalhado e taxado de aberração pelo mau aluno.
O cenário é constrangedor e com tendências a piorar. Isso tudo é culpa do afrouxamento das regras, da perda de autonomia do professor, do excesso de direitos que esse aluno possui, sem ter que oferecer nenhuma contrapartida. A permissividade exacerbada destruiu a relação de respeito que outrora existiu entre aluno e educador. Antes o professor na rede pública era uma referência que o aluno admirava e queria seguir, hoje o professor é o motivo da piada, do escárnio e de deboche.