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Ruy Sant’Anna: "Vida desalinhada, invasões indígenas e projeto 'Pró Jaca'"

Jornalista e advogado

Redação

16/09/2015 - 00h00
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As propostas ou ensaios sobre os desastres econômicos que assolam o país mais uma vez mostram onde está a doidera. O governo não acertou o discurso ao lançar propostas e ficou acuado diante de reações contrárias, política, econômica e populares. Há poucos dias Dilma teve que admitir a inviabilidade para recriar a CPMF quando bateu de frente contra empresários e aliados, só aí deu conta do estrago que faria. Dilma enviou para o Congresso o orçamento de 2016 com rombo recorde de mais de R$ 30 bilhões e tentou jogar sobre deputados e senadores a responsabilidade que é de seu desgoverno: diminuir despesas e adequá-las aos cofres públicos, sem aumento de mais impostos.

Além de IR e Cide, técnicos do governo Dilma também preparam propostas para a elevação do PIS/Cofins e do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e mais um imposto que, segundo se comenta, “seria provisório” sobre operações financeiras. Essas medidas desagradam à oposição ao Planalto porque aumentarão assustadoramente a inflação e estagnação econômica. O descrédito do que Dilma sempre propôs e não cumpriu, nos lembra que, sobretudo em países de governos austeros que propõe medidas econômicas, estas são cumpridas como palavra comprometida o que não acontece com a presidente Dilma.

O IR que Joaquim Levy diz que o Brasil tem o mais baixo, é apenas meia verdade porque em outros países com IR mais alto lá existem várias graduações entre faixas econômicas que beneficiam os contribuintes, além de que nesses países o contribuinte sabe onde e quando são aplicados os impostos que o governo recolhe.  Quando o ministro Joaquim Levy fala em IR quer que pareça que só pagamos o IR, e ele ainda fala em “se tivermos de pagar um pouco mais de imposto...” O Brasil tem uma carga maior de impostos indiretos, ou seja, embutidos nos produtos ou serviços do que países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Quem se der ao cuidado de ler as notas fiscais de supermercados verá que nas compras estão embutidos impostos com médias de 30% e 40%, além da energia elétrica, água, gasolina, gás, pedágios, taxas e contribuições etc. Na campanha de estelionato eleitoral, Dilma afirmou que não aumentaria impostos, não haveria desemprego nem inflação, e que isso só aconteceria caso a oposição ganhasse as eleições. O resultado está aí! Diante desse desgoverno, estão os produtores rurais de Mato Grosso do Sul que já tiveram 95 propriedades invadidas por indígenas que agem de maneira estranha do que faziam há pouco tempo. Os indígenas tinham nos produtores, vizinhos que se respeitavam e aguardavam cumprimento de palavra do governo que já prometeu comprar as terras reconhecidas de uso indígena. Antes, as terras foram vendidas ou doadas pelo governo federal aos produtores que trabalham e produzem bens de consumo para o mercado interno e esterno.

O governo parece ter interesse em demorar o máximo possível para comprar as terras sul-mato-grossenses reclamadas pela Funai. Uma situação é a definição legal e justa da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) a respeito das demarcações de terras indígenas que é conhecida: total respeito às decisões da Justiça, em todas as suas instâncias. Quer a paz no campo, o que só virá com segurança jurídica e respeito ao direito de propriedade. Falta o respeito à lei e às decisões da justiça pelo lado das invasões indígenas. Essas atitudes têm de ser desestimuladas e punidas, com invasores e coniventes arcando com as conseqüências de seus atos. É preciso evitar o exagero e o ativismo com que a Funai e outras entidades religiosas e Ongs tratam desse  assunto.

O que sofrem os produtores é humilhante e injusto. Com as novas ações indígenas, o número de propriedades rurais invadidas em Mato Grosso do Sul chegou a 95. A presidente e seus ministros da Fazenda e Planejamento dizem que “o governo está aberto ao diálogo”... Só se for o diálogo do pescoço brasileiro com a guilhotina do desgoverno. Pelo jeito, ministro Cardozo lançou em reunião aqui no MS o Projeto “Pró Jaca”; fruta enorme, com cheiro forte e de difícil digestão. E dê-lhe enrolação. Outra coisa: ruralistas não querem morte de ninguém, mas também não aceita a paz de cemitério físico nem de seus sonhos. Mesmo diante de tantos sofrimentos que o povo sofremos e os ruralistas enfrentam com fé em Deus e crença na Justiça lhes dou hoje bom dia, o meu bom dia pra vocês.

Editorial

O leito que falta: um problema de todos

O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos

17/05/2025 07h15

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É triste constatar que, em pleno 2025, Mato Grosso do Sul ainda não apresenta projetos consistentes para enfrentar a crescente escassez de leitos hospitalares na rede pública. Mais preocupante do que a ausência de iniciativas é a aparente indiferença de parte dos gestores públicos diante de um problema que, cedo ou tarde, afetará diretamente toda a população, inclusive quem hoje acredita estar protegido por planos de saúde privados.

A raiz da crise é complexa, mas há fatores evidentes e evitáveis. A baixa capacidade de investimento dos entes públicos tem um papel central, sem dúvida, mas não se pode ignorar o impacto desastroso da forma como são utilizadas as emendas parlamentares no orçamento da União. A lógica paroquial, que transforma recursos públicos em moedas de troca para atender interesses eleitorais locais, é corrosiva. Em vez de investimentos estruturantes na saúde, como a abertura de novos leitos hospitalares, o dinheiro é pulverizado em pequenas obras, compra de tratores ou projetos sem descrição clara. Atende-se a poucos, e mal.

Essa fragmentação do Orçamento revela uma distorção grave na nossa democracia representativa: a prioridade deixou de ser o bem público e passou a ser a manutenção de currais eleitorais. Enquanto isso, problemas estruturais se acumulam, sem resposta adequada. A saúde pública sente esse impacto de maneira particularmente dura. A cada novo surto, crise sanitária ou aumento de demanda, o sistema entra em colapso – não por falta de profissionais ou de capacidade técnica, mas por pura ausência de leitos disponíveis.

Campo Grande, a capital do Estado, é um retrato fiel dessa negligência. A reportagem que segue nesta edição revela o que aqueles que dependem do SUS já sabem de cor: há filas para internações, pacientes aguardando vagas em prontos-socorros superlotados e famílias angustiadas com a falta de uma estrutura minimamente adequada. E o pior: mesmo em um cenário tão crítico, as autoridades parecem pouco mobilizadas para reverter a situação.

A lógica do clientelismo que se impôs sobre a política brasileira cobra seu preço. Em vez de técnicos capacitados e compromissados com o planejamento de longo prazo, temos apadrinhados políticos ocupando cargos estratégicos. Em vez de projetos estruturantes, temos soluções paliativas – quando muito. Em vez de visão de Estado, temos cálculos eleitorais. O resultado é a perpetuação de problemas como a falta de leitos hospitalares, que compromete a vida e a dignidade de milhares de cidadãos.

É urgente que o debate sobre emendas parlamentares ganhe centralidade no debate público. O Brasil precisa rever profundamente a forma como distribui e fiscaliza o uso desses recursos. Não se trata de eliminar o instrumento, mas de transformá-lo em ferramenta de desenvolvimento real e equitativo. A saúde deve ser prioridade, e isso precisa estar refletido em cada decisão orçamentária.

É uma pena que, enquanto isso não acontece, o cidadão comum continue enfrentando corredores lotados, espera indefinida e sofrimento evitável. O leito que falta hoje pode ser o de qualquer um de nós amanhã. E, nesse ponto, o problema deixa de ser só do outro: é, e sempre foi, um problema de todos.

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Hierarquia em postos de trabalho: lutas e dilemas

16/05/2025 07h45

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As responsabilidades dos postos de trabalho são diversas e complexas e respondem a uma hierarquia estrutural das empresas. Recentemente, fiz mais uma entrevista em uma organização para uma vaga disponível e, mais uma vez, ofereceram-me uma colocação que não tinha nada a ver com a minha formação e experiência profissional. Era um posto de assistente administrativo, para atender, no balcão, as pessoas que necessitam de encaminhamento e orientação. Sendo psicóloga de formação, com pós-graduação em Psicoterapia de Orientação Analítica, encerrando mais uma em transtorno do espectro autista (TEA), e professora de Libras, me assustei com a completa invisibilidade do meu currículo para a empresa.

Para revidar esta proposta, perguntei à pessoa que estava me entrevistando se não havia uma vaga para a área de Psicologia. Percebi que o que eu estava perguntando era irreal para a empresa, porque este posto não é, em geral, ofertado para pessoas com deficiência (PCDs). Ainda que eu sonhe com esse posto, o mercado de trabalho não reserva esse espaço para mim. Existe somente uma compreensão: as organizações só empregam PCDs em razão da Lei de Cotas, artigo 93 da Lei nº 8.213/91, porém, não garantem a inclusão nem minimizam as discriminações.

Ter algum tipo de deficiência não pode anular a capacidade e as habilidades dos profissionais. Como podemos mostrar isso para a sociedade? Como podemos nos empoderar para enfrentarmos essas barreiras?

As dificuldades e os empecilhos da aceitação social da diversidade são marcas que vieram com a escravidão portuguesa, com as propagandas de governos sobre o branqueamento da população e com o apagamento de classes desfavorecidas. Os preconceitos se multiplicaram durante mais de dois séculos, e nos encontramos diante de uma batalha de titãs. Não podemos esmorecer. Temos de nos fortalecer por meio de cursos de formação, da divulgação de textos, de fazer com que as leis sejam cumpridas, criando associações, grupos de trabalho, grupos de estudos, entre outras atividades que possam nos legitimar como grupo social.

Podemos criar projetos e planos de carreira para desmantelar essa cultura empresarial de rejeitar a troca de saberes e conhecimentos na hierarquia dos postos de trabalho. Precisamos também garantir nosso lugar, para que possamos nos desenvolver e conseguir crescer junto com os demais funcionários. Não falo sozinha, pois, sempre que discuto com meus colegas nas redes sociais, vejo que eles e elas também se manifestam nesse sentido de não lhes darem oportunidade de avançar em suas carreiras profissionais.

Apesar de estarmos tão avançados nos meios de comunicação e nas tecnologias da informação, parece que os preconceitos não caminham paralelamente. Pelo contrário, parece que se acentuam. Ainda que aceitemos os tratamentos indevidos pelas empresas, precisamos combater as indiferenças, as humilhações e as dificuldades de relacionamento para alcançarmos vagas de trabalho condizentes com nossa formação e experiência profissional.

Menciono aqui as pessoas com autismo, que podem e devem trabalhar, pois sofrem de uma condição que não pode ser vista como uma deficiência. Trata-se de um transtorno do neurodesenvolvimento do indivíduo que interfere na capacidade de interação social, linguagem, comunicação e comportamento e que pode ser tratado por meio de terapias.

Atualmente, temos muitos diagnósticos de TEA tardios, pois o transtorno inclui uma variedade de características, mas, com acompanhamento especializado, são pessoas e profissionais capacitados para estudar e trabalhar.

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