O Brasil deve receber mais uma leva de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) em 2023. Entre 30 e 50 aves devem chegar ao país, vindas da Alemanha, como parte do projeto de reintrodução da espécie na caatinga brasileira, duas décadas depois de ser considerada extinta na natureza.
Segundo Camile Lugarini, coordenadora executiva do Plano de Ação Nacional (PAN) da Ararinha-Azul, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a ideia é que os animais cheguem ao Brasil já no próximo mês.
O primeiro grupo de 52 ararinhas-azuis chegou a Curaçá em 2020, procedentes de um criadouro alemão. Foi nesse município baiano que o governo brasileiro criou unidades de conservação ambiental para garantir a proteção e o habitat desses animais na natureza.
Ali também foi construído um enorme recinto de adaptação para que as ararinhas reaprendam a viver soltas. As primeiras oito aves foram reintroduzidas na natureza em junho deste ano. No último dia 10, foram soltas mais 12. A ideia é soltar 20 aves, por ano, nas próximas duas décadas.
Cerca de 30 ararinhas são mantidas no cativeiro, na sede do projeto em Curaçá, como reservas para a reintrodução e como reprodutoras.
Três filhotes já nasceram dentro do viveiro baiano e devem ser soltos na natureza, assim como devem ser libertados filhotes nascidos em um criadouro de Minas Gerais, a Fazenda Cachoeira.
No entanto, a principal fonte de animais para reintrodução continua sendo o criadouro alemão ACTP. Para a chegada dessa nova leva, vinda da Alemanha, os pesquisadores aguardam a liberação da vigilância agropecuária do Brasil devido a um surto de gripe aviária que atinge a Europa.
“Caso não seja possível trazer as aves em janeiro, a gente vai verificar se consegue, com os animais que nasceram aqui no Brasil, fazer uma soltura, porque uma coisa importante é o número de aves. Quanto maior o número no grupo, maiores são as chances de sucesso. Não adianta soltar uma ou duas, ou três ou quatro. Além de ter todo um critério, que leva em consideração a genética e a saúde, o número de animais também é fator importante”.
Na natureza, as ararinhas têm, como principal risco à sobrevivência, a existência de predadores. Das 20 ararinhas-azuis soltas, três foram mortas por aves de rapina. Há ainda o risco de dispersão para áreas onde os pesquisadores não conseguirão monitorá-las e da ameaça de sua captura por traficantes.
Três de 20 ararinhas-azuis soltas na Bahia foram mortas por predadores
Nem tudo, no entanto, é motivo para comemorar. Das 20 ararinhas já libertadas, três foram mortas por aves de rapina da região.
Duas delas são do primeiro grupo, solto em junho. A terceira foi morto poucos dias depois de ser libertada, em 10 de dezembro.
Um dos predadores foi identificado: o gavião-pernilongo (Geranospiza caerulescens). Duas espécies são suspeitas de provocar as outras mortes, o carcará (Caracara planus) e o falcão-de-coleira (Falco femoralis).
Apesar das perdas, Camile Lugarini, coordenadora executiva do Plano de Ação Nacional (PAN) da Ararinha-Azul, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), considera o projeto de soltura bem-sucedido até agora.
“Sabemos que os três primeiros meses após a soltura são os mais complicados. Na primeira soltura, a gente tinha uma meta de atingir 60% de sobrevivência nos seis primeiros meses, que foi alcançada. Agora, estamos monitorando intensivamente para atingir essa meta também”, explicou, acrescentando que a expectativa é que pelo menos 30% sobrevivam ao primeiro ano.
Além das três mortes, uma das ararinhas-azuis do primeiro grupo está desaparecida. Os pesquisadores não conseguiram localizá-la dentro dos limites das unidades de conservação criadas para receber a espécie.
“Esse desaparecimento foi em agosto. O método de ter alguma informação sobre ela é aumentar nosso raio de atuação com divulgação e comunicação, para abranger outras comunidades e verificar se ela está em outro lugar e não nas unidades de conservação”.