Artigos e Opinião

ARTIGO

Maria Celma Borges: "As ruas e a 'pátria educadora' "

Professora do curso de História - UFMS/CPTL

Redação

25/08/2015 - 00h00
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Ao olharmos o movimento nas ruas neste mês de agosto queremos acreditar que ela se torne espaço de reivindicação de direitos e questionamento do arbítrio. Entretanto, utilizar-se do “verde e amarelo”, como símbolo do nacionalismo, pedindo o impeachment, não resolve as duras agruras vividas pela parte mais frágil da população. Ao contrário, agoniza a dor. 

Desejamos ver as ruas como lugar de luta pela conquista de direitos historicamente usurpados, pois como ensinou o velho José de Souza Martins: “se o direito é construído sob o torto, sob a usurpação do direito do outro, desvenda para o outro o seu direito”. Então, que a vida e não a morte seja uma bandeira dos que tomam as ruas! Que o verde e o amarelo não escondam “a pátria amada e esquartejada”. 

Isto nos faz lembrar uma exposição no museu do Ipiranga, em SP, organizada por Marilena Chaui, secretária da Educação, quando dos 500 anos de “descobrimento” da América. Na exposição, a letra do hino era comparada, em quadros, à realidade do Brasil. No trecho “deitado eternamente em berço esplêndido”, víamos a imagem de crianças moradoras de rua ou vendendo pequenas mercadorias pelos sinais, sinalizando uma infância perdida. Hoje, o crak e outras drogas, o tráfico e a desesperança tomam as ruas dos grandes e pequenos centros. Crianças, jovens, adultos e velhos estão imersos neste mundo desencantado, nas proximidades de rodoviárias, pelas praças, centros, à volta das escolas, desnudando uma “pátria amada esquartejada”, nome da exposição, muito diferente do slogan da “pátria educadora”.

Que este processo de tomada das ruas contribua para termos a história nas mãos, sem que ventríloquos da direita e da “esquerda” encontrem meios para proliferar. Oxalá que proclamar a vida em sua justeza seja uma bandeira de lutas e não o seu reverso! Que tremam aterrorizados todos os poderes e políticos corruptos, da Câmara dos Deputados, Senado, Câmaras estaduais e municipais, prefeituras e governos, em todas as instâncias!

Que o governo rompa as amarras dos acordos políticos e opte pelo povo! Pelas bandeiras da saúde, educação, reforma agrária, trabalho e dignidade em toda a plenitude para os milhões que somos nós. Denuncie a barbárie da dívida pública e exija Auditoria! Mas, estamos a anos luz desta realidade, pelos cortes abissais na Educação Pública e na Saúde. Corta-se no Público e mantém-se o patrocínio ao Privado, como o Fies que, contraditoriamente, atende a quem deveria estar no ensino público e gratuito. Sobra vaga na universidade pública, mas faltam as mínimas condições para o pobre nela permanecer, como moradia e restaurante universitário. Daí a evasão, especialmente nas Licenciaturas. Vivencia-se isto em Três Lagoas-MS, onde a especulação imobiliária reina e a UFMS vira as costas para esta realidade, ao não colocar como urgência a construção da Moradia Estudantil.  

Na UFMS não houve, neste ano, novos Editais para bolsas permanência ou de alimentação. O governo ameaça fechar programas como o PIBID. Cortes também atingem as Pós-Graduações com redução de 75% do repasse. Com míseros recursos, ainda teimam em funcionar com Bancas de Mestrado e Doutorado on-line, porque não há condições econômicas para subsidiá-las. Falta dinheiro até para o envio de correspondências. O governo federal ignora a pauta das federais há quase três meses em GREVE. Mas, mantém o diálogo com a bandalheira de corruptos do Congresso Nacional. 

Então, que nas ruas haja a consciência de ser preciso reinventar este Brasil com as cores da gente negra, indígena, branca, parda... Assim, talvez consigamos ir para as ruas, com orgulho não “do verde e amarelo como discurso moralizador da ordem e do progresso”, mas da diversidade das cores e da beleza do mosaico que somos nós! 

Editorial

Quando a esperança pede uma pausa

A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas

14/05/2025 07h15

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Em certos momentos, parar para ajustar a esperança não é desistir, mas uma escolha prudente diante da realidade. Refrear expectativas é um gesto de maturidade coletiva, sobretudo quando se trata de políticas públicas e infraestrutura. É dessa pausa que falamos quando olhamos para o caso da Malha Oeste, ferrovia que atravessa Mato Grosso do Sul de leste a oeste e que há décadas vive em estado de abandono, sob uma concessão que pouco contribuiu para o desenvolvimento que dela se esperava.

A Rumo, atual concessionária, praticamente sucateou a estrutura da Malha Oeste. A inércia foi tamanha que, agora, o governo tenta encaminhar a relicitação da ferrovia, na tentativa de atrair novos investimentos.

Porém, sejamos francos: o trem das grandes expectativas já passa e está passando. Depois que passar, talvez ele nem volte a apitar na mesma estação. O tempo perdido foi demais. As promessas vazias, numerosas. A hesitação custou caro.

Enquanto se aguardava um plano concreto de revitalização, as empresas que poderiam justificar economicamente a reativação da ferrovia seguiram outro rumo. Literalmente. Projetos logísticos começaram a ser traçados de forma independente, como o leitor verá em outras matérias desta edição. Essa movimentação revela que o setor produtivo já não deposita confiança no futuro da Malha Oeste.

Não se trata apenas de frustração com a concessionária. A situação se agrava porque a mesma empresa que negligenciou a Malha Oeste opera, com rentabilidade e eficiência, uma ferrovia no norte do Estado. E é justamente para essa rota que as gigantes da celulose começam a voltar seus esforços logísticos, seja por trilhos ou por rodovias. O efeito dominó é claro: a Malha Oeste vai ficando para trás, esquecida nas margens da história e da competitividade.

Essa tendência é reforçada por uma conjuntura nacional nada favorável. O investimento público em infraestrutura, que já foi motor de desenvolvimento, hoje é cada vez mais raro. Os recursos mínguam e o governo federal parece mais preocupado em alimentar uma máquina pesada e ineficiente. A prioridade, ao que tudo indica, são as emendas parlamentares paroquiais, moeda de troca política que pouco ou nada contribui para transformar realidades estruturais como a da ferrovia sul-mato-grossense.

É por isso que, ao falarmos da Malha Oeste, talvez o mais honesto seja, sim, pausar. Esperar menos para sofrer menos. Não se trata de desistir de lutar por desenvolvimento ou pela reativação dos trilhos, mas de entender que, sem mudanças estruturais, tanto na forma de concessionar quanto de investir, qualquer nova esperança poderá ser apenas mais um vagão vazio passando em vão.

Cabe à sociedade civil, aos empresários e aos líderes políticos pressionar por modelos viáveis e sustentáveis. A história da Malha Oeste não precisa terminar no abandono, mas também não pode continuar sendo contada apenas com promessas. Nesse momento, a pausa na esperança pode ser o primeiro passo para, quem sabe, reconstruí-la com mais responsabilidade e realismo.

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ARTIGOS

Como a Selic a 14,75% afeta o seu bolso

13/05/2025 07h45

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O Banco Central (BC) apertou o freio na economia: elevou a taxa Selic para 14,75% ao ano, o maior nível em duas décadas. A medida é uma resposta direta à inflação que insiste em pesar no bolso do brasileiro, hoje em 5,48% – bem acima da meta oficial de 3% ao ano. Mas o que isso significa, na prática, para quem está longe dos gabinetes e mais perto do supermercado?

A lógica é simples. Quando os juros sobem, pegar dinheiro emprestado fica mais caro. Com isso, as pessoas compram menos e as empresas ficam com mais dificuldade para investir. A ideia é esfriar a economia e, assim, conter a alta dos preços. É um remédio amargo, mas, segundo a teoria, é necessário para manter a inflação sob controle e preservar o poder de compra.

Além disso, essa alta torna o Brasil mais atraente para investidores internacionais. Com juros mais altos, aplicações em reais se tornam mais lucrativas, o que ajuda a valorizar o real frente ao dólar – algo que também influencia no preço de produtos importados.

Apesar de a medida ser um esforço claro para conter a inflação, há uma pedra no caminho: os gastos do governo. Enquanto o BC tenta conter a circulação de dinheiro, políticas públicas que aumentam os gastos, como benefícios sociais ou estímulos ao consumo, podem ir na direção contrária, criando um conflito entre a política monetária (juros) e a política fiscal (gastos públicos).

Isso é chamado de paradoxo da política econômica. Traduzindo: é como tentar enxugar o chão com a torneira aberta. Se o governo gasta muito sem compensar esse aumento com receitas, a dívida pública cresce, o risco de descontrole fiscal aumenta e a inflação pode voltar com força. Nesse caso, o BC pode ser forçado a manter os juros altos por mais tempo – o que prolonga o aperto, ou a inviabilidade, para todos.

Nem todo mundo consegue “evitar dívidas” ou “planejar melhor”, como tanto se recomenda. Para milhões de brasileiros, o salário acaba antes do fim do mês e o cartão de crédito vira a única saída. Nesse cenário, o aumento da Selic é especialmente cruel.

Seguem dicas: o rotativo do cartão é uma das formas de crédito mais caras do mercado. Com juros altos, a dívida cresce em ritmo acelerado. Quem está no rotativo deve, se possível, buscar alternativas, como um empréstimo com taxas menores, por exemplo, o consignado. Fale com o seu gerente do banco para trocar dívida cara por dívida menos cara.

As compras parceladas aliviam o mês, mas podem virar armadilhas. Em tempos de Selic alta, o parcelamento costuma embutir juros cada vez mais altos. Vale fazer as contas antes de fechar a compra – e evitar parcelar bens de consumo não essenciais. Se a renda já está comprometida, negocie. Muitos bancos estão mais abertos à renegociação, especialmente diante de cenários tão desafiadores. Não hesite em buscar condições melhores para alongar ou reorganizar suas dívidas.

Sempre procure orientação. Há programas de educação financeira gratuitos que podem ajudar a organizar o orçamento e tomar decisões mais conscientes, como os oferecidos pelo BC, por cooperativas de crédito e até na internet, mas é preciso cautela com as ajudas buscadas na rede, já que aparecer pessoas que aproveitam dessa fragilidade para te vender soluções mágicas que, da noite para o dia, prometem “transformar a sua vida financeira”.

Para todos – mesmo quem não está endividado – a nova Selic tem efeitos imediatos:

  • Rotativo do cartão de crédito e cheque especial: os juros ficam ainda mais pesados. Pague o total da fatura. Nem que seja com um outro empréstimo, como disse anteriormente, “menos caro”;
  • Financiamentos e compras a prazo: o custo aumenta. Reavalie o momento e a prioridade;
  • Compras do dia a dia: a inflação ainda está presente. Vale comparar preços, trocar marcas e cortar excessos. Evite compras impulsivas;
  • Investimentos: o momento favorece aplicações conservadoras como Tesouro Selic ou CDBs de liquidez diária, que rendem mais com a Selic alta.

O Banco Central já deixou claro que, se a inflação não ceder, os juros podem subir mais. Mas manter a Selic nas alturas por muito tempo traz seus próprios riscos, como frear demais a economia e afetar o emprego.

O equilíbrio entre segurar os preços e cuidar das contas públicas é delicado – e fundamental para que a economia volte a crescer sem penalizar ainda mais quem já está no limite. Enquanto isso, o brasileiro segue entre o aperto e a esperança. Os pensamentos de ordem continuam sendo os mesmos: lucidez e decisões conscientes.

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