A Casa da Mulher Brasileira, espaço que reúne vários órgãos de proteção ao gênero feminino, como delegacia de Polícia Civil, grupos de assistência social, e também repartições do Poder Judiciário, completou cinco anos nesta terça-feira (3). Primeiro local com esta proposta de centralizar o combate à violência doméstica no Brasil, as autoridades que trabalham na casa, comemoram a redução dos índices de violência contra a mulher no ano passado, apesar de ainda haver muito por fazer.
De 2018 para 2019, conforme a delegada Fernanda Mendes, houve redução de 30% no total de crimes contra a mulher. Apesar de os dois primeiros dois meses do ano, com cinco mulheres assassinadas, ter se mostrado bastante desafiador.
Em 2019 foram 18.689 boletins de ocorrência de casos de crime contra mulher, no estado de Mato Grosso do Sul, sendo 8.086 registrados na Casa da Mulher Brasileira. Ainda segundo a delegada, o número de feminicídios consumados em MS se manteve estável no período de 2018 e 2019. Em 2018 houveram 32 casos registrados. Já em 2019, o número praticamente se manteve com 31 casos.
DONA DALVA
O dia de aniversário da Casa da Mulher Brasileira, a cinco dias do Dia Internacional da Mulher, foi mais um dia cotidiano do local, em que várias vítimas de violência procuraram as autoridades em busca de proteção contra seus agressores. É o caso de Dona Dalva (cujo nome verdadeiro será omitido, para proteger a vítima).
“Depois de 15 anos de casado começaram a acontecer algumas situações difíceis, onde comecei a sofrer humilhações, junto ao meu casal de filhos. Ficava cada vez mais difícil conciliar trabalho, família, igreja. Eu e meu ex-marido optamos pela separação, e depois essas situações de violência continuaram a acontecer com mais frequência, principalmente por ele não aceitar esse término. Acabei cedendo e voltando com ele, por causa do tempo de casamento, dos filhos. Continuamos tentando, mas de uma forma ou de outra, você precisa encarar uma nova vida, e enxergar que não vai dar certo. Começar a procurar uma nova situação para viver. Eu sofri abusos, humilhações, fui até cuspida no rosto”.
Depois de ver que o relacionamento não teria futuro, Dona Dalva resolveu procurar a Casa da Mulher Brasileira. “Aqui eu tive auxílio de pessoas capacitadas, de psicólogos, recebi todo ajuda, assistência social. Foi um primeiro passo que tomei e que depois eu não quis mais voltar atrás”.
Ao ver a possibilidade de uma nova vida, Dona Dalva diz que a maior dificuldade é pensar que não vai conseguir seguir a vida, e reforça o maior erro é voltar atrás na decisão e reatar com o agressor. “É difícil superar, porque temos amor na pessoa, acreditamos que pode dar certo. Mas quando você vê que dá para caminhar sozinha, você tem que dar esse passo e não voltar atrás. Porque é aí que acontece o feminicídio. É no voltar atrás. A mulher ela tem uma possibilidade grande de vencer sozinha, eu venci sozinha, eu formei meu filhos, entrei para uma faculdade e me formei, hoje eu sou design de moda, sou estilista”
Dona Dalva criou a sua própria história. O que fica de reflexão, é que por mais difícil que seja, é preciso dar esse primeiro passo, sair do relacionamento e não voltar. Acreditar que você tem a possibilidade de vencer, mesmo sozinha. “Eu cheguei aqui na Casa da Mulher Brasileira, com a cabeça baixa, humilhada. Sem saber pra onde ir, ou que caminho tomar. Hoje eu entro aqui com a cabeça levantada e feliz para ajudar as outras mulheres”. Tomemos a força e a luta de Dona Dalva como exemplo.
ANIVERSÁRIO
A cerimônia de aniversário da Casa da Mulher Brasileira (CMB) contou com a presença da Subsecretária Municipal de Políticas para a Mulher, Carla Stephanini. Ela explicou ao Correio do Estado que o local faz um longo trabalho. Começa na prevenção, com campanhas informativas, e vai até o atendimento especializado às mulheres que sofreram algum tipo de violência e estão em busca de ajuda.
Aberta em 2015, a Casa da Mulher Brasileira passou por várias mudanças e adaptações. Em 2017 houve uma reestruturação dos serviços. “Desde a abertura da Casa, mais de 70 mil mulheres já buscaram os nossos serviços. Por isso, nós aprimoramos e qualificamos todos os servidores da casa”. afirma Carla.
Ainda segundo Carla e reforçando a história de Dona Dalva, quando uma vítima chega à Casa da Mulher, ela é acolhida por uma assistência psicossocial. Ou seja, passa por análises com psicólogos e assistentes sociais. A vítima também responde um questionário, para que seja avaliado a gravidade do quadro apresentado e assim, o caso é encaminhado e assistido de forma correta e humanizada, dando todo suporte à vítima.