Das 23 obras paradas em Campo Grande, a maioria foi paralisada por rescisão de contrato, e os dois fatores principais para o fim dos acordos são o atraso de pagamento e o aumento do preço dos materiais de construção durante a pandemia.
De acordo com as empresas do segmento, o reequilíbrio foi tentado, mas a Prefeitura de Campo Grande afirmou que não podia reajustar os valores.
O Correio do Estado entrou em contato com as empreiteiras responsáveis por obras de infraestrutura, saúde, transporte e lazer para saber os motivos da não conclusão das intervenções. De 11 empresas, apenas cinco enviaram suas justificativas.
Boa parte das empreiteiras está com contratos rescindidos com a prefeitura. No entanto, no portal de obras do Executivo municipal ainda consta o nome da maioria delas como responsáveis pelas intervenções.
A assessoria da Prefeitura de Campo Grande informou, por meio de nota, que “a atual gestão está fazendo um diagnóstico e buscando soluções, elencando as prioridades para que [as obras paradas] sejam retomadas, solucionadas e resolvidas”.
ASSISTÊNCIA SOCIAL
Na área de assistência social, sete obras estão inacabadas, todas de responsabilidade da mesma empresa, a MDP Construção Civil Eireli.
O Correio do Estado entrou em contato com a empresa, e o dono, que não quis se identificar, informou que todas as construções tiveram os contratos rescindidos.
As obras deixadas pela metade eram de reforma e readequação de Centros de Referência da Assistência Social (Cras) nos bairros Vida Nova, Vila Gaúcha, Jardim Botafogo, Jardim Canguru, Jardim Zé Pereira, Guanandi e Vila Popular – apenas nos dois primeiros citados consta a informação no site de obras de que as reformas estão canceladas.
De acordo com o dono da MDP Construção Civil Eireli, o motivo da rescisão foi o aumento dos preços dos materiais, mas ele não quis comentar o assunto, pois tem outras obras em vigência com a prefeitura.
As intervenções nos Cras foram divididas em “A” e “B”. As reformas da etapa A foram iniciadas em junho de 2020, segundo o site de obras da prefeitura, e o valor total para os reparos foi orçado em R$ 510.984,13, tendo sido executados R$ 205.886,55 deste montante.
Já na etapa B o investimento foi de R$ 27.205,68 do valor total contratado pelas obras, que foi de R$ 452.537,44.
A execução das reformas tinha prazo de cinco a seis meses. Não há informações sobre o que será feito nos locais.
TRANSPORTES
No setor de transporte, a GTA Projetos e Construções informou em novembro de 2022, ao Correio do Estado, a rescisão do contrato para as obras do corredor de ônibus da Avenida Calógeras. Segundo a empresa, a Prefeitura de Campo Grande havia atrasado o pagamento por diversos meses.
A empreiteira LT Construções e Comércio está como responsável pela obra de instalação dos novos pontos de ônibus da Avenida Bandeirantes e da Rua Bahia, mas a reportagem não conseguiu contato para saber o motivo da paralisação.
A empresa também venceu a licitação para obras nas ruas Guia Lopes e Brilhante, que foram entregues. O valor total da intervenção está previsto em R$ 942.908,41, mas o já executado não está disponível no portal da prefeitura. As obras foram iniciadas em 2020, mas até o momento não foram finalizadas.
A empresa responsável pelo corredor de ônibus da Avenida Marechal Deodoro, a Engepar Engenharia e Participações, não retornou o contato da reportagem do Correio do Estado. Entretanto, já executou R$ 7.091.214,67 do valor total da obra, que é de R$ 13.006.594,32.
A antiga empresa responsável pelas reformas dos terminais de ônibus General Osório, Nova Bahia e Hércules Maymone, a Trevo Engenharia, informou na época da desistência que o motivo foi o aumento dos preços. Até o momento, não há informações sobre a relicitação das reformas.
INFRAESTRUTURA
De acordo com o site de obras da prefeitura, a empresa responsável pela revitalização e controle de enchente do Rio Anhanduí, na Avenida Ernesto Geisel, é a Dreno Construções.
No entanto, em junho do ano passado, o ex-titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos (Sisep), Rudi Fiorese, informou que a obra deveria ser relicitada ainda em 2022, o que não aconteceu.
Em contato com a empresa, a reportagem foi informada que o responsável não estava no local. De R$ 15.832.524,99 do valor total da intervenção – do lote entre as ruas Bom Sucesso e do Aquário –, R$ 8.119.797,03 já foram executados.
A outra etapa paralisada, entre as ruas Abolição e Bom Sucesso, estava orçada em R$ 25.730.013,43 e teve a execução de R$ 15.104.639,42.
A empresa responsável pelas etapas C (lote 1) e D das obras de pavimentação do Bairro Nova Lima, a GTA Projetos e Construções, informou que pediu a rescisão de contrato em função dos atrasos de pagamento do Executivo.
O investimento realizado para o início das obras da etapa C (lote 1) foi de R$ 4.189.611,76, de um valor total de R$ 20.516.321,02, o que corresponde a 20% do total a ser executado.
Já na etapa D, essa porcentagem é ainda menor, de apenas 2%, já tendo sido investidos R$ 330.852,59, do valor integral de R$ 11.455.706,87.
O Correio do Estado não conseguiu informações sobre a empresa responsável pela obra de controle da erosão em frente ao presídio da Gameleira.
LAZER
A Gimenez Engenharia, responsável pela reforma da piscina e do complexo do Parque Jacques da Luz, informou que rescindiu contrato.
A empresa solicitou o reequilíbrio de contas, em função do aumento de preços causado pela pandemia de Covid-19, mas a prefeitura disse que não podia realizar o reajuste.
A reforma foi iniciada em 2019 e R$ 411.181,84 já foram utilizados, do valor total de R$ 961.999,58 destinado para a obra.
A CW Engenharia informou que também rescindiu o contrato de construção do estádio de beisebol na Associação Campo-Grandense de Beisebol em razão do aumento dos preços dos insumos.
A CW Engenharia tinha um contrato de R$ 221.171,61 para a realização da obra, que foi relicitada com o valor de R$ 686,9 mil, mas ainda não foi reiniciada. A empresa JN Construtora teve a proposta vencedora, mas a reportagem não conseguiu contato com para saber o motivo da demora no início da obra.
A Paragon Engenharia ainda é a responsável pela Praça do Guanandi. Entretanto, o responsável pela empresa, Guilherme Vit, informou que a obra está parada por atrasos de realinhamento, reajuste e reprogramação desde dezembro de 2021, mas a empreiteira ainda está tentando diálogo com a prefeitura.
Do total de R$ 664.626,79 previstos para a obra, R$ 183.444,44 já foram utilizados.
O número de telefone disponível da empresa DT3 Construções está errado. A empresa é listada como responsável pela revitalização do Horto Florestal, de acordo com o site de obras da prefeitura. O valor executado para a reforma do local foi de R$ 550.091,22, do total de R$ 819.312,15.
A empresa responsável pela reforma do Parque Nascente do Sóter, LT Construções e Comércio Ltda., não foi encontrada. No local, já foram executados R$ 526.981,52, do total de R$ 774.273,00 para a realização da obra.
A MRL Comércio de Materiais Elétricos e Serviços, responsável pelas obras de reforma e readequação para acessibilidade da Orla Morena, não foi encontrada. Do total de R$ 463.148,35 previstos em contrato, R$ 264.682,18 já foram executados.
Saiba: Obras da Educação - Das sete empresas responsáveis por 13 obras da Educação, apenas uma informou o motivo da rescisão de contrato.
A Gomes e Azevedo disse à reportagem que a prefeitura atrasou seis meses de pagamento, o que motivou a empreiteira a abandonar a obra da escola municipal da Vila Nathália.
Outras duas empresas responsáveis por obras no setor, a Selco e a Coletto Engenharia, estão atualmente inaptas pela Receita Federal, ambas por omissão de dados, e não quiserem falar.
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