Em economia, praticamente todos os entendimentos geram debates e controvérsias. Os consensos entre economistas são mais exceção do que regra. Isso ocorre porque a complexidade das relações socioeconômicas é permeada por contradições e efeitos muitas vezes imprevisíveis. No entanto, um ponto reúne quase um consenso: ambientes de incerteza são estruturalmente prejudiciais à atividade econômica.
O principal objetivo da economia é conseguir maximizar a alocação de recursos escassos para obtermos o maior nível de satisfação material possível. Uma das principais leis econômicas é a que estabelece que os agentes respondem a incentivos. Ou seja, ao se introduzirem medidas e ações caóticas no ambiente econômico, os agentes reagem, e essa reação pode gerar situações em que todos os envolvidos acabam sendo prejudicados.
As cadeias produtivas globais são hoje compostas por relações extremamente complexas entre diferentes agentes econômicos espalhados por diversas regiões do mundo. Para produzir um avião, um automóvel, um computador ou praticamente qualquer bem industrializado, é necessária uma rede coordenada de empresas e países funcionando de forma eficiente. Quanto mais harmonioso e previsível for esse ambiente, maior tende a ser a eficiência e a produtividade, o que se reflete em menores preços ao consumidor global.
Empresários precisam de confiança para investir; consumidores precisam de estabilidade para consumir. Ambos reagem negativamente quando o horizonte econômico se torna nebuloso. O risco, embora presente, pode ser gerido, mitigado ou transferido. A incerteza, por outro lado, é qualitativamente distinta: não pode ser quantificada nem neutralizada e, por isso, paralisa decisões, distorce mercados e reduz a eficiência sistêmica.
Nesse cenário, a economia global caminha para um ambiente de fragilidade crescente. As recentes decisões do governo norte-americano têm contribuído para um aumento significativo da incerteza internacional. O desmonte de acordos comerciais, a hostilidade retórica com aliados estratégicos e o questionamento das instituições multilaterais impõem riscos crescentes à estabilidade global.
Trata-se, nesse caso, de uma possível “vitória de Pirro”. Isto é, ainda que algumas dessas ações possam gerar ganhos políticos internos ou resultados comerciais pontuais, o custo sistêmico tende a superar possíveis benefícios imediatos. Ao comprometer cadeias de produção globais, elevar custos transacionais e minar a previsibilidade institucional, os Estados Unidos arriscam perder competitividade e protagonismo e, mais grave, arrastam consigo um sistema internacional baseado na cooperação.
Em um mundo cada vez mais interdependente, medidas unilaterais que introduzem incertezas no sistema econômico internacional não apenas prejudicam o comércio global, mas também minam a estabilidade e o crescimento das próprias economias que as promovem. Inclusive, e talvez sobretudo, os que acreditam ter vencido.



