Cidades

AMAMBAI

Conflito entre indígenas e fazendeiros já dura nove anos

Comunidade guarani-kaiowá defende que as terras em disputa pertencem aos povos originários; Sejusp diz que ação policial foi empregada para coibir invasão

Continue lendo...

Os indígenas da etnia guarani-kaiowá justificam o conflito de Amambai, região de fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, como uma retomada das terras que pertencem aos povos originários. Do outro lado, policiais alegam que foram acionados – na ação que resultou na morte do indígena Vitor Fernandes, 42 anos –, para “coibir uma invasão”.

A situação de conflito entre os fazendeiros e povos indígenas na região ocorre desde 2013, conforme divulgado pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

O caso mais recente entre os policiais do Batalhão de Choque da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul e os indígenas começou na sexta-feira (24), e, além da morte de Vitor Fernandes, deixou pelo menos 10 feridos, sete indígenas e três policiais.

Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), na manhã do dia 24 de junho, fazendeiros da região e policiais militares “invadiram o território de Guapoy, em Amambai, no intuito de expulsar, por meio do uso da força, os indígenas – mesmo não havendo ordem judicial”.

Ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Cimi afirmou que “por causa da gravidade e da truculência do ataque”, os indígenas referem-se à situação como “massacre de Guapoy”.

Do outro lado, em coletiva de imprensa na sexta-feira, o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Antônio Carlos Videira, salientou que as forças policiais estaduais foram ao local do confronto para coibir crimes perpetrados por indígenas que ingressaram na sede da Fazenda Borda da Mata e expulsaram os moradores da casa existente no local à força.

“Não é uma desocupação e não é uma reintegração de posse. A Polícia Militar foi acionada para atender uma ocorrência grave de crimes contra o patrimônio e contra a vida. A exemplo do que fazemos em qualquer local com risco iminente de conflito. Porém, uma área próxima à aldeia”, informou Videira.

No entanto, segundo a Aty Guasu – Grande Assembleia Guarani e Kaiowá –, o ataque policial atingiu crianças, jovens, idosos e famílias “que decidiram, depois de muito esperar sem alcançar seu direito, retomar um território que sempre foi deles e que foi roubado no passado de nosso povo”, disse.

O governador Reinaldo Azambuja afirmou que a situação de conflito “envolvia pessoas que trabalham em lavouras de maconha no Paraguai, e que isso está sendo apurado”. O governador disse ainda, que toda vez que a Polícia Militar for acionada, ela será disponibilizada ao “cidadão de bem”.  

PRISÃO

Por meio da Defensoria Regional de Direitos Humanos da DPU em Mato Grosso do Sul e a Defensoria Pública do Estado (DPE-MS), três indígenas guarani-kaiowá que foram detidos na sexta-feira, em Amambai, conseguiram o relaxamento das prisões.

Em nota, a Defensoria relatou que entende que o caso é de interesse da coletividade indígena e o processo deveria correr na Justiça Federal, e não na Justiça Estadual, já que a demarcação de terras indígenas é de competência da União.

A Polícia Federal afirmou em nota que compete à PF “apenas garantir a integridade de comunidades indígenas, quando estas se encontrarem em risco”.

A DPU acionou, no sábado (25), a Rede de Direitos Humanos do Estado, composta de várias entidades, para acompanhamento e apuração dos fatos.

O Correio do Estado procurou a Polícia Militar para maiores esclarecimentos, no entanto, a assessoria da corporação disse que apenas a Sejusp poderia responder por qualquer questionamento sobre o conflito de Amambai.

A reportagem entrou em contato com a Pasta, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno. O espaço segue aberto para declarações.

PERÍCIA

O Ministério Público Federal (MPF) divulgou no domingo (26) despacho do procurador da república, Marcelo José da Silva, determinando em caráter de urgência que sejam tomadas providências em relação ao conflito entre indígenas e forças policiais em Amambai.

Conforme o documento, o MPF determina que seja feita uma perícia antropológica na retomada do Tekoha Guapoy para verificar a “eventual violação de direitos no local ou que seja a ele correlata ou conexa”, haja vista que não houve expedição de nenhum mandado judicial para a ação policial.

O ofício expedido à Secretaria de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul determina que todas as informações e documentações sobre a atuação das forças policiais estaduais no confronto com indígenas, entre os dias 23 e 24 de junho, sejam fornecidas ao Ministério Público Federal em um prazo de 72 horas, que termina hoje.

Além da Sejusp, o MPF solicitou informações das ações polícias Civil e Militar que atuam em Amambai, Ministério Público da Comarca de Amambai, Hospital Regional de Amambai, Clínica de Saúde Indígena (Casai) de Amambai, Instituto Médico Legal (IML) de Amambai, Coordenação Regional da Funai em Ponta Porã (MS) e unidade da Polícia Federal de Ponta Porã, órgãos e entidades envolvidas direta e indiretamente no conflito.

Conforme apurado pelo Correio do Estado junto a lideranças indígenas, a perícia do MPF que começou ontem já colheu depoimentos de vários integrantes da comunidade indígena.

“O pessoal que está na retomada das terras vai continuar lá até ser homologada a reinvindicação à posse da terra. Não vamos desistir”, afirmou um dos líderes indígenas consultados pela reportagem.  

DENÚNCIA

A Apib encaminhou à Organização das Nações Unidas (ONU), no dia 25 de junho, a denúncia “dos ataques contra as comunidades guarani-kaiowá realizados pela Polícia Militar do Mato Grosso do Sul”.

O documento que é destinado ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Relatoria Especial para os Direitos dos Povos Indígenas e os Peritos da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas relatam o conflito no Tekohá Kurupi/São Lucas, onde houve uma retomada localizada no macro território Dourados-Amambai Pegua II, a cerca de 14 km do município de Naviraí e na Comunidade Guapoy, no município de Amambai.

Para a Apib, os povos indígenas de Mato Grosso do Sul estão submetidos a sucessivas ameaças. “É imperioso lembrar que este fato não é isolado. A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul tem histórico de atuar, sem ordem judicial e sem observar as determinações legais, como verdadeira milícia privada dos fazendeiros da região”, reiterou.

Por meio das redes sociais, o advogado e coordenador jurídico da Apib, Luiz Eloy Terena, afirmou que a violência contra os povos indígenas só aumenta com a omissão do Supremo Tribunal Federal (STF) em julgar o marco temporal, retirado de pauta da votação no STF no dia 23 de junho.  

BORDA DA MATA

Do lado dos indígenas, os guarani-kaiowá buscam a demarcação da terra Guapoy que abrange 262 hectares da Fazenda Borda da Mata, imóvel que pertence à empresa VT Brasil Administração e Participação, controlada por Waldir Candido Torelli e seus três filhos, Waldir Junior, Rodrigo e um adolescente.

Conforme o portal de Olho nos Ruralistas, Waldir Torelli, que tem açougues em São Paulo e várias fazendas no Mato Grosso do Sul, moveu em 2018 ação de interdito proibitório contra a Fundação Nacional do Índio (Funai), a União e a “comunidade guarani-kaiowá”, alegando que os indígenas estariam “molestando sua posse no imóvel rural Fazenda Borda da Mata”.

Na época, a União alegou que não havia provas. O juiz da 1ª Vara de Ponta Porã decidiu então, em julho daquele ano, que o pedido era improcedente. Um dos imóveis da família de Waldir, a Fazenda Isla-Caiguê, já foi alvo de um inquérito civil impetrado pelo Ministério Público do Mato Grosso do Sul (MPMS) em 2017 para apurar denúncias da Operação Cachorro-Vinagre a respeito de exploração ilegal de madeira.

No entanto, o processo foi arquivado no ano seguinte, após assinatura de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Torelli já configurou como réu denunciado na Operação Jurupari, em Mato Grosso, que investigava formação de quadrilha, desmatamento ilegal e furto de madeiras. É estimado que o prejuízo foi de R$ 900 milhões.

Alvo de disputas territoriais, a Fazenda Borda da Mata foi adquirida pelo grupo em 2009, por R$ 1,8 milhão. Entretanto, a Agropecuária Fagotti, de Londrina (PR), pede a averbação do imóvel em razão de uma dívida de R$ 4,1 milhões da VT Brasil. (Colaborou Naiara Camargo e Patrícia Dapper)

SAIBA

A perícia antropológica do Ministério Público Federal (MPF) para apurar “eventual violação de direitos no local ou que seja a ele correlata ou conexa”, em Amambai, que começou ontem, deve seguir na fazenda Borda da Mata até o dia 1º de julho. 

OPORTUNIDADE

Com salários de até R$ 23 mil, prefeitura de MS abre inscrições para concurso

Há oportunidade em diversas especialidades como enfermeiro, médico, cozinheira, motorista e outras

14/12/2025 14h30

Há oportunidade em diversas especialidades como enfermeiro, médico, cozinheira, motorista e outras

Há oportunidade em diversas especialidades como enfermeiro, médico, cozinheira, motorista e outras Governo de MS

Continue Lendo...

A Prefeitura de Paraíso das Águas, município localizado a 277 quilômetros de Campo Grande, abriu inscrições para um novo concurso público com vagas para todos os níveis de escolaridade e salários que chegam a R$ 23.557,03. O certame prevê a contratação de servidores efetivos, além da formação de cadastro reserva, sob o regime estatutário.

As inscrições começam às 8h deste sábado (13) e seguem até 15 de janeiro de 2026, exclusivamente pela internet, por meio do site da Fundação FAFIPA, banca responsável pela organização do concurso.

Ao todo, o edital contempla dezenas de cargos distribuídos entre a sede do município e os distritos de Bela Alvorada e Pouso Alto, com oportunidades para níveis elementar, fundamental, médio, técnico, magistério e superior. As jornadas de trabalho variam entre 20 e 40 horas semanais, conforme a função.

O maior salário ofertado é para o cargo de médico clínico geral, com remuneração de R$ 23.557,03 para carga horária de 40 horas. Também há vagas atrativas para cargos de nível superior, como engenheiro civil, arquiteto e cirurgião-dentista, com salários que ultrapassam R$ 8,5 mil.

Cargos e salários

Entre as oportunidades disponíveis estão funções nas áreas da saúde, educação, administração, fiscalização e serviços operacionais. Há vagas para enfermeiro, psicólogo, assistente social, farmacêutico, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, agente comunitário de saúde, técnico em enfermagem, além de professores de educação infantil, anos iniciais e disciplinas específicas como português, matemática, inglês, história, artes e educação física.

O edital também contempla cargos como agente de fiscalização, analista de informática, inspetor de alunos, recepcionista, motorista, operador de máquinas, auxiliar de administração, auxiliar de serviços gerais, zelador, cozinheira e trabalhador braçal, entre outros.

Os salários iniciais variam de R$ 1.664,03 a R$ 23.557,03, conforme o cargo, escolaridade exigida e carga horária semanal. As taxas de inscrição foram fixadas em R$ 90 para cargos de nível elementar e fundamental, R$ 115 para nível médio e técnico, e R$ 145 para magistério e nível superior.

Provas

O concurso público será composto por prova objetiva para todos os cargos, de caráter eliminatório e classificatório. Dependendo da função escolhida, os candidatos também poderão ser submetidos a prova discursiva, prova prática e avaliação de títulos.

A prova discursiva será aplicada para cargos como agente de fiscalização, assistente social, agentes da área da saúde, cargos administrativos e professores. Já a prova prática será exigida para funções operacionais, como motoristas, operadores de máquinas, mecânico, técnico em informática e alguns cargos administrativos.

A prova de títulos, de caráter exclusivamente classificatório, será destinada a todos os cargos, conforme os critérios estabelecidos no edital. O conteúdo programático e o cronograma completo das etapas estão disponíveis no documento publicado pela banca organizadora.

A convocação dos aprovados ocorrerá conforme a necessidade da administração municipal, respeitando rigorosamente a ordem de classificação final.

Inscrições e isenção

As inscrições devem ser feitas exclusivamente pela internet, no site www.fundacaofafipa.org.br, até 15 de janeiro de 2026. O pagamento da taxa de inscrição poderá ser efetuado até 16 de janeiro, respeitando o horário de compensação bancária.

O edital prevê isenção da taxa de inscrição para candidatos inscritos no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico), com renda familiar per capita de até meio salário mínimo, e também para doadores de medula óssea, conforme a legislação federal. O prazo para solicitação de isenção vai de 13 a 23 de dezembro.

Reserva de vagas

O concurso reserva 5% das vagas para pessoas com deficiência, além de cotas para pretos e pardos (25%), indígenas (3%) e quilombolas (2%), conforme previsto em lei. Os candidatos que optarem pelas vagas reservadas concorrem simultaneamente às vagas da ampla concorrência.

O concurso público terá validade de dois anos, a contar da homologação do resultado final, podendo ser prorrogado por igual período, a critério da prefeitura.

Todas as informações detalhadas, incluindo atribuições dos cargos, conteúdos das provas e cronograma, estão disponíveis no edital publicado no site da banca organizadora.

Assine o Correio do Estado

POLÍCIA

Após 20 anos, homem que tentou matar a esposa é preso em MS

O suspeito, de 49 anos, era foragido da Justiça de Minas Gerais e havia cometido o crime em 2006

14/12/2025 14h00

 A SIG de Três Lagoas recebeu a solicitação de apoio da Polícia Civil de Minas Gerais, para o cumprimento do mandado, com informações sobre a possível localização do foragido

A SIG de Três Lagoas recebeu a solicitação de apoio da Polícia Civil de Minas Gerais, para o cumprimento do mandado, com informações sobre a possível localização do foragido Reprodução: Polícia Civil

Continue Lendo...

Na última sexta-feira (12), um homem, de 49 anos de idade, condenado pela tentativa de homicídio qualificado contra a própria esposa, e foragido da Justiça de Minas Gerais há mais de 20 anos, foi preso pelos agentes da Seção de Investigação Geral (SIG) e do Núcleo Regional de Inteligência (NRI) de Três Lagoas.

O crime ocorreu em 2006, na cidade de Turmalina, interior do estado mineiro, quando o indivíduo, motivado por ciúmes, teria tentado matar a companheira com golpes de madeira, agindo em condições que dificultou a sua defesa.

Após o ataque, ele fugiu de Minas Gerais e, segundo as investigações, estava vivendo foragido há cerca de 10 anos em Três Lagoas.

Após ser regularmente processado, foi condenado a uma pena de quase seis anos de reclusão, em regime fechado.

Na manhã de sexta-feira (12), a SIG de Três Lagoas recebeu a solicitação de apoio da Polícia Civil de Minas Gerais, para o cumprimento do mandado de prisão, com informações sobre a possível localização do foragido.

Após diligências, o homem foi localizado em uma residência no bairro Jardim das Oliveiras, onde foi preso e conduzido até a sede da SIG, onde houve o cumprimento formal do mandado de prisão.

Em seguida, após passar por exame de corpo de delito, o condenado foi encaminhado às celas da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (DEPAC), onde permanecerá aguardando recambiamento para o estado de Minas Gerais.

Assine o Correio do Estado

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail [email protected] na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).