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Política antitarifaço: entre a diplomacia e a crise fiscal

a economia responde melhor a soluções negociadas na origem do problema do que a remendos caros no seu desfecho

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Ainda não há uma data para o anúncio das medidas que o governo promete para atenuar os impactos do chamado tarifaço, imposto pelos Estados Unidos. Enquanto isso, o tempo corre e, com ele, a apreensão de setores exportadores, que observam, preocupados, seus contratos e margens ameaçados.

Não é difícil entender a cautela: o espaço fiscal é apertado, a arrecadação não tem fôlego para novos desembolsos e qualquer gasto adicional pressiona metas já fragilizadas.

Nesse contexto, cada dia sem definição reforça a sensação de que o desafio talvez não seja apenas técnico, mas político e diplomático. Criar um pacote que não fira o equilíbrio fiscal exige criatividade e, muitas vezes, concessões internas.

Mas também é verdade que a economia, nesse tipo de impasse, responde melhor a soluções negociadas na origem do problema do que a remendos caros no seu desfecho.

O governo afirma que a proposta em estudo não terá impacto nos parâmetros fiscais. É uma meta ambiciosa, quase paradoxal, diante de um cenário que demanda recursos. Subsídios, linhas de crédito e incentivos custam dinheiro, e esse é justamente o recurso mais escasso no momento.

Talvez fosse mais pragmático investir esforços em uma mesa de negociação com Washington, ainda que isso envolva complexidades diplomáticas.

Reduzir tarifas pela via política é, em muitos casos, menos custoso do que criar mecanismos de compensação interna que, inevitavelmente, acabam se espalhando pelo orçamento e ganhando vida própria. Em crises comerciais, o imediatismo pode ser tentador, mas nem sempre é a estratégia mais inteligente.

Ainda que o discurso oficial fale em proteger a indústria nacional e preservar empregos, qualquer intervenção dessa natureza esbarra em um dilema antigo: como financiar a proteção sem desequilibrar ainda mais as contas públicas?

No cenário atual, em que o governo já lida com despesas crescentes e uma arrecadação volátil, cada real destinado a medidas emergenciais precisa ser retirado de outro setor ou compensado com aumento de receita, algo politicamente desgastante.

A experiência brasileira mostra que medidas de socorro econômico, quando não calibradas, tendem a transformar-se em compromissos permanentes, pressionando o erário por muito mais tempo do que a crise que as originou.

Além disso, existe um custo de oportunidade pouco debatido. Recursos e energia política que poderiam ser direcionados para um diálogo mais assertivo com os EUA acabam sendo absorvidos pela construção de um pacote interno de difícil execução.

Negociar tarifas diretamente com a administração norte-americana exigiria articulação e paciência, mas teria potencial de solucionar o problema na raiz, preservando o caixa e evitando a criação de novos passivos fiscais.

A opção por um caminho mais custoso e indireto pode não apenas onerar o presente, como também comprometer a capacidade de resposta a crises futuras.

EDITORIAL

O sistema de transporte faliu?

Mais grave ainda é a ausência, até aqui, de uma participação ativa e contundente de instituições que podem e devem agir de ofício diante de um flagrante caso de interesse público

15/12/2025 07h15

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A crise do transporte coletivo em Campo Grande chegou a um ponto que ultrapassa o desconforto cotidiano do usuário e passa a provocar perplexidade institucional. Um serviço essencial, que garante o direito de ir e vir, simplesmente ameaça parar, enquanto parte das instituições que deveriam atuar na defesa do interesse público assiste a tudo à distância, como se o problema fosse apenas administrativo ou financeiro.

O transporte público não é um favor concedido por concessionários nem um serviço opcional do poder público. Trata-se de uma obrigação legal e constitucional, que deve ser prestada de forma contínua, adequada e eficiente.

Ainda assim, a combinação de atrasos no pagamento de subsídios por parte do Município e crises financeiras alegadas pela concessionária – que, diga-se, precisa ser muito mais transparente sobre sua real situação – resultou na convocação de uma paralisação marcada para hoje.

Esperamos, sinceramente, que ela não ocorra. Mas o simples fato de ser cogitada já é um sinal grave de falência do modelo atual.

Mais grave ainda é a ausência, até aqui, de uma participação ativa e contundente de instituições que podem – e devem – agir de ofício diante de um flagrante caso de interesse público. O silêncio do Ministério Público de Mato Grosso do Sul, do Tribunal de Contas e da Defensoria Pública causa estranheza.

Estamos falando de um serviço que afeta diretamente milhares de trabalhadores, estudantes, idosos e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Não há como tratar esse impasse apenas como um conflito contratual entre prefeitura e concessionária.

Essas instituições existem justamente para atuar quando direitos coletivos são ameaçados. Têm instrumentos legais para exigir informações, fiscalizar contratos, mediar soluções e, se necessário, responsabilizar gestores e empresas.

A crise do transporte público é um típico caso em que a atuação preventiva e firme poderia evitar danos maiores à população.

Esperamos, portanto, uma atuação urgente dessas instituições na mediação do impasse, antes que a cidade seja penalizada com a interrupção de um serviço vital. E, se o conflito acabar inevitavelmente judicializado, que o Judiciário aja como deve agir: com celeridade, sensibilidade social e foco no interesse público, e não apenas na letra fria dos contratos.

Afinal, quando um sistema essencial entra em colapso e as instituições se omitem, a pergunta deixa de ser retórica e passa a ser inevitável: o sistema de transporte público faliu ou falharam as instituições que deveriam garantir o seu funcionamento? Instituições existem para funcionar – e precisam fazê-lo de fato, especialmente quando a cidade mais precisa.

ARTIGOS

Às portas do Judiciário - contratos bancários fraudulentos

Embora exista regulamentação para a contratação na modalidade à distância, por resolução do Banco Central, as instituições bancárias e financeiras, em geral, não adotam as diretrizes legais

13/12/2025 07h45

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Após as fraudes praticadas contra aposentados, pensionistas e beneficiários do INSS terem vindo à tona, cresceu enormemente o número de demandas judiciais que visam ao cancelamento de contratos de empréstimos, principalmente os realizados de forma virtual.

Embora exista regulamentação para a contratação na modalidade à distância, por resolução do Banco Central, as instituições bancárias e financeiras, em geral, não adotam as diretrizes legais, gerando contratos nulos por natureza, os quais acabam sendo invalidados judicialmente.

Tratando-se de situações que envolvem idosos, os atos abusivos praticados pelos bancos provocam, por força do Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003), maior reprimenda judicial, sendo passível de apuração não só no âmbito cível, como também no criminal, tendo em vista a proteção especial em razão da vulnerabilidade presumida.

Contudo, embora a regra seja clara, temos nos deparado com situações em que vítimas de fraudes têm sofrido não só com os descontos promovidos a título de parcelas mensais não contratadas, como de serviços não autorizados, que torna indigno o valor líquido das aposentadorias, benefícios ou pensões a receber.

Em boa hora, felizmente, o Judiciário tem determinado o cancelamento desses contratos, condenando as instituições que assim atuam não só à restituição dos valores ilegalmente descontados, mas ao pagamento da devida indenização por danos morais, decorrente da lesão causada aos direitos de personalidade, amplamente consagrados na Constituição Federal.

O que atordoa é o percurso que a vítima dessas situações percorre até o momento em que se livra de vez do infortúnio das cobranças.

É que, embora seja cabível, juridicamente, um pedido antecipado de decisão que suspenda os descontos que vão incidindo sobre o já tão comprometido valor a receber, nem sempre esse pleito é concedido ou o é de forma tardia, o que vai pondo a vítima dessas fraudes em situação financeira mais delicada.

O ideal seria que a regra fosse no sentido de se determinar judicialmente a suspensão imediata dos descontos ilegais, já que a parte mais vulnerável (que é sempre o consumidor) não dispõe de meios econômicos para reverter uma situação de miserabilidade a que pode chegar, diferentemente dos afortunados bancos.

No entanto, para que as tutelas judiciais provisórias sejam concedidas, exige-se o preenchimento de requisitos legais mínimos, previstos na Lei Processual Civil, quais sejam: probabilidade do direito; perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo; e reversibilidade dos efeitos da decisão.

Nos casos em que o banco não comprova a pactuação por contrato firmado ou quando a suposta contratação se deu de forma virtual, mas não se comprovou idoneidade da assinatura eletrônica, deve o negócio ser cancelado.

Caso haja comprovação de má-fé por parte do banco, impõe-se a restituição dos valores descontados em dobro. Não se comprovando, entretanto, o que é mais incomum, deve o valor ser restituído na modalidade simples, o que significa devolver somente o valor cobrado.

Para a condenação ao pagamento de indenização por danos morais, entretanto, não se exige nessas situações, por exemplo, que tenha havido negativação do nome da vítima nos serviços de proteção ao crédito, mas a própria má-fé já valida a condenação nesse sentido.

Ainda é árdua a luta dos que sofrem com esses abusos, todavia, a Defensoria Pública é uma forte aliada do consumidor, especialmente os mais vulneráveis.

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