Dois assassinatos na noite passada em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com a brasileira Ponta Porã, interromperam uma longa trégua na guerra entre grupos criminosos na região.
No primeiro crime, Paulo Benites Velasquez, de 45 anos foi morto a com tiros de fuzil. O brasileiro, sobre o qual nem mesmo as autoridades da região tem informações, circulava de caminhonete na linha de fronteira, próximo ao Shopping China, quando ocupantes de outro veículo fizeram dezenas de disparos de pistola e fuzil.
Ele ainda conseguiu dirigir por alguns metros, mas capotou o veículo logo em seguida. Chegou a ser levado ao hospital San Lucas, mas acabou morrendo antes mesmo de ser submetido a cirurgia.
Os autores dos disparos, segundo a polícia paraguaia, abandonaram o veículo usando na execução e desapareceram no país vizinho. Até a manhã deste sábado (10) não haviam sido identificados.
Na segunda execução, a vítima foi o paraguaio Rafael Trinidad Sánches, de 33 anos. Ele foi morto com 11 tiros de pistola durante uma festa de aniversário, após uma discussão. A princípio, a polícia paraguaia trata o caso como "crime comum".
Contudo, pela grande quantidade de tiros e pelo fato de ninguém ter repassado informações sobre o assassino, os investigadores admitem a possibilidade de que tenha sido crime encomendado. Mas, a princípio, a polícia descarta a hipótese de ligação entre as duas execuções.
Até os últimos meses do ano passado, atentados semelhantes a esses faziam parte da rotina da região de fronteira. Neste ano, porém, os crimes de pistolagem praticamente desapareceram do noticiário, tanto das cidades gêmeas de Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, quanto de outras cidades da região, como Coronel Sapucaia, Paranhos Sete Quedas e Bela Vista.
De acordo com dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), enquanto que os homicídios dolosos tiveram redução de 4,8% nos primeiros cinco meses do ano em todo o Estado, na região de fronteira a redução chegou a 13,3%. Isso significa que foram registrados cerca de 25 homicídios a menos neste ano que em igual período de 2022 na região.
Além disso, nas cidades fronteiriças, os roubos e furtos de veículos recuaram 38% e 17%, respectivmente, os roubos em geral caíram 17,6%.
Conforme o diretor do Departamento de Operações de Fronteira (DOF), coronel Everson Antonio Rozeni, as ações voltadas à repressão ao tráfico, contrabando e crimes contra o patrimônio, contribuíram para a redução da criminalidade na região de fronteira. "Aqui na região de fronteira estamos realizando as operações DOF em Ação pontualmente nas localidades onde identificamos maior número de ocorrências, o que acabou resultando nesses números positivos", acredita.
A redução no número de homicídios só não é mais expressiva porque a maior parte das execuções era registrada do lado paraguaio da fronteira, o que não é computado pela Sejusp.
Em média, nos cinco primeiros meses do ano passado, duas pessoas eram assassinadas a cada três dias somente em Pedro Juan e Ponta Porã, conforme o secretário de Segurança Pública de Ponta Porã, Marcelino Nunes.
Em entrevista concedida ao Correio do Estado no dia 11 de maio, Marcelino Nunes afirmou que fazia meses que não havia registro de confronto entre facções rivais pelo controle do tráfico de drogas, de armas e pelo contrabando. Porém, deixou claro que a qualquer momento tudo poderia mudar.
Neste sábado, Marcelino mostrou-se cauteloso ao falar sobre o fuzilamento do ocupante da caminhonete. "Tinha diminuído bastante estes crimes aqui. Sobre o caso de ontem ainda existe muito pouca informação. Mas você sabe que na fronteira nada acontece por acaso. Não tem um vídeo, não tem a foto desse cidadão. Então, a gente está aguardando para saber o que está em jogo", limitou-se a comentar.
A guerra aumentou principalmente depois do assassinato de Jorge Rafat, em junho de 2016. Ele era apontado como chefe do crime organizado na fronteira. Depois disso, facções rivais abriram disputa sangrenta pelo controle da região.
Agora, nenhuma autoridade da segurança pública admite a possibilidade de um novo "poderoso chefão" ter colocado ordem na casa. Tanto as políciais paraguaias quanto as brasileiras atribuem a calmaria ao reforço no policiamento.