Os recentes tarifaços impostos pelos Estados Unidos expõem uma fragilidade comum às nações que dependem excessivamente de um único mercado ou de determinados insumos estratégicos. O Brasil, apesar de seus avanços nas últimas décadas, ainda corre esse risco.
Nosso agronegócio é competitivo e garante superavits recorrentes, mas seguimos dependentes de commodities como soja, minério de ferro e petróleo. Enquanto isso, a indústria de transformação perdeu espaço no PIB e o País ainda não conseguiu consolidar uma estratégia clara de inserção em setores de maior valor agregado. Em outras palavras, basta uma mudança repentina de tarifas em um mercado estratégico para que sintamos o impacto direto na balança comercial e na economia doméstica.
A lição dos tarifaços é clara: não podemos depender de poucos mercados nem de uma pauta de exportações concentrada em produtos básicos. A diversificação de parceiros comerciais e o fortalecimento de setores de inovação são fundamentais para blindar o Brasil. As experiências de países como a Coreia do Sul e Taiwan, por exemplo, mostram que investimentos em tecnologia, educação técnica e clusters industriais ajudam a criar resiliência diante de choques internacionais.
É verdade que o Brasil tem buscado novos acordos comerciais e começa a se mover em direção à chamada neoindustrialização verde, com foco em energias limpas e biotecnologia, mas ainda é pouco. A burocracia, a lentidão das reformas e a dependência de incentivos fiscais fragmentados fazem com que avancemos em ritmo menor do que o necessário.
Para mudar esse quadro, precisamos ir além: o País deve apostar na diversificação produtiva, ampliar tratados comerciais fora do eixo tradicional e investir pesado em inovação, educação e capital humano. Além disso, é urgente reduzir vulnerabilidades em áreas críticas como fertilizantes, semicondutores e medicamentos.
No fundo, a questão é de soberania econômica. Se quisermos deixar de ser reféns dos tarifaços e das decisões unilaterais de outras potências, precisamos de uma política industrial moderna, voltada à inovação, e de uma estratégia comercial mais ousada. Só assim, o Brasil deixará de reagir a crises externas e passará a ditar parte das regras do jogo.


